25 de maio: dia da indústria
Na disciplina de economia houve uma resistência em reconhecer a atividade fabril como produtora de valor. Os chamados “fisiocratas” entendiam que só a agricultura gerava valor, pois havia a materialização de algo novo, enquanto que, segundo eles, na indústria só ocorria mera transformação. Como o tempo é senhor da razão, foi ele que mostrou que […]
Por Israel Minikovsky 16 min de leitura
Na disciplina de economia houve uma resistência em reconhecer a atividade fabril como produtora de valor. Os chamados “fisiocratas” entendiam que só a agricultura gerava valor, pois havia a materialização de algo novo, enquanto que, segundo eles, na indústria só ocorria mera transformação. Como o tempo é senhor da razão, foi ele que mostrou que a indústria traz consigo o poder de produzir valor. E Marx mostraria, como e por que, ocorre a tal produção de valor econômico. Com efeito, a Revolução Industrial foi a grande onda após a Revolução Agrícola. Com o desenvolvimento das forças produtivas, o que também foi previsto pelo já citado autor alemão, a indústria viu reduzir sua função social de grande empregadora. A tecnologia depende cada vez menos de auxílio humano externo, o que se acentua com a robotização. Entretanto, isto não serve de pretexto para que minoremos a relevância da atividade industrial, na sociedade contemporânea. Existe um entendimento equivocado de que os movimentos sindicais e políticos de esquerda colimam desarticular a indústria. Longe disso! O que ocorre é que, o capital corporificado nos meios de produção, estabelece uma posição de privilégio aos seus donos, sobretudo em rodadas de negociação, com a força de trabalho remanescente. Do ponto de vista histórico, a atividade fabril exibe o mérito de ter sido a protagonista do movimento de acumulação, que possibilitou o desenvolvimento de diferentes atividades econômicas, de perfil diferente do inicial. E, assim como os braços humanos foram liberados da agricultura pela máquina, algo idêntico ocorreu em relação ao chão de fábrica. Então, os trabalhadores liberados, por força de lógica ou necessidade de subsistência, deveram procurar outros meios de vida. Sabemos da importância da indústria para a região sul do país, e para a nossa São Bento do Sul. Trate-se de uma processadora de aço, ou de uma fabriqueta de móveis, o fato é que a indústria se faz caracterizar por uma materialidade e por um processo de produção/transformação, que nem sempre são vistos em outros modelos de atividade econômica. Os teóricos das ciências sociais partilham o consenso de que o trabalho humano global deu uma guinada: trabalhamos agora mais com informação do que com coisas materiais. Mas apesar de óbvio, insta recordar que computadores, itens eletrônicos em geral, e a base física que torna a internet operacionalizável são oriundos de processos fabris. O próprio robô, que substitui trabalhadores humanos, é fruto das entranhas de outra máquina. Dentro do pátio da fábrica nascem duas grandes visões de mundo: a capitalista, encabeçada pelo empresário, e a socialista, identificada com a figura do trabalhador. Acumular ou repartir? Não se trata da concorrência entre a organização e a desorganização, mas de duas propostas diferentes de organização. Não existe atividade econômica, ou modelo de organização do trabalho, fora de contexto. Alguém paga, alguém trabalha, alguém consome, alguém arrecada. A quem compete gerir o conjunto de instrumentos que medeia a ação do ser humano sobre a natureza? É coerente atribuir ao cidadão privado a realização de uma atividade de interesse público e coletivo? Prefiro articular as perguntas, sem dar as respostas. Porque toda reflexão principia pela dúvida, e não pela certeza. A teoria crítica pecou por subestimar o papel da cultura na transformação do mundo. É necessário criar uma cultura que contemple, a um só tempo e com idêntico grau de merecimento, o empreendedorismo, de um lado, e a economia participativa, por outro. E, para que isso aconteça, é fundamental que o trabalhador deixe de ser um executor de movimentos mecânicos repetitivos, e traga para perto de si o exercício de atos de gestão e administração. A alienação, a que Marx se referia em seu manuscrito de 1844, consistia nesse distanciamento mental do trabalhador em relação ao seu objeto de intervenção. A ideia de que cada cidadão deve ser um agente econômico é boa, mas se ela não for moldada à luz de valores ecológicos e sociais, ficará restrita a um aspecto do problema. E é exatamente por tal razão que a humanidade tem assistido a isto: as soluções de ontem, são os problemas de hoje. Motivo pelo qual, em hipótese alguma, podemos nos dar o luxo da parcialidade. Luz!