De olho na verdade

Quando uma medalha nos faz refletir

Por Gilmar dos Passos 8 min de leitura

Na noite da segunda-feira 20/11, durante a 59ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal, Djenyfer Arnold, atleta nascida em São Bento do Sul, foi laureada com uma Moção de Aplausos em virtude de sua excepcional conquista da medalha de ouro no revezamento misto de Triathlon nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, Chile, em 2023. Este reconhecimento enche de orgulho não apenas os habitantes de São Bento do Sul, mas todos os brasileiros que se regozijam com o sucesso de conterrâneos em âmbito internacional, especialmente no campo esportivo.

Contudo, a celebração desse feito também suscita uma reflexão dolorosa sobre o potencial desperdiçado no Brasil. A pergunta inevitável que assalta os pensamentos é: quantos talentos semelhantes ao de Djenyfer Arnold podem ter se perdido pelas vielas das cidades brasileiras? Essa indagação, por sua vez, conduz a uma análise mais profunda das razões subjacentes a essa possível lacuna no desenvolvimento de atletas e talentos em geral. O cerne da questão parece residir na falta de investimento. O Brasil, por vezes, não valoriza adequadamente o talento inato de sua população. Essa deficiência não está isolada, sendo intrinsecamente ligada a questões sociais mais abrangentes, como a má distribuição de renda.

A disparidade econômica impede que a maioria da população tenha condições igualitárias para cultivar suas habilidades, seja física, mental ou ambas, dada a interconexão desses aspectos. Aqui surge uma reflexão direcionada aos defensores do liberalismo: como esperar a construção de uma sociedade equitativa quando, na corrida da vida, aqueles com maior poder aquisitivo já partem com uma vantagem significativa em relação aos menos favorecidos? Surge uma crítica à ideia de meritocracia, que, nesse contexto, parece perder sua validade diante das barreiras socioeconômicas que perpetuam as desigualdades.

Portanto, a conquista de Djenyfer Arnold, que foi através de muita entrega e dedicação, então mérito dela, além de um motivo de celebração, também serve como um ponto de partida para uma reflexão mais ampla sobre como o Brasil pode melhor investir em seus talentos, reduzir as disparidades sociais e proporcionar oportunidades mais equitativas para todos os seus cidadãos.