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Egoísta feliz!

Conservadores, pobres ou ricos, são mais felizes do que outras pessoas?

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

Uma pesquisa, dita “científica”, cuja amostragem teria abarcado mais de dois milhões de pessoas, teria confirmado a tese de que conservadores, pobres ou ricos, são mais felizes do que outras pessoas, que professam outros credos políticos. Em primeiro lugar, cabe fazer a pergunta: o que é ser feliz? Parece-me ser uma opinião de baixa consistência, encontrar-se em estado de felicidade, enquanto o semelhante padece de dor, fome, desesperança, etc. Sim, não é certo adiar a felicidade, até que o último doente seja curado, até que o último pobre adquira a dignidade que decorre do acesso a bens materiais. Contudo, entre uma e outra, cabe a salomônica: viver a paz interior na medida do possível, mas sem tragar o anódino que desconsidera por completo a situação do outro, muito aquém da minha própria situação. Não é ético naturalizar a injustiça social, a criança subnutrida, a infância apagada, o órfão negligenciado, a mulher espancada, o trabalhador em condição análoga à do serviço escravo, o idoso explorado, o imigrante relegado a uma subvida. O próprio Cristo foi quem disse que pobres entre nós sempre os teremos. Mas isto não suaviza a consciência do cristão. Assim como a existência do pecado não normaliza o pecado enquanto prática. A apatia e indolência, o não ser afetável, é a glória daquele que não merece nenhuma glória, o pai da mentira. Recorrentemente, ouço de pessoas o seguinte dizer: “eu era feliz e não sabia”, após perder um emprego, sofrer a amputação de um membro, perder um ente querido, e assim por diante. Ora, se a pessoa pode ser feliz, sem sabê-lo, suponho a possibilidade de alguém não sê-lo e imaginar ser. É a hipótese que melhor se aplica aos conservadores, satisfeitos com a própria situação, sentados sobre um trono cujos pés oprimem os que não podem defender-se pelas próprias forças. O “lado certo” não pode ser cúmplice ou, sequer alheio, ao que se passa na vida das pessoas desafortunadas, historicamente relegadas à não participação dos bens socialmente produzidos, impedidas de acessar direitos de alcance universal, de que todo cidadão é, formalmente, legítimo titular. Dízimo, sem ação socialmente transformadora, é entregar a décima parte do tempero da horta e ver os pais perecerem. Como já pontuei, é muito subjetivo categorizar “felicidade”, ela é algo abstrato, não aferível objetivamente, como a pressão arterial ou a temperatura corporal. Entretanto, o resultado da pesquisa se mostra bastante compatível de acordo com aquilo que se entende por “conservador”. O conservador não vê necessidade de mudança e, inclusive, defende para que as coisas permaneçam como estão. Já o progressista, defende mudanças, porque percebe a insuficiência do sistema econômico, político e religioso que aí está, uma vez que uma parcela significativa da sociedade não se vê contemplada. Por simetria, é bastante previsível que as pessoas antenadas à insuficiência sistêmica, denotem insatisfação, o que, de alguma maneira, se aproxima de uma sensação de infelicidade. A suposta felicidade do conservador reflete a fruição de uma espécie de tranquilidade. Já a insatisfação do progressista assinala que o seu olhar transcende os altos muros de sua própria residência, ele é sabedor que na periferia também existe vida, corações pulsantes. Os esquerdistas também somos felizes. Eu diria, os mais felizes. Porque as truculências que acompanham nossas lutas são um nada, quando comparadas ao consolo que nos traz a capacidade de nos pormos no lugar do outro. O ser humano só consegue ser feliz servindo a Deus. Ele nos fez de tal modo, que só somos felizes, desde que façamos o bem, e não o mal. E o incluir o excluído, entre os vários bens, é um dos maiores. Foi o próprio Cristo que disse “há mais alegria nos céus por um justo que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão”. Militar na área de assistência social ou desenvolvimento social é isto, preocupar-se com aqueles esquecidos de todos. Fazer esforço, dormir mal e sofrer por essa causa, isto sim, faz um ser humano infinitamente feliz, e precioso para Deus. Luz!