Economia grega
No último dia 1° de julho (de 2024) passou a vigorar na Grécia uma jornada semanal de trabalho de seis dias. Sim, o período trabalhado foi majorado de cinco para seis dias, o que em horas, representa uma passagem de quarenta horas para quarenta e oito. O slogan do atual governo é este: “Trabalhar mais […]
Por Israel Minikovsky 16 min de leitura
No último dia 1° de julho (de 2024) passou a vigorar na Grécia uma jornada semanal de trabalho de seis dias. Sim, o período trabalhado foi majorado de cinco para seis dias, o que em horas, representa uma passagem de quarenta horas para quarenta e oito. O slogan do atual governo é este: “Trabalhar mais para ganhar mais”. Apesar da impopularidade da inovação normativa, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, se refere à mudança com otimismo e, segundo suas falas, trata-se de uma alteração legislativa “favorável aos trabalhadores” e “profundamente orientada para o crescimento”. A reforma jurídica vem num momento de recuo demográfico e baixa produtividade. O grito e a indignação dos sindicalistas gregos apoiam-se nisto, enquanto a tendência mundial é reduzir a jornada de cinco para quatro dias, a Grécia está fazendo o caminho inverso. Os contemporizadores afirmam que, na prática, os gregos já vêm trabalhando seis dias, pois um número significativo de pessoas complementa o trabalho do emprego com atividades ligadas, nos finais de semana, ao setor de turismo e alimentação. A realidade econômica grega hoje é estampada pelo alto custo de vida. Na última década ocorreu uma grande fuga de cérebros. Em torno de 500 mil pessoas se evadiram de sua pátria, em sua maioria, pessoas jovens e instruídas. A ala de esquerda enxerga a mudança como uma flexibilização das garantias trabalhistas e piora na qualidade de vida. Pontuo que, historicamente, os países que estão, agora, apostando na redução da carga horária são, justamente, aqueles que, no passado, superexploraram a própria mão de obra (e a mão de obra importada da África, à força). Como pioneiros da cultura europeia, e segundo uma visão romanceada de si mesmos, não totalmente inverídica, os gregos sempre gostaram de fazer ginástica e filosofar. E, com isso, acabaram deixando o trabalho em segundo ou terceiro planos. No entanto, tudo isso me parece uma grande procrastinação. A Revolução Industrial é mais ou menos como um remédio amargo que um dia toda nação há de tomar. A implementação do maquinismo e a correspondente exploração do industriário na linha de produção é a condição sine qua non de uma sociedade desenvolvida. É na intensificação do esforço empregado no trabalho que os povos desenvolvem suas economias, formam uma massa de capital substanciosa o bastante para ter com que investir, criam a infraestrutura da nação, consolidam seu parque fabril. Os gregos poderiam ter tido feito no passado, mas não no fizeram, e terão de fazê-lo agora. A industrialização de um país e tudo quanto se exige e concorre para que ele passe a ser desenvolvido é tão impactante, que hoje, por exemplo, o idioma mais usado na filosofia é o inglês. Isto sinaliza que a cultura intelectual acompanha e é alimentada pela cultura material. Digo isto para esclarecer que, mesmo que o maior valor da civilização grega consista em mostrar-se como referência em filosofia e outras formas de pensamento humano, igualmente, para atingir esta meta, terá de banhar-se em suor. Não há nada de errado em celebrar as glórias do passado, mas o mundo é o aqui e agora. A filosofia é a primeira forma séria e consequente de conhecimento, deixando para trás o senso comum e o mito, precisamente por proclamar a universalidade de suas verdades. E o desafio da Grécia, hoje, é este: universalizar sua economia, integrar ao resto do mundo sua infraestrutura, jogar o jogo da União Europeia. Quem, ontem, foi pioneiro, presentemente está tentando alcançar os parceiros de bloco para ficar à altura dos seus consortes. Na Antiguidade a civilização grega teve o seu ápice. Todavia, deve-se considerar que, em Atenas, filósofo algum teria refletido com a profundidade e abrangência peculiar às personalidades que tão bem conhecemos, se este ambiente favorável não tivesse sido possível graças a um polo comercial de relevo. Sim, pois a filosofia nasce do ócio, e só pode dar-se ao luxo de não trabalhar e poder pensar ali, onde o trabalho é delegado para terceiros, a partir do momento em que a meditação recruta homens valorosos em regime de dedicação integral. Quem visa ao ócio, para filosofar, entreter-se ou simplesmente descansar, precisa saber que, caso esteja falando sério, antes de tudo deverá desdobrar-se no trabalho, para só então, adentrar ao mundo encantado erigido pelo próprio esforço. Simples assim. Nada diferente disso funcionará.