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SÃO CRISTÓVÃO

- Num mundo confuso e obscuro, com seu pensamento simples e correto que pôs em firme ação, achou e seguiu o caminho de Deus. –

Por José Kormann 62 min de leitura

– Professor Dr. José Kormann

ㅤA pedido, vamos, aqui, abreviada e lendariamente contar a linda e sábia história de São Cristóvão. Ela nos tem muito a ensinar com seus lindos e belos exemplos.

QUE BELO EXEMPLO

⠀Ele, São Cristóvão, é o padroeiro ou, se quiserem, o patrono dos condutores dos veículos de carga pesada ou, mais especialmente, nos dias atuais, dos caminhões e ônibus; como também é patrono de qualquer transportador ou carregador individual, e ainda o é de simples viajantes, como também o foi dos carroceiros.

⠀Ele viveu no terceiro século depois de Cristo (201 – 301). Não se sabe exatamente onde ele nasceu, mas – segundo a maioria dos historiadores – ele teria nascido na grande região do Oriente Médio, mais precisamente na Ásia Ocidental, talvez na localidade regional da Mesopotâmia.

⠀Ele teria nascido numa tribo de bárbaros muito cruéis. Mesmo mais selvagens do que propriamente bárbaros. Até antropófagos teriam sido. Mas, segundo dizem, ele ainda muito jovem, se pôs um problema para o qual procurava solução a todo custo e, com muita dificuldade, a encontrou.

⠀O problema foi este: ninguém era fisicamente tão forte igual a ele. Todos os testes de força ele os vencia com facilidade impensável. Até mesmo cavalos selvagens dos mais fortes ele os teria segurado, um a um, pelas patas traseiras pelo tempo que necessário fosse.

⠀Foi aí que lhe surgiu o pensamento inquietante que a qualquer custo ele queria resolver. Por que e para que é que eu sou tão forte? Seria para bater nos outros? Não. Isso seria covardia. Para nada? Totalmente sem razão de ser. Simplesmente para ser mais do que os outros? Completamente ilógico. Quanto mais pensava, mais se inquietava e nada conseguia entender.

⠀Deus tarda, mas não falha. E assim certo dia lhe veio a resposta: O mais forte deve servir ao mais poderoso.

⠀Logo lhe veio outro pensamento preocupante: Quem é o mais poderoso? Pergunta aqui, pergunta ali e vai além. Pensa, pensa, e muito pensa. Mas tudo o que de nada. Não dorme que presta, anda sozinho e quase mais nada consegue resolver. Mas “quem pede recebe, a quem bate com insistência logo a porta é-lhe aberta e quem procura sempre acha”. E foi o que sem demora aconteceu. Descobriu:

– O mais poderoso é o rei.

⠀Surgiu novo problema: onde encontrar o rei? Como vou até lá? Que fazer para ele me aceitar? E tantas, tantas coisas mais. Mais uma grande descoberta para sua pobre, mas forte vida física e rica atitude mental.

⠀Lá se foi Cristóvão a procura do rei. Demorou. Achou e chegou lá; pois quem procura, acha. E ele achou.

⠀Com dificuldades conseguiu falar com o rei. O rei o submeteu a vários testes de força e… nota dez. Sem mais nem menos pegou um emprego muito importante e de especial qualidade e confiança: guarda-costas do rei.

⠀Tudo ia às mil maravilhas até que lá certo dia um grupo de menestréis foi recebido no palácio para apresentação de seus espetáculos. Toda corte os assistiu. Mas lá num tanto da apresentação cantaram uma canção na qual por várias vezes apareceu o nome do “senhor dos infernos” e Cristóvão notou que cada vez que esta palavra surgia o rei rápido fazia o sinal-da-cruz.

⠀Terminada a apresentação, Cristóvão quis saber qual o motivo de o rei fazer o sinal-da-cruz cada vez que se dizia a dita palavra. Mas o rei, um tanto envergonhado, não quis contar o porquê disso. Cristóvão insistiu e o rei respondeu:

– Deixe pra lá que isso não te interessa.

⠀Mas Cristóvão descontente respondeu firme e muito convicto:

– Interessa, sim! E até muito, pois que sou o guarda-costas de Vossa Majestade e para melhor me desincumbir da minha missão e vos poder defender, não deve, entre nós dois, haver segredos de monta e tudo deve estar baseado em regras muito claras. E se isso não acontecer, não mais devo ficar por aqui.

⠀Foi então que o rei, apavorado, explicou que ele tinha medo do demônio e é por isso que fazia o sinal-da-cruz ao se pronunciar este nome. E Cristóvão de pronto respondeu:

– O mais forte deve servir ao mais poderoso e tendes medo do demônio? Então não sois vós o mais poderoso; pois o demônio, em assim sendo, tem mais poder que Vossa Majestade e vou trabalhar para o demônio. Tchau! Tchau! Estou indo.

⠀E lá se foi o futuro São Cristóvão procurando o demônio para servi-lo como sendo o mais poderoso. A primeira pessoa que ele encontrou num caminho desconhecido sem saber para onde vai, Cristóvão perguntou se sabia onde mora o demônio, esta pessoa gritou:

– Cruz credo! Com o Diabo não quero nada! Fez o sinal-da-cruz e sarpou-se de lá dizendo que demônio e diabo é a mesma coisa.

⠀Lá mais adiante encontrou outra pessoa à qual fez a mesma pergunta e esta nada respondeu e apenas fez o sinal-da-cruz e assustada retirou-se. Assim foi quase todo dia. Cristóvão ficou feliz imaginando o grande poder de seu novo patrão, pois todos lhe tinham medo com enorme temor. Não era respeito era medo.

⠀Bem lá mais adiante caminhos se cruzaram, estava parado ali um homem horrivelmente feio a quem Cristóvão perguntou se sabia onde ele poderia falar com o diabo. Este homem perguntou por que ele queria falar com o diabo. Cristóvão respondeu que ele, Cristóvão, era o homem mais forte que havia e que lhe contaram que o diabo era o mais poderoso na face da terra, mas logo este homem feio respondeu-lhe que o diabo não é só o mais poderoso da terra, mas até o mais poderoso de todo universo. Cristóvão entendeu que isso era espalhafatoso demais para ser verdade, mas concluiu seu pensamento dizendo que em sendo o diabo o mais poderoso e ele o mais forte, deveria servir o mais poderoso que era o diabo.

⠀O feião gostou desta ideia e todo orgulhoso respondeu convicto e cheio de si próprio:

– O diabo sou eu mesmo, estás falando com teu patrão. Vamos, venha comigo já tenho um bom serviço para ti.

⠀Seguiram pela estrada a fora. Cristóvão observava seu patrão e nada dele gostou: seu jeito feio de andar; sua voz era horrível; seus pensamentos discordantes; até parecia que nele havia certo medo de algo misterioso; isso fez com que Cristóvão começasse a duvidar desse seu novo patrão filosoficamente tão ilógico. Pensava, Cristóvão, o erro não condiz com coisa algum e o certo, o correto, condiz com tudo o que é bom e bonito.

⠀E foi num desse conjeturar que numa curva repentina da estrada havia uma enorme cruz com a imagem de Cristo crucificado. O diabo entrou pelo mato e só lá bem adiante voltou ao caminho abandonado. Cristóvão foi até lá e logo perguntou por que seu patrão tomou esta anormalidade que chega as raias da loucura. O diabo, muito nervoso, respondeu:

– Sou teu patrão e não tenho explicações a te dar, mas somente uma ordem que é a de: Vamos caminhar que o tempo urge e o serviço que tens a fazer é coisa urgente. Vamos! É uma ordem! Obedeça!

Mas Cristóvão retrucou:

– Não vou! Primeiro me explique por que fizeste tão grande absurdo de sair da estrada para não passar pela Cruz do homem morto que nela esta. Por quê?  Isso me mostra um grande erro e erro dos mais idiotas. Não posso mais te aceitar como meu superior, senão me explicares esta loucura com toda clareza. Vamos até lá. Quero que me expliques isso na frente da Cruz para provar que és verdadeiramente corajoso e não metido à mero poderoso que tem até medo de um homem morto. Só assim continuarei a te servir como o mais poderoso que o mais forte deve servir. Vamos!

⠀E o diabo desesperado começou a chorar num horrível grunhir soltando gritos diabólicos dos fundos dos infernos:

– Não vou! Não vou! Nada e ninguém me fará ir até lá! Tenho medo! Tenho medo …!

E numa só explosão sumiu para não mais aparecer.

⠀Cristóvão voltou para junto da Cruz e tentou falar com o Cristo Crucificado, mas nada conseguiu. Tentou várias vezes das mais variadas formas, mas nada. Absolutamente nada. Perguntou a vários viandantes, mas nada também. Uns até riram e se foram; outros só disseram olhe para Ele e verás.

⠀Finalmente um dos passantes menos ignorante e um pouco mais bondoso e caridoso lhe mostrou um estreito caminho pela mata adentro e disse: Siga por aí e chegarás a uma caverna e ali encontrarás um homem que te pode explicar alguma coisa a respeito desse homem crucificado.

⠀Cristóvão foi e lá encontrou um eremita que lá morava fazendo penitência, rezando e vivendo unicamente para Deus. Cristóvão contou-lhe toda sua história e seu profundo desejo de: como o homem muito forte servir ao mais poderoso.

⠀O monge solitário deu-lhe uma rápida explicação sobre o mais poderoso dos homens, Jesus Cristo, que é o verdadeiro Deus e nosso Salvador, e que a este Homem ele poderia servir fazendo caridade. O monge eremita aconselhou-o voltar até a rua e segui-la um pouco mais além até encontrar um grande rio que muitas pessoas precisam atravessar e nem sempre o podem fazer e que ele então as levasse de um lado ao outro e assim com sua força estaria fazendo grande caridade e com isso como homem muito forte estaria servindo ao Homem Todo Poderoso, Jesus Cristo.

⠀Cristóvão foi e fez sua casinha junto ao rio e por anos a fio fez essa grande caridade. Quando sentia necessidade procurava orientação com o eremita e rezava junto à cruz da estrada. Fielmente cumpria sua missão de caridade sem nada desejar para si, além do mínimo necessário para sua subsistência.

⠀Mas certa noite ao voltar de suas orações junto à Cruz da Estrada entrou em seu casebre, mas logo ouviu na outra margem do rio a voz de um menino que chamava por ele. Entrou na água fria do rio e lá na margem oposta estava um menino que pediu para ser levado até ao outro lado do rio.

⠀Cristóvão sorriu para o lindo menino e o tomou no ombro esquerdo e com a mão direita segurava seu bastão que o auxiliava ao caminhar nas correntezas das águas. Estranhou o peso do menino e a linda bolinha que ele trazia em sua mão. Havia algo de inexplicável nisso tudo e Cristóvão só gostava de coisas claras, lógicas e bem explicáveis. Algo aí merecia uma boa explicação. Mas havia mais: cada passo que ele dava o misterioso menino pesava mais e mais. Cristóvão percebia que ele, como o homem mais forte que havia, estava fraquejando e até já com medo de não mais conseguir carregar o menino até a margem. Sem querer Cristóvão soltava gemidos em virtude desse peso.

⠀Ao sentar o menino na barranca oposta do rio, Cristóvão já quase sem poder respirar, pediu – como era de seu feitio – para que o caso que tinha tudo de ser algo além das meras leis naturais fosse explicado e então recebeu do menino a seguinte resposta:

– Você é o homem mais forte do mundo e eu sou o Deus a quem serves. Estou aqui sob a forma de Menino Jesus e minha bolinha é o peso do mundo que carregaste sobre teus ombros. Agora quero que vás falar com o rei a quem serviste e que não se converteu ao cristianismo e lhe peças sua pronta e total conversão com todo seu reino. Estarei contigo e execute tua obra até o fim para que eu te leve a morar comigo no mais alto do Céu.

⠀Cristóvão foi. O rei o prendeu, pois as forças de Cristóvão o haviam abandonado. O rei o mandou matar, mas por intermédio de Cristóvão todos os que rei enviava para que o matassem se convertiam ao cristianismo.

⠀Finalmente o próprio rei resolveu fazer o papel de carrasco. Mandou que amarrassem Cristóvão num poste onde o rei resolveu mata-lo a flechadas. A primeira flecha que ele atirou voltou e cegou o olho direito do rei.

⠀Então Cristóvão explicou ao rei que só dia seguinte Deus permitiria ao rei tirar-lhe a vida, mas só por decapitação é que isso poderia acontecer. Acrescentou Cristóvão que se o rei ao escorrer o sangue de sua capitação untasse seu olho furado este seria prontamente curado para sempre, mas – em caso contrário – ele perderia o outro olho também, mas a cura deveria prever a conversão de todo reino ao cristianismo e foi o que aconteceu: São Cristóvão morreu mártir, o rei se converteu ao cristianismo e com ele todo seu reino.

⠀Vamos nós também, como São Cristóvão, aprender a pensar corretamente e guiar nossas ações pela lógica dos pensamentos certos e assim chegaremos vitoriosos a cumprir todas nossas metas neste mundo e alcançaremos a glória no Céu.

SÃO CRISTÓVÃO

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤSão Cristóvão, nosso irmão,

                                            Que sabias tão bem pensar;

                                            Sempre andar a trabalhar,

                                            Com amor, dedicação.

                                                           Dai-me assim mais devoção,

                                                           Por trabalhos Deus amar,

                                                           Com fervor saber rezar,

                                                           Dar a vida em santa ação.

                                            Vem Cristóvão me ajudar,

                                            Quero sempre a Deus amar,

                                            E cumprir o meu dever:

                                                           Trabalhar e bem rezar,

                                                           Sempre a todos mais amar,

                                                           Meus deveres bem fazer.