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A filigrana entre a vida e a morte

No dia 13 de julho de 2024, num comício a seus apoiadores, no estado da Pensilvânia, Donald Trump foi alvejado por um atirador. O autor do disparo tinha vinte anos de idade e chamava-se Thomas Matthew Crooks. Assim que abriu fogo contra o presidenciável, o franco-atirador foi neutralizado, leia-se “morto”, por agentes do Serviço Secreto. […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

No dia 13 de julho de 2024, num comício a seus apoiadores, no estado da Pensilvânia, Donald Trump foi alvejado por um atirador. O autor do disparo tinha vinte anos de idade e chamava-se Thomas Matthew Crooks. Assim que abriu fogo contra o presidenciável, o franco-atirador foi neutralizado, leia-se “morto”, por agentes do Serviço Secreto. Um dos tiros passou raspando a orelha direita do político. Além do próprio atirador, uma pessoa dentre os apoiadores políticos foi morta, e duas pessoas ficaram em estado grave. Seria mera coincidência que Jair Bolsonaro, no Brasil, tenha levado supostamente uma facada nas costas, enquanto seu homólogo norte-americano foi posto diante da mira de um rifle? Não seria uma estratégia de vitimismo? Sim, porque, com esta, Trump deixa de ser o arrogante de sempre para ser convertido em vítima inocente. Avento esta hipótese pisando em ovos. Pois não sei se, além da tecnologia necessária, haveria um ser humano tão hábil, capaz de apenas “esquentar” uma área cartilaginosa do corpo, simultaneamente, evitando acertar qualquer ponto crítico. Que tal? Se bem que, há quem diga, o que acertou a orelha de Trump não teria sido nenhum projétil, mas estilhaço de vidro. A teoria da montagem de cenário se depara com o fenômeno da hiper-realidade, a qual lança em nosso rosto o fato truísta e simples, de que as coisas aconteceram exatamente como os nossos falhos sentidos acusam. O motivo pelo qual escrevo este artigo não se relaciona com a segurança pessoal de Trump, ainda que ele seja credor do mesmo nível de compaixão a que faz jus um ser humano mediano. Muito embora, registre-se a salva, o ocorrido coloca em xeque a eficiência dos órgãos de segurança estadunidenses. O que aqui escrevo, em verdade, vem ao encontro de uma diretriz republicana, ou, para usar um termo mais genérico, uma diretriz “de direita”. É capitoso que um político que defende o livre comércio de armas seja, ele próprio, vítima do mau uso destes instrumentos de morte. É por isso que entendo ser o pensamento de esquerda mais consequente. O caso em comento, da liberação de armas, é paradigmático. Porém, existem outras situações, que se parecem com esta recente. Quem sonha em ser um bilionário, exibindo-se no seu veículo de luxo blindado, protegido da miséria que ressalta sua suposta superioridade, deve entender que uma discrepância excessivamente acirrada atravessa qualquer barreira de segurança. Seguro mesmo é viver num mundo razoavelmente justo. Nada obstante, o atirador não era uma pessoa financeiramente hipossuficiente. Isto quer dizer que o gargalo era outro: o da saúde mental. O axioma de que parto me sinaliza que, tanto a miséria material quanto o transtorno mental, são expressões diferentes da mesma questão, a questão social. A conjuntura sempre faz emergir algumas indagações. Uma delas: Estados Unidos da América, a maior democracia do mundo? Se tomarmos em conta a violência que acompanha os processos eleitorais dessa potência, seremos induzidos a responder negativamente. Lado outro, a decisão de Trump de manter a agenda tal como fora programada, sugeriria a prevalência dos melhores princípios políticos em face das tentativas de burlar a ordem natural das coisas. A campanha dos democratas, que foram incumbidos de provar que Joe Biden não é um ancião cujas faculdades mentais definham pelo declínio cognitivo, agora tem de se desvencilhar de mais esta. Oportunamente, Biden telefonou para Trump, reprovando o ocorrido e o emprego de todo tipo de violência nas eleições. Partilhando a condição de idosos, Biden com 81 anos e Trump com 78, o candidato republicano sai do infortúnio com larga vantagem, dando a entender que possui força e energia para aguentar o repuxo, eis que nem um grave atentado foi capaz de mudar seus planos prefixados em um único milímetro sequer. O mundo aguarda que os norte-americanos elejam seu presidente da República pacificamente, a fim de que, uma vez empoderado, ajude a resolver pacificamente (redundância proposital) a guerra russo-ucraína e a guerra israelopalestina. Paz é luz!