A disputa pela atenção
Ninguém consegue nada de você, seja seu afeto, seja seu dinheiro, seu voto ou seu voluntariado, sem antes, cativar a sua atenção. Nunca antes tivemos os meios técnicos para difundir ou acirrar esta disputa. Agora, porém, tudo é novo. Os meios tradicionais que realizavam estas estratégias estão se vendo relativizados. Todo cidadão comum, basicamente, agora, […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
Ninguém consegue nada de você, seja seu afeto, seja seu dinheiro, seu voto ou seu voluntariado, sem antes, cativar a sua atenção. Nunca antes tivemos os meios técnicos para difundir ou acirrar esta disputa. Agora, porém, tudo é novo. Os meios tradicionais que realizavam estas estratégias estão se vendo relativizados. Todo cidadão comum, basicamente, agora, precisa ser um gestor de informações. Porque o volume com que elas se nos sobrepõem é assustador. Todas as atividades humanas foram afetadas pela sociedade da informação. Entretanto, sem dúvida, a atividade mais impactada foi a de comunicação social, propriamente dita. Outra atividade afetada foi a do ramo de cultura. Nunca foi fácil tornar-se um grande escritor. Num primeiro momento, pela dificuldade de propagar o próprio trabalho, refiro-me aqui especificamente ao livro, por exemplo, e agora, pela dificuldade de se destacar em relação a outros autores, que da mesma forma, se empenham por uma boa colocação social. No passado, era difícil levar a informação ao cidadão de que uma determinada opção existia, sendo que, no presente momento, é custoso convencer que a obra da sua autoria é a melhor opção. Outra mudança na produção de conteúdo cultural é que as empresas da área visam, em primeiro lugar, lucro. Isto significa que as iniciativas culturais melhor sucedidas financeiramente, são aquelas que ofertam mais do mesmo. Nas novelas, nas minisséries e nos filmes, os problemas a serem “resolvidos” estão se tornando exatamente os mesmos. Estamos nos aproximando de um “enredo-padrão”. Por conseguinte, vejo que, ante este contexto, a forma de encontrar uma saída a isto tudo que está posto, é produzir material de elevada qualidade conceitual. É evidente que, do jeito que a esfera da cultura está, poucos ou raros serão seus leitores. No entanto, o produtor de conteúdo de alto valor conceitual preocupa-se mais em ter leitores ou seguidores de qualidade, preterindo o afeto das massas, enviesadas mais por emoções do que por bons pensamentos. Os teóricos da Escola de Frankfurt preocupavam-se com a “decadência da audição”. Ora, não é apenas a percepção auditiva a afetada. O que fica comprometido é não só a percepção, senão em maior medida aquilo que a sucede, o conceito, a categoria. O ideal estético está a retrair. Se o belo é um determinado ponto situado num segmento de reta entre o ideal e o empírico, ao que parece, esse ponto está se deslocando no sentido de aproximar-se do empírico e distar do ideal. A sociedade deu uma guinada do industrial para o informacional, mas o império da quantidade é o que define as posições de dinheiro, poder e status. Importam quantos seguidores você tem, quantas vezes sua plataforma foi visualizada. A lógica numérica nos permite compreender os movimentos da história. Radicaliza-se na Europa com a Reforma Protestante, e Roma contra-ataca com movimentos missionários por todos os cantos do planeta para repor os fiéis perdidos. Eu penso que a própria filosofia se encontra nesse princípio mandamental. Quem ambiciona ser intelectual neste século, tão prolífico em teóricos em todas as áreas, deverá eleger o amor à diversidade. Acabou a época do filósofo de gabinete. O lugar do filósofo não é mais no deserto. Ciência, filosofia e religiões precisam dialogar entre si. A posição do filósofo é a que lhe coloca na responsabilidade da articulação. O pensador de hoje necessita ter sólida formação científica de pesquisador, ser conhecedor de Bíblia, Talmude e Alcorão, defender valores sociais e políticos como o socialismo jungido à democracia, em suma, ou você é o filósofo do ecúmeno, ou você não é absolutamente ninguém. Cativar a atenção do outro passa por acolher suas verdades pessoais, harmonizando-as com um projeto humanitário mundial. Assim como o entorno material é algo que nos precede e que independe de nós, um pensamento engajado deve reconhecer a permanência das visões de mundo, e com elas e a partir delas, filosofar genuinamente, com o escopo de construir a verdade, a peça ideológica da ação transformadora do mundo. Luz!