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Dia de celebração da amizade Brasil-Argentina: 30 de novembro

Em 30 de novembro de 1985, o presidente brasileiro José Sarney e o presidente argentino Raúl Alfonsin celebraram um acordo político entre os países a quem representavam, do que resultou uma série de vantagens para ambos os envolvidos, inclusive a criação do Mercosul. A Argentina, que já foi o país mais rico da América Latina, […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Em 30 de novembro de 1985, o presidente brasileiro José Sarney e o presidente argentino Raúl Alfonsin celebraram um acordo político entre os países a quem representavam, do que resultou uma série de vantagens para ambos os envolvidos, inclusive a criação do Mercosul. A Argentina, que já foi o país mais rico da América Latina, e um dos mais ricos do mundo, há décadas enfrenta problemas econômicos e sociais. A bipolaridade política faz comportar a alternância direita-esquerda, mas, no geral, sempre à base do populismo, qualquer que seja o seu matiz. Somos, um do outro, grandes compradores e grandes vendedores. Por conseguinte, não podemos fazer pouco caso dos argentinos, e, nem eles, de nós. Fico, não diria “feliz”, mas aliviado que Javier Milei tenha dito que Lula será bem-vindo na solenidade de posse. Penso que o momento para debater ideologia política é o período eleitoral. Superada a fase pela qual se empoderam os exercentes do poder delegado no regime democrático, é hora de trabalhar e conspirar pelos interesses da sociedade a que o Estado deve servir. O momento é de pragmatismo. E o PT e o presidente Lula já acumulam experiência de sobra para saber disso. Esperamos que o novato Milei tenha a expertise de proceder da mesma maneira. Não é incompatível colaborar com os norte-americanos e estruturar o Mercosul. Podem coexistir harmonicamente várias formas de parceria econômica. As dores por que passam os brasileiros são parecidas com aquelas que apoquentam os argentinos. No geral, problemas semelhantes, são resolúveis por metodologias congruentes. O momento, portanto, é de troca de ideias e iniciativas, e não só de mercadorias. A Ásia começou a despontar quando despertou para o potencial da cooperação. E é exatamente isto que precisamos fazer na América Latina. Basta somar, por exemplo, o território argentino e brasileiro, da Patagônia ao Amapá, ou a população dos dois países, ou os seus respectivos PIBs. Quem sabe, veio em boa hora o fracasso futebolístico da seleção brasileira. Ninguém se alimenta comendo bola, afora jogadores e cartolas. E nem é saudável a rivalidade com nosso vizinho. Precisamos fomentar o que nos une, e não o que nos separa. Assim como houve com Bolsonaro, dificilmente Milei será reconduzido. E, para ser bem honesto, é possível que sequer consiga terminar o mandato. Se honrar o discurso ultraliberal de campanha, no sentido de privatizar a tudo e a todos, agradará aos patrocinadores que arcaram com os custos de marketing eleitoreiro, mas se deparará com o fator realidade, traduzível no retesamento das condições de vida da população, que já são precárias. Pessoalmente, muito me incomoda a eleição de Milei, não só pela sua orientação política, senão pela sua debilidade pensamental. Um sujeito que se consulta com cartomantes e pessoas do mesmo naipe, relegando a nada nossa tradição Ocidental do pensamento esclarecido, lógico e consequente. Estão à nossa disposição tantas melhores fontes de compreensão e interação com realidade, mui superiores a crendices e superstições. Torço para que Milei não cometa o erro de quase todo novato: radicalizar em suas tomadas de decisão, sobretudo no campo econômico. Qualquer decisão em economia, que oscile para baixo ou para cima, deve ser implementada aos poucos, jamais com a velocidade de um golpe de karatê. A sociedade e o mercado precisam de tempo de adaptação, qualquer que seja a novidade no jogo. Cumpre observar as coisas que passam, tais como os governos, e aquelas dotadas de permanência. Quero dizer que, ocorra o que ocorrer, sempre os argentinos serão nossos vizinhos, e, nós, os deles. Isto significa que temos de ter um pensamento para o Brasil a longo prazo, e, igualmente, pensar uma parceria com os argentinos a longo prazo. Se não pudermos avançar na pauta do Mercosul, que, ao menos, evitemos os retrocessos. Deus ilumine nossos governantes, quem quer que sejam eles!