Tomás de Aquino
Tomás de Aquino foi um frade católico italiano. Ele nasceu em 1225 e faleceu aos 07 de março de 1274. Faz 750 anos de sua morte, portanto. Ele foi o maior teólogo de todos os tempos. Ele foi autor prolífico, tendo assinado trabalhos bastante extensos e outros de menor amplitude. Sua obra-prima é a Suma […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
Tomás de Aquino foi um frade católico italiano. Ele nasceu em 1225 e faleceu aos 07 de março de 1274. Faz 750 anos de sua morte, portanto. Ele foi o maior teólogo de todos os tempos. Ele foi autor prolífico, tendo assinado trabalhos bastante extensos e outros de menor amplitude. Sua obra-prima é a Suma Teológica. É fácil encontrar a Suma Teológica na internet, em espanhol ou inglês. Eu já tive a coleção na forma física, bilíngue, latim-português. Vendi a joia para Mariano Soltys, na certeza de que a relíquia estaria em boas mãos. Engana-se quem pensa que a Idade Média foi um período monótono no campo pensamental. Se Tomás de Aquino promove o acolhimento da filosofia aristotélica, ele também luta contra o aristotelismo. Em sua época havia o averroísmo, uma alusão a Averróis (1126-1198), um filósofo islâmico que traduziu as obras de Aristóteles do grego para o árabe, e se notabilizou por ser um grandessíssimo comentador do pensador helênico referido. O averroísmo, em síntese, é uma absolutização do aristotelismo, apregoando postulados materialistas. Coloco aqui minha colher, pois devo dizer que é complicado identificar Aristóteles com um filósofo tradicionalmente materialista. Afinal, para o Estagirita, o mundo é eterno, a matéria está em movimento, porque tudo tende para o motor imóvel, a instância virtual do ato puro, sem nenhum imiscuimento da concreção. Calha à fiveleta consignar outra observação: critica-se Tomás e, com ele, toda a teologia católica, por ter havido um sínolo entre o sagrado e o profano, entre duas perspectivas diferentes, tão bem estabelecidas na teologia agostiniana. Todavia, não se trata de um duplipensar. Argumentar que é insuperável a oposição entre matéria e espírito, e, destarte, ineliminável esse obstáculo, é uma postura intelectual arbitrária. Tomás foi o grande pensador da teologia natural, da filosofia natural e do direito natural. A natureza é regida por leis estabelecidas por Deus. Não há, por isso mesmo, desavença entre a criação e o Criador. Santo Tomás é um pensador extraordinário. E para ser bem honesto, atual. A ponto de a filosofia por ele produzida ter sido apelidada de “perene”. Ninguém é obrigado a acatar a filosofia de Tomás de Aquino. Com efeito, se muitos proclamam a obsolescência da escolástica – e eu nem quero entrar no mérito dessa questão – o grande legado do Aquinate vem a ser este: a atitude mental. Por que o intelectual não pode ser bem-intencionado? Por que, sempre e necessariamente, há de ser ele um contestador? O pensamento disruptivo tem os seus méritos. Porém, o mais feroz crítico deve reconhecer que ante nosso nariz está a realidade imediata e carente de encaminhamento. Podemos procrastinar a nossa vida cotidiana para primeiro resolvermos as contendas filosóficas? É possível ser intelectual de várias maneiras, e Tomás apresenta a sua. Muitas pessoas abandonam o catolicismo sem nunca terem ouvido falar da existência do aludido intelectual. Isto deveria nos despertar para a dúvida de qual teria sido o motivo de renúncia do credo de costume, para a adoção de um reformado. Nunca vi um contestador ferino do tomismo que tenha dedicado ampla carga horária à leitura e estudo da produção teórica do gênio sob comento. Isso deveria, no mínimo, sinalizar que aqueles que relativizam a obra desse intelectual pelo pendor que eiva sua reflexão, estão igualmente enviesados por preconceitos que norteiam em direção contrária sua concepção de mundo. Na melhor das hipóteses, eia pois, escolhemos os preconceitos que decidiremos seguir, em filosofia alcunhados pelo garboso termo de “postulados”, e não vejo porque, mesmo no século XXI alguém não possa trilhar o mesmo percurso do gigante em apreço. Estes sete séculos e meio da morte de Tomás de Aquino salientam a durabilidade de sua literatura, cujo fulcro reside na qualidade conceitual de suas meditações. Assim como o pensamento marxista tem muito a contribuir com a questão social hodierna, em que pesem algumas de suas derrapadas teóricas, Santo Tomás, bem entendido e bem empregado, é uma luz a alumiar os fazeres próprios de nossa época, marcada pela diversidade. Luz!