Átomo: o enigma do Criador
O átomo, basicamente, é integrado por um núcleo rodeado pela eletrosfera. O volume nuclear estequiométrico corresponde a um décimo milésimo da periferia por onde orbitam os elétrons cujas rotas perfazem os maiores raios. Isso significa que a matéria, em sua concretude, é feita bem mais de vazio do que de cheio. Os prótons (positivos) e […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
O átomo, basicamente, é integrado por um núcleo rodeado pela eletrosfera. O volume nuclear estequiométrico corresponde a um décimo milésimo da periferia por onde orbitam os elétrons cujas rotas perfazem os maiores raios. Isso significa que a matéria, em sua concretude, é feita bem mais de vazio do que de cheio. Os prótons (positivos) e os elétrons (negativos) são partículas subatômicas de valências opostas, responsáveis pelo equilíbrio da estrutura fundamental de que estamos a escrever. Em outros artigos já escrevi sobre o efeito Heisenberg, seja ele, quando iluminamos o átomo para fins de observação, as partículas se aceleram. Dito filosoficamente: pela observação, o observador altera o observado. Costuma-se dizer que num copo d’água existem mais átomos de água do que gotas de água em todos os oceanos do planeta. Mas os números exorbitantes, com o perdão do trocadilho, não param por aí. Os últimos nobelizados em física receberam a láurea por terem inaugurado uma metodologia de estudo atômico nova. A velocidade com que elétrons e prótons giram em torno do núcleo é tão intensa, que se supunha impossível realizar grandes estudos por conta dessa característica. Mas o trio teve a ideia de projetar lances de luz, intermitentemente. Esse lance de luz seria similar a uma fotografia, o que escrevo apenas para fins de analogia. Cada lance registraria um attosegundo. Esse último termo se presta a designar estes fluidos instantes. Dentro de um segundo caberiam tantos attosegundos, quantos segundos caberiam dentro da história do universo, desde o momento primordial da grande explosão. Por conseguinte, aqui estamos diante do incrivelmente pequeno, incrivelmente veloz, incrivelmente dinâmico e indeterminável. A indeterminidade de que falo tem a ver com o aspecto de difícil segregação descritiva e conceitual. Padecemos por não lograrmos êxito em categorizações porque o que visamos definir não foi projetado para caber dentro de um conceito ou definição. Em nome do equilíbrio atômico pode ocorrer que prótons se tornem elétrons, e que elétrons se tornem prótons. Daqui emerge a pergunta: e quando a subpartícula encontra-se no ponto de inflexão, o que vem a ser ela? Como pode chamar-se? Sua carga, na transição, é neutra? O interessante é que toda essa discussão começa com os filósofos gregos. Sim, na Antiguidade o átomo era apenas uma ideia, uma abstração. Sem embargo, ainda hoje a maior parte do conhecimento que temos acerca dele decorre de especulação ou conjecturas. Nós nos servimos de modelos matemáticos que se encaixam e explicam uma série de fenômenos. Se a metafísica tornou-se uma área interditada aos filósofos, desde que os neopositivistas cercaram-na com fitas de isolamento, hoje são os cientistas que estão em busca de uma “explicação para tudo”. Vários modelos estão sendo propostos, no viés de que existem regras gerais que regulam os desdobramentos do universo em todos os seus níveis. Do físico-químico, passando ao biológico, até abarcar os fenômenos da consciência. Uma plataforma teórica generalíssima, defendida por cientistas das mais diversas áreas de conhecimento, incluiria 1) regras estáticas; 2) regras dinâmicas e, por fim, 3) geradoras de novidades. O que, de igual modo, já foi objeto de litígio intelectual entre os pensadores da Velha Hélade, pois desde os pré-socráticos ao grande Estagirita, uma das questões desafiadoras era o paradoxo da mudança e da permanência, bem como o impacto do ser em movimento sobre o intelecto, agora já na perspectiva da epistemologia. O punctum dolens continua sendo o mesmo. O que não quer dizer que não tivemos evolução. Deambulam os classemas, perduram os problemas. Luz! Nem que por um efêmero attosegundo!