40 anos do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi fundado em 1984. Portanto, ainda o ponto de referência político e social era a ditadura civil-militar do Brasil. O primeiro grande encontro ocorreu em 1985, em Cascavel, Paraná. Esse movimento social é consequência necessária e inevitável do próprio modo de produção capitalista. Com o emprego de novas […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foi fundado em 1984. Portanto, ainda o ponto de referência político e social era a ditadura civil-militar do Brasil. O primeiro grande encontro ocorreu em 1985, em Cascavel, Paraná. Esse movimento social é consequência necessária e inevitável do próprio modo de produção capitalista. Com o emprego de novas tecnologias no campo, o modelo familiar de agricultura de subsistência não consegue sobreviver ao lado do agronegócio. O êxodo rural empurra o camponês para o subúrbio das cidades, onde, se tiver sorte, fará os trabalhos menos remunerados, seja na indústria ou outra área de atividade. Todavia, esse caminho não é certeiro. Em chegando à cidade, pode se deparar com o desemprego e a favelização, não podendo nem permanecer no espaço urbano, e nem regressar ao campo, cuja posse já não mais detém. Assim, o MST representa a aporia social, a falta de saída existencial. Em locais ermos do país, o colono pode ser esbulhado de suas posses, tal como Marx descreve em O Capital, no capítulo sobre a Acumulação Primitiva, sem ter quem lhe faça justiça, dada a fraca presença do Estado e a falta de recursos financeiros para fazer valer seus direitos. O endividamento do homem do campo é uma realidade. Sempre que, por alguma razão, desde pragas a intempéries atmosféricas, a colheita fica aquém do esperado, se vê premido a contrair empréstimos, para aquisição de sementes, adubos ou agrotóxicos, que se tornam uma bola de neve, na prática, não passíveis de quitação. Toda questão social é complexa. A viabilidade econômica é a condição sine qua non para a fixação definitiva da família ao espaço rural. Então, para chegar ao patamar mínimo de competitividade, os trabalhadores rurais assentados terão que praticar outro modelo concebido para a promoção do desenvolvimento social, o cooperativismo. Isto significa que, uma comunidade contemplada com a Reforma Agrária já perpetrada, terá de contar com um grupo de gestores capazes de exercer aquele papel mais propriamente administrativo ou empresarial. Nenhum dos elos da corrente pode ser rompido, sob pena de se pôr tudo a perder. Ter um lote para cultivar é um começo. Não obstante, todo produtor, inclusive o produtor cujo perfil coincida com aquele dos assentados, só logra êxito à medida que consegue integrar-se à economia global que, de certo modo, ele combate ideologicamente. É inegável que a unidade rural familiar movimenta a economia. Até porque essa unidade de produção vende produtos de consumo imediato ou semi-imediato. No Brasil e em outros países periféricos, não raro, o que se vê é isto: trabalhadores rurais sem terra e sem meios de produção, impedidos de produzir alimentos, de um lado, e, de outro, pessoas passando fome ou se alimentando mal. Não resta a menor dúvida de que, num cenário como este, cabe ao Estado contemplar ambas as demandas, proporcionando condições de trabalho ao pequeno agricultor, canalizando esta produção para a satisfação de quem padece com a falta de recursos alimentares. Recentemente, foi entabulado um convênio com o governo chinês, mediante o qual equipamentos agrícolas serão colocados ao alcance do agricultor, a baixos preços, aprimorando e baixando custos dos processos de produção. Ninguém se engane, imaginando que o MST defende uma bandeira ultrapassada ou anacrônica. O homem do campo ainda tem valor, ele pode contribuir em muito para o progresso da nação. Discutir a ideologia do MST é discutir êxodo rural, capitalismo, democracia, justiça social, economia, direito agrário e ambiental. O MST é o exato oposto da monocultura e do latifúndio. Ele reivindica não só o direito à existência do trabalhador rural, despojado da terra, mas, para além disso, defende a função social da propriedade do solo e a otimização dos recursos naturais. É interesse estratégico do país que não haja áreas super-habitadas, por um ângulo, e, noutra perspectiva, desérticas ou semidesérticas. Destarte, a reforma agrária pode ser uma ferramenta poderosa na distribuição uniforme da presença antrópica sobre um dado território. Há 40 anos o MST vem sendo luz!