Elementos ocultos do dinamismo da linguagem
A milenar tradição filosófica ocidental foi mudando seu eixo de debate, de modo que saímos do ser, fomos ao pensar, e aportamos na linguagem. Hodiernamente, em filosofia, a bola da vez é a linguagem. Contudo, a filosofia tem a (justa) fama de abordar os grandes problemas de sua área com metodologia abstrata. Sem embargo, o […]
Por Israel Minikovsky 14 min de leitura
A milenar tradição filosófica ocidental foi mudando seu eixo de debate, de modo que saímos do ser, fomos ao pensar, e aportamos na linguagem. Hodiernamente, em filosofia, a bola da vez é a linguagem. Contudo, a filosofia tem a (justa) fama de abordar os grandes problemas de sua área com metodologia abstrata. Sem embargo, o fato é que a empiria impacta todos os objetos epistêmicos, seja qual for a ciência em apreço. Chegou-se à conclusão de que o nosso sotaque muda quando passamos a morar em outro lugar. Um centro de pesquisas localizado na Antártida, onde residem cientistas oriundos de vários países, permitiu constatar-se que os residentes, com o tempo, passam a adotar sotaque novo. As vogais passam a ser pronunciadas mais longamente. Isso explicaria, em tese, ou nos daria a correspondente noção, da causa porque cada idioma tem seu próprio sotaque e porque o mesmo idioma tem sotaques diferenciados, a depender da região em que é praticado. Montesquieu teve a expertise de reparar que um código de leis deve considerar uma série de fatores que constitui o jaez de um povo. O que vai muito bem num lugar, pode não ir em outro. E o influxo da geografia sobre a linguagem confirma inteiramente esta mentalidade. Se o insulamento impacta a fonética das palavras, estamos autorizados a presumir que a aceleração do deslocamento provoca mudanças significativas em sentido inverso. A linguagem nasce, evolui e é reinventada na relação de falantes com outros falantes. A observação de que, a linguagem é suscetível a praticamente toda espécie de revés, não anula a abordagem estruturalista, por exemplo, mas nos conduz à compreensão de que devemos ficar antenados a aspectos extralógicos. A batalha da filosofia é esta: encontrar um parâmetro seguro de aferição de sentenças declaratórias que ofertem, além do mais, uma progressão na construção do conhecimento. Entretanto, de andança em andança, os filósofos têm mudado o problema de lugar, têm promovido novas abordagens, sem que um único assunto possa ser encerrado. Mal começamos a explorar a linguagem e somos tomados de sobressalto. Agora, mais essa: deparamos com a situação de ouvir alterada a linguagem pela circunstância simples e truísta de o falante estar locado num espaço ermo da terra. O problema não consiste em ser a linguagem uma realidade viva e dinâmica, o problema está na impossibilidade de identificar clara e exaurientemente os fatores que levam adiante e explicam a evolução dos falares humanos. Novidades desta natureza não devem ser encaradas como estorvos. Do contrário, merecem ser tratadas como novas possibilidades a precipitar novos conceitos, aproximando-nos daquilo que é o alvo buscado. Por pior ou melhor que possa ser a verdade, seja o método bom ou ruim, seguro ou inseguro, a verdade é sempre um dogma social. É o reconhecimento social que escuda uma perspectiva. Aquilo que se procura certificar e o certificador são lados de uma mesma dimensão. Esta é a circularidade em que nos achamos. Desde que o consenso filosófico estabeleceu a linguagem a plataforma mediante a qual será deduzida a verdade, qualquer mínima ingerência sobre a linguagem, partindo donde se possa partir, merece ser considerada. Se a contração ou dilação fonética resultante da ubiquidade põe a nu a fragilidade da linguagem, a mesmíssima situação desvela a universalidade da linguagem, pois os falantes dos diferentes idiomas sofreram o mesmo perfil de tendência, em que pese a variedade sintática e léxica dos seus vernáculos. Todas estas situações “colocam mais lenha” na fogueira do conhecimento, desafiam nossa imaginação e criatividade. O que haveria de específico na Antártida? Frio? Magnetismo? As duas coisas ao mesmo tempo, e tantas outras? Por que certas línguas escandinavas, em linhas gerais, permanecem as mesmas em mil anos, ao passo que os pesquisadores na Antártida permaneceram ali poucos meses e foram impactados foneticamente? Muita coisa precisa ser esclarecida. Luz!