Transformações demográficas no Brasil: Pessoas pardas superam brancas pela primeira vez desde 1872
População
Por Gilmar dos Passos 13 min de leitura
O Brasil experimentou uma mudança significativa em sua composição demográfica, revelando um marco histórico com implicações socioculturais. Os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (22), revelam que, pela primeira vez desde 1872, a população autodeclarada como parda superou numericamente a população branca. Esse fenômeno, que reflete uma dinâmica complexa de autopercepção e interações sociais, traz à tona uma série de transformações étnico-raciais no país.
Mudanças nas Proporções étnico-raciais:
Em 2022, 92,1 milhões de pessoas se identificaram como pardas, enquanto 88,3 milhões se declararam brancas. Entre 2010 e 2022, a população branca passou de 47,7% para 43,5%, perdendo sua posição majoritária, ao passo que a população parda aumentou de 43,1% para 45,3%. A população preta também registrou um crescimento significativo, saltando de 7,6% para 10,2%. A raça indígena apresentou um aumento modesto de 0,4% para 0,6%.
Critérios e Autodeclaração:
O IBGE utiliza cinco categorias para agrupar as pessoas de acordo com a raça ou cor: branca, preta, amarela, parda e indígena. A coleta de dados é baseada na autodeclaração, refletindo a percepção individual em relação à cor da pele e à aparência. O conceito de raça é abordado como uma construção social, não biológica, destacando a complexidade e multifatorialidade do fenômeno.
Trajetória Histórica e Variações:
Desde o primeiro censo em 1872, a população parda, que era ligeiramente superior à branca naquela época, agora supera numericamente. A população branca, que atingiu seu pico de 63,5% em 1940, entrou em uma tendência decrescente ao longo das décadas. Os pardos, por sua vez, enfrentaram um recuo entre 1991 e 2000 antes de se tornarem majoritários em 2022. A população preta também dobrou desde 1991, alcançando 10,2% em 2022.
Fatores Além da Demografia:
O pesquisador do IBGE, Leonardo Athias, destaca que as mudanças no perfil étnico-racial não são apenas demográficas, mas também relacionadas à percepção individual. A autoidentificação é influenciada por contextos socioeconômicos e relações interraciais, enfatizando a multidimensionalidade do fenômeno.
Análise Comparativa e Regional:
Entre 2010 e 2022, a população preta registrou um crescimento proporcional de 42,3%, seguida pela parda com 11,9%. A população indígena teve a maior evolução percentual, alcançando 89%. Enquanto isso, brancos e amarelos apresentaram quedas de 3,1% e 59,2%, respectivamente. Os dados também revelam diferenças regionais, com o Sul e Sudeste mantendo a maioria branca, enquanto o Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm uma população majoritariamente parda.
Distribuição nos Estados e Municípios:
Os estados apresentam variações marcantes, com o Rio Grande do Sul liderando em população branca (78,4%) e o Pará destacando-se em população parda (69,9%). A Bahia lidera em população preta (22,4%), Roraima em população indígena (14,1%), e São Paulo em população amarela (1,2%). A distribuição é também observada nos municípios, destacando áreas com predominância branca, como Morrinhos do Sul e Forquetinha, ambas com mais de 97% de brancos entre os habitantes.
Conclusão: O Censo 2022 evidencia não apenas mudanças demográficas, mas também as complexas dinâmicas de autopercepção e interações sociais que moldam a composição étnico-racial do Brasil. Essa transformação reflete a riqueza da diversidade brasileira, destacando a importância de abordagens multidimensionais para compreender o fenômeno em constante evolução