Dia mundial da justiça social: 20 de fevereiro
O sistema econômico social que melhor satisfez à necessidade de produzir riqueza foi o modo de produção capitalista, bem ele que promoveu o maior debate acerca de justiça social. Karl Marx não poupou críticas ao industrialismo de sua época, o que fez com o maior conhecimento de causa, apoiado na experiência e tendo as melhores […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
O sistema econômico social que melhor satisfez à necessidade de produzir riqueza foi o modo de produção capitalista, bem ele que promoveu o maior debate acerca de justiça social. Karl Marx não poupou críticas ao industrialismo de sua época, o que fez com o maior conhecimento de causa, apoiado na experiência e tendo as melhores teorias de arrimo do seu tempo. A discussão sobre justiça, na esfera pessoal e coletiva, nunca perderá seu objeto. Mas velhas questões precisam ser colocadas e recolocadas em novos termos. Usando uma ferramenta conceitual mais recente, arrisco afirmar que a atividade fabril, observada e analisada por Marx, se aproxima mais do fordismo. Entretanto, como estratégia de sobrevivência e potencialização da capacidade de acumular lucro, o modelo vinculado a padrão rígido e linear de produção teve de flexibilizar-se. E o toyotismo encarna a solução para esta necessidade. Ele se dobra à necessidade do mercado de consumo, flexibiliza tecnologia de produção, metodologia de estoque e reprogramação das linhas para fazer circular mercadorias inéditas. E esse dinamismo afeta ou contamina tudo aquilo que envolve a produção de algo voltado à satisfação momentânea de um público com capacidade de aquisição. Nenhum tipo de rigidez casa com o toyotismo. Nem mesmo e muito menos o estilo de vínculo laboral, em que um empregado principiava sua carreira e se aposentava na mesma empresa. Não se tem mais a necessidade de alguém robusto ou previsível. Do contrário, o que é demandado agora é um colaborador maleável, com altas capacidades de aprendizagem e polivalente. Isto não quer dizer que se perdeu o sentido de discutir justiça social, mas é preciso considerar que não podemos batalhar por algo que não existe mais, ou que, em absoluto, não se coaduna lógica ou empiricamente com a realidade. Convivência familiar e comunitária, vínculos com o entorno no qual se vive, sempre foi e será fator de proteção. Todavia, para além disso, precisamos preparar as novas gerações para o inusitado, para a criatividade, para a inventividade. Os robôs fazem cada vez mais por nós, em função do que, guardadas as proporções, precisamos ser protagonistas naquilo em que somos insubstituíveis. A geração de renda, de fato, continua sendo algo almejável. Mas, deve-se ponderar que, o percentil de pessoas em situação de vulnerabilidade, mediante o viés do parâmetro da renda, é ligeiramente menor do que a aferição que se faz pelo emprego dos fatores de análise mais abrangentes, ligados a circunstâncias de desproteção várias. Disso se deduz que, a reflexão acerca da inclusão de indivíduos periféricos na ordem econômica exige uma metodologia condizente com um paradigma estrutural novo, e que, por mais pungente que perdure sendo a questão econômica, ela, quando bem tratada, resolve apenas parte do problema. Esse panorama me leva a crer que a saída é a intersetorialidade. O Estado, o mercado e a sociedade precisam se entrosar para absorver essa demanda nova (nova, ao menos, no perfil). E isso não é mercantilizar ou promover o empresariamento da expressão hodierna da questão social, diferente disso, é a quebra dum modelo verticalizado e ineficiente. Calha, em muitas das vezes, agir como coordenador e legitimador, do que resolver tudo sozinho, ou almejar a isto, sem êxito, no entanto. É imperioso conhecer o mato em que se lenha. Um indivíduo ou um arranjo familiar são muito mais do que uma faixa de renda. Eles moram num território com características próprias, dentro do qual se estabelecem relações econômicas, políticas, sociais e culturais. Aumenta cada vez mais o número de famílias monoparentais ou aquelas em que a figura de referência é a feminina. Isto se chama matricialidade. A demanda tem um perfil passível de tipificação. A realidade concreta e específica dá ao gestor público a noção de vulnerabilidades, mas também de potencialidades. Tão importante quanto vedar brechas indesejadas é saber aproveitar o que pode servir de sustentáculo para a autonomia dos cidadãos carentes que batem à porta das unidades públicas de atendimento, socioassistenciais ou outras. Luz!