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PASSEI VERGONHA II

nem sempre tudo saiu às mil maravilhas

Por Celso e Mariana 56 min de leitura

Nossas viagens sempre foram espetaculares, só que nem sempre tudo saiu às mil maravilhas como esperávamos que fosse. As adversidades serviram como preciosa aprendizagem e hoje rimos das nossas próprias inconveniências. No entanto, os momentos graciosos foram de 100 para 1 comparando-os com as dificuldades. As”intempéries” são as que mais as pessoas gostam de ouvir. Já teve gente que quase ganhou um ataque de tanto rir.

TERCEIRA VERGONHA. ARGENTINA.

(Texto de Mariana). Como prometi, eu, Mariana, vou contar outras vergonhas que Celso passou em vários países que visitamos.

– Achou muita a vergonha que ele passou com aquele homem da Inglaterra ou da senhora do mercado que o mandou tomar aquela bebida japonesa? Pois então ouça essa da cocheira.

– Ô, Mariana! Conte outra, essa aí, não! Fica feio prá mim!

 – Vou contar, sim! Prá você largar de ser “boca aberta” por onde passa! Lá vai

Estávamos descarregando as malas em frente um hotel numa cidade argentina chamada San Salvador, aos pés da Cordilheira dos Andes, na Província de JUJUY (pronúncia: Hu Hui – H raspado meio chiando), no noroeste da Argentina.

 O atendente do hotel, estava ajudando carregar nossas tralhas para dentro do hotel e disse:  Podrás guardar tu vehículo en el cochera del hotel.

Celso entendeu que o rapaz mandou guardar nosso carro na cocheira do hotel.

Nunca vi Celso tão brabo. Falou alto com o homem:

¿Cuál es tu hombre? ¿Quién te dijo que mi auto es un vagón para Mantenerlo en el establo?? (Qual é a tua, homem? Quem te disse que meu carro é uma carroça para guardá-lo num estábulo (cocheira)?

Ele deu uma gostosa risada e respondeu:

¡Perdóname, Señor! ¡La palabra cochera en Español significa garaje en Português!

(Perdão, Senhor! A palavra cochera em Espanhol significa garagem em Português!)

NA COCHEIRA

Meio sem jeito, Celso conduziu o automóvel até os fundos do pátio do hotel e, realmente, lá estava escrito COCHERA.

Pelo santo protetor dos sem-vergonhas! Até parece que Celso gosta de colecionar vergonhas!

 E tem mais! Se prepare que lá vai outra.

QUARTA VERGONHA –

Dessa vez, também foi na Argentina. Só que agora, próximo ao outro extremo da Argentina. Bem ao sul!

Era janeiro. Viajando pelo deserto da Patagônia, monstruoso, quente de pelar, e grande tipo Deserto do Saara, chegamos em uma cidade, chamada San Julian no sul da Argentina, já perto do Estreito de Magalhães.

Era noite e todos os restaurantes estavam fechados. Nos avisaram que os restaurantes só abririam após às 22h devido ao calor que torrava aquela cidade durante o dia e até algumas horas da noite devido à inclinação da Terra que expõe aquela região do Hemisfério Sul quase de frente para o Sol, então, o dia termina às 22.30h e recomeça às 2.30h da manhã. Há um curto período de noite (4 horas) e bem no meio desse período, lá pela meia-noite e meia, no verão, a temperatura cai de +45C para –16C. É uma caída de temperatura tão abrupta e quase repentina que muitos turistas desavisados passam mal.

Esperamos no carro, e quando um dos restaurantes abriu, uma tropa de argentinos, que mais parecia uma boiada escapando do curral, invadiu o recinto e cada um foi se instalando do jeito que dava nas mesas. Esperamos mais um pouco. Depois de uns quinze minutos pedi que Celso fosse ver que comida eles serviam. Celso foi e eu fiquei no carro pressentindo alguma confusão.

Éééé! A macaca aqui não pula em quarqué gaio meio podre, não!

No balcão, um garção o atendeu:

– Qué, quiére, Senhor?

– Vocês têm frango assado?

– Que significa, Senhor?

Aí, Celso lembrou que deveria comunicar-se com ele em Espanhol. Mas esqueceu como era a palavra frango na língua deles.

Na Argentina há quatro pronúncias: polo, pólo, polho e pólho, dependendo da Província ou região onde se está.

E, não vai que Celso não lembrou de nenhum deles? (Acho que foi a fome que enfraqueceu sua memória).

Olhei pela janela, lá dentro os argentinos estavam todos quietos, observando com o canto dos olhos pelo desfecho da conversa entre Celso e o copeiro, pois sabiam que quase sempre os estrangeiros arrumavam alguma cena hilariante.

Vendo-se acuado no idioma, Celso arrumou um jeito de se comunicar com o garção, passou a gesticular com os braços, balançando-os para cima e para baixo, tipos asas de uma galinha e pediu:

– Senhor, eu quero comer uma galinha!

Nem tinha acabado de pronunciar a última palavra e o bando inteiro de argentinos irrompeu em uma gargalhada em uníssono daquelas de fazer o salão vir abaixo. Só não comeram as mesas porque era feita de um material muito sólido!

Celso até que se saiu bem por dois motivos. Primeiro, acostumado com teatro, ele riu junto com a plateia, achando graça de si mesmo, assim diminuiu a intensidade da vergonha por qual passava naquele momento e, segundo, foi atendido no que desejava.

Mas, qual foi o motivo de tanta graça?

Um garção que falava Português – (Bandido! Bem que poderia ter interferido na conversa evitando o vexame)- explicou que Celso havia solicitado uma mulher de rua (galinha) para comer. Era assim que eles entendiam esse jeito de falar.

Diante dessa explicação foi que Celso sentiu o verdadeiro peso da vergonha!

GALO VALENTE

E, agora, meus amigos leitores, sentem, se agarrem, chamem um médico para atendê-los caso tenham um ataque cardíaco ao ler o próximo vexame!

VERGONHA CINCO

RESTAURANTE NOTURNO NO CHILE

(Mariana) – Essa foi prá cabá!

(Celso) – Péra aí! Essa eu mesmo conto! Xá comigo! Pode sentar, que a história é interessante e meio longa, mas vale a pena! Foi a primeira vez que Mariana e eu passamos vergonha juntos! O susto, a vergonha e o desenrolar dos fatos foram cenas de cinema! 

(Texto de Celso)

São José- Chile

San José, é uma pequena cidade mineira ao norte do Chile, lá mesmo onde houve um tremor de terra que sepultou 33 mineradores por 70 dias a 100 metros abaixo da superfície. Quem acompanhou o fato pela mídia viu toda a articulação de salvamento

VISTA AÉREA DA MINERADORA SÃO JOSÉ.

Lá embaixo, logo acabaram as cargas das baterias das lâmpadas dos capacetes que iluminavam o ambiente, então, passaram terror em escuridão absoluta durante muito tempo até serem resgatados.

MINERADORES NO FUNDO DA MINA.

Um estreito túnel redondo vertical foi construído desde a superfície até onde se encontravam os mineiros e por ele descia uma gaiola onde cabia um homem por vez. Assim, todos foram retirados com vida após setenta dias de extremos sofrimentos presos no fundo da terra. Durante o tempo de encarceramento foi cavado um buraco por onde descia comida e bebida.

GAIOLA QUE SALVOU OS MINEIROS.

O engenheiro que projetou este elevador, merece todos os louvores!

Essa história mais completa e detalhada, contaremos em futuro próximo,

O mundo inteiro se emocionou e torceu pela salvação dos mineradores.

Aqui, nós entramos na história.

Havíamos saído do Peru, descendo as encostas da Cordilheira dos Andes, entramos naquela cidade já quase à noite, passamos pelo portão da mineradora onde, dois dias depois, aconteceria o tão famigerado terremoto e a terrível tragédia com os mineiros.

Mais adiante, perto da mineradora, encontramos um hotel onde nos instalamos. Chegou a hora do jantar. A dona do hotel nos informou que só faziam comida para os mineiros e que se quiséssemos jantar deveríamos descer duas quadras à direita onde encontraríamos um restaurante. Lá fomos, andando pelas ruas daquela cidade tranquila e deparamos com uma grande placa: “RESTAURANTE”.

É aqui mesmo!

A porta de entrada era do tipo daquelas de Farwest, com duas abas que giravam para dentro e para fora.

Dentro do recinto as luzes eram coloridas, azuis, vermelhas e roxas de baixa luminosidade.

Pensamos: – Xiii! Aqui a comida deve ser cara pois parece restaurante de luxo!

Não tendo outra opção, entramos e já de cara vimos uma mulher sentada no colo de um negão. Mais adiante, noutra mesa, um casal se amassava aos beijos. Olhamos bem, todo mundo era quase tão preto como os haitianos que circulam por aí em nossa cidade, uma característica humana em parte do norte do Chile e em várias outras regiões. Não somos racistas e para nós tudo isso pareceu normal menos o aspecto interino do restaurante que não parecia ser um restaurante.

Fomos até o balcão sob os olhares de todo mundo ali, pois éramos os únicos brancos naquele recinto e, ainda mais, Mariana com aquele cabelão comprido e louro chamou a atenção geral.

No balcão havia duas moças atendendo, duas negonas altas e bonitas de fazer inveja à modelo Gisele Bündchen.

Perguntei se ali era mesmo um restaurante.

Uma delas, que parecia ser a dona da casa, respondeu:

De día sí, pero de noche la cosa cambia un poco!

(De dia sim, mas de noite as coisas mudam um pouco!)

Amigo leitor! Já desconfiou onde foi que nos metemos? Adivinhou! É isso mesmo: numa “zona”!

E a mulher do hotel, que nos indicou aquele lugar para jantar, não disse nada, não nos avisou!

Voltando à zona, digo ao restaurante, a moça que nos atendeu disse que se esperássemos seria preparada uma boa refeição para nós.

Nesse ínterim, enquanto ainda estávamos próximo ao balcão, um negão de dois metros de altura, lá dos fundos, levantou e veio todo empolgado em nossa direção falando alto:

 ¡Ah ahí ahí! Precioso coño brasileño. ¡Hoy va a llover en mi finca!

 (Uh lá lá! Xuxa, linda brasileira! Hoje vai chover na minha roça!)

E, lá veio o grandão, com passos firmes, de braços abertos para abraçar Mariana.

Eu vi a viola em cacos! E agora, o que fazer? Ele veio tão rápido que nem deu tempo de correr.  Eu, nem em pensamento, iria enfrentar um crioulo daquele tamanho!

NAS GARRAS DO NEGÃO.

Mariana, rápida como um gato, abaixou-se, esquivando-se do afetuoso abraço do brutamontes apaixonado e, aí fui eu que fiquei na reta. Por alguns segundos suei frio, mas, num reflexo desesperado, manobrei minha carcaça no último momento, tipo boxeador que se esquiva do soco do adversário. Por uma questão de centímetros não caí nos braços do negão assanhado! Tá loco, meu! Se aquela coisona me agarra, eu vou à nocaute!

ESCAPEI POR POUCO.

Nesse instante surgiu um baita revólver na mão da balconista “Gisele” que gritou para todos:

¡El primero que mire enfadado a la rubia comerá plomo!

(O primeiro que olhar atravessado para a moça loira vai comer chumbo!

O homem assediador voltou rapidinho para a sua mesa e todos se olhavam assustados.

No mínimo, a moça do revólver ou era a mulher do delegado ou era a própria delegada! Mas que tinha autoridade, isso tinha!

ALGUÉM SE ATREVE?

Querido leitor! Não se assanhe! Olhe o dedo nervoso da morena no gatilho do canhão!

Sentamos à mesa e logo veio um bom jantar. Observei o comportamento de Mariana: ela comia olhando prá todo lado com o canto dos olhos desconfiada de uma nova investida.

Fiquei imaginando que toda aquela “homarada” não dormiu à noite pensando na “Xuxa” de cabelos longos e loiros. (Tadinhos!).

Amigos! Temos muitas histórias de grandes e bons momentos, mas também, de ruins, constrangedores e prá lá de péssimos para contar que aconteceram durante nossas viagens malucas aí por esse mundão! O pior, aconteceu comigo na Venezuela, enquanto esperava um ônibus num ponto de ônibus lotado de gente para me deslocar até outro ponto da cidade. Uma senhora me assediou e…deixa prá lá! Essa eu só posso contar diretamente para a pessoa que requisitar o relato do acontecido, mas não publicamente, e se Mariana der uma de boca aberta e contar essa, eu juro que mato!

 Êta, mundão sem porteira!

Para finalizar, um elogio à Mariana! Essa russa nunca teve medo de nada ao me acompanhar nas aventuras de viagens!

Quer uma prova?

MARIANA À BEIRA DO ABISMO. Algumas fotos.

Apoiando-se apenas com as pontas dos dedos e balançando-se a um quilômetro e meio acima do fundo do vale.

Tá louca, mulher? E eu que pensei que eu era o mais aloprado da tropa!

NÃO HÁ GROTA NENHUMA QUE A INTIMIDE.

Mariana na ponta da pedra averiguando a profundidade do cânion, a um quilômetro acima do chão do fundo da grota! Só falta ela saltar dali e alçar vôo por sobre as montanhas!

MONTANHA DE PEDRAS AFIADAS E DE DIFÍCIL ACESSO

Aqui, escalando uma montanha de pedras ponteagudas sem nenhuma proteção especial estudando um modo de prosseguir morro acima.

CHAPADA DIAMANTINA.

Danada! Não esboça um único lampejo de medo! De cima até em baixo são mil e cem metros!

SERRA DO RIO DO RASTRO

Na maior tranquilidade, sentada com os pés no vazio do abismo, como se estivesse sentada num banco de praça!

DOMINANDO UM BOI GIGANTE.

Só faltava essa! ESSA FOI DEMAIS! O coitado do dono do boi nunca iria imaginar que alguém embarcaria no seu boi e saísse andando pela cidade como se estivesse lá no campo.

Tadinho do homem, corria atrás dos dois comparsas (boi e Mariana) mas não adiantou, ela deu uma volta pelas ruas apinhadas de pessoas que olhavam estupefatas (o boi gostou da viagem com a sujeita assanhada no seu lombo).

É provável que ele pensou que ela raptou o bicho e sumiria com ele na fumaça.

Ninguém nunca tinha visto uma cena daquelas. Nem eu!

Passado o susto, o dono do animal disse que foi a primeira vez que o “Golias” (nome do boi) se sujeitou obediente à uma montaria!

OBSERVAÇÃO 1: Em mim ela não consegue montar porque eu corro mais que ela!

OBSERVAÇÃO 2: Acho que devo “bancar” o Davi e ter uma conversinha mais de perto com esse tal Golias!

Obrigado! Abraços de Celso e de Mariana!

Estes tratorzinhos de madeira são construídos artesanalmente e levam 20 horas para serem feitos. Trabalhados com esmero cuidado, apresentam características interessantes como volante que gira facilmente com várias camadas ao redor de um rolamento, relógios do painel imitando os verdadeiros, assento revestido de luxo (o tratorista merece, não é?), pedais e alavanca de câmbio, encaixes perfeitos com rebites, eixos de aço inoxidável, a escadinha de acesso do tratorista é um “brinco”, com corrimão e piso emborrachado para que o tratorista não resvale, os pneus são de correia dentada de automóvel, os faróis são peças extraídas de dentro de TV Smart (um luxo), sua estrutura é tão reforçada que um adulto pode sentar em cima dele que não quebra (a não ser que o tal adulto pese 300 quilos ou mais…aí não podemos dar garantia de vida para o coitado do tratorzinho), é silencioso e roda com leveza. Tantos outros detalhes que a fotografia não mostra podem ser verificados ao vivo.

Em algumas praias são vendidos facilmente por R$500.00. Aqui no planalto custa R$250.00.

Temos outros modelos de brinquedos resgatados do tempo em que os imigrantes os fabricavam por não haver brinquedos nas lojas para serem comprados. Exemplo: Carrossel, monjolo, helicóptero (naqueles tempos não havia esta aeronave, então criamos adaptações interessantes ao brinquedo dos europeus) e outros.