Yamandú Orsi
Em 24 de novembro de 2024, Yamandú Orsi foi eleito presidente do Uruguai, devendo assumir o cargo a partir de 1º de março de 2025. Ele é um herdeiro político de José Mujica, velho esquerdista. A propósito, no que se refere ao perfil ideológico de Orsi, ele é classificado como de centro-esquerda. A vitória deste […]
Por Cleverson Israel 19 min de leitura
Em 24 de novembro de 2024, Yamandú Orsi foi eleito presidente do Uruguai, devendo assumir o cargo a partir de 1º de março de 2025. Ele é um herdeiro político de José Mujica, velho esquerdista. A propósito, no que se refere ao perfil ideológico de Orsi, ele é classificado como de centro-esquerda. A vitória deste político afeta diretamente o Brasil. Em primeiro lugar, o Brasil é o maior parceiro comercial do Uruguai. E as relações comerciais são bilaterais, e não unilaterais. Existe um movimento de comprar e vender que contempla os dois sentidos do trânsito comercial. Do ponto de vista econômico regional, o empoderamento de Orsi tende a fortalecer o Mercosul. Todavia, sempre precisamos estar espertos para o fato de que o Mercosul nunca é pensado, qualquer que seja o país avaliador, isoladamente. As trocas que fazemos, com nossos vizinhos, ocorrem ao lado do sopesamento da valia de uma eventual aliança comercial com Estados Unidos da América, União Europeia e China. Não se fala mais em Mercosul prescindindo-se da consideração do fator BRICS. Qualquer que seja a movimentação das peças no tabuleiro econômico, parece que uma estratégia de logística unindo Atlântico e Pacífico é sempre algo bem-vindo. O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento deve destinar recursos para obras de infraestruturas internacionais. Essa iniciativa esbarra em parlamentares do Congresso Nacional que vislumbram horizontes mais estreitos, sem perceber que essa proposta não é um esbanjamento de dinheiro, mas uma ação útil e necessária. Se a China está criando infraestrutura em todos os lugares do mundo, isso não é uma prodigalidade, mas a implementação de uma sequência de etapas que visa viabilizar o crescimento econômico. Aliás, esse é o melhor exemplo de globalismo. Enquanto a globalização é predatória e aproveitadora, o globalismo é lógico e consequente. Se a perícia técnica e econômica acusar a propriedade de o Executivo Federal brasileiro instalar bases logísticas em território uruguaio, não há porque deixá-lo de fazer. Investimento não é fundo perdido, é dinheiro que se devolve corrigido e acrescido de juros, e que premia todos os envolvidos na relação. Para que a relação econômica entre Brasil e Uruguai amadureça, é conveniente que se promovam reformas na legislação tributária, cá e acolá. Como cobertor pequeno, agora que o Uruguai se acha sob boa cobertura, é a Argentina que se mostra despida e desamparada. Javier Milei é a mais perfeita antípoda ao Mercosul. Porém, quem sabe, a longo prazo ele pode favorecer o Mercosul, pois deixou estampado que a administração de um governo, com o viés da extrema-direita, não é minimamente capaz de atender às necessidades mais basilares da sociedade argentina. Por conseguinte, alimentamos a expectativa de que os próximos governos do argênteo vizinho difiram radicalmente deste de agora. O povo uruguaio fez o dever de casa, colocou no mais alto cargo de seu país um cidadão à altura das correspondentes atribuições. A Guerra da Cisplatina (1825-1828) foi a primeira travada pelo Brasil, como nação independente. Nesse conflito bélico, Brasil e Argentina disputaram o domínio pelo território que, hoje, é o Uruguai. Momentaneamente, nós brasileiros não consideramos o Uruguai uma província rebelde, pelo contrário, somos nações irmãs, e fomentamos íntimo respeito recíproco. A história tem seu valor, mas, daqui para frente imperarão a diplomacia, o pragmatismo com observância da ética, as rodadas de negociação plenas, sem omitir aspecto algum. É conveniente que estejamos, neste exato momento, rodeados por países cujos chefes de Estado tenham sido empoderados pelas urnas democráticas. Essa conjuntura dificulta o rompante ditatorial que ronda o Brasil. Os meios de comunicação social comentam o dia inteiro provas e prévias atinentes à tentativa de golpe no início de 2023 ou ao findar de 2022. Nem mesmo um ditador consegue gerir a coisa pública sem o reconhecimento internacional. Um cerceamento generalizado é capaz de levar um país à bancarrota em questão de dias. Eu penso que a eleição de Orsi, embora impactante para todos os brasileiros, importa de maneira mais próxima para o povo gaúcho. Para quem vive próximo à fronteira, pode ser mais fácil mobilizar forças estrangeiras, com quem se mantém proximidade espacial, a ter de esperar diligências do Planalto Central. Pela mesma razão que não devemos nos indispor com a vizinhança onde moramos, analogamente, gaúchos e uruguaios devem fazer as honras mútuas, desde que não saibamos as boas e más surpresas que o destino nos reserva. Se um metalúrgico e um professor galgaram liderança em altas esferas na América Latina, isto é prova de que o continente tem saída, tem esperança. Votamos melhor do que os ianques, exemplificativamente. O Uruguai está de parabéns, trilhará iluminados caminhos pelos próximos cinco anos! (Logo após eu ter redigido este artigo, foi fechado o acordo Mercosul-União Europeia. Um processo que culminou agora, e que se estendeu por 25 anos. O número de pessoas abrangidas pelo acordo é de 700 milhões. A celebração do pacto foi objeto de toda mídia internacional. Todavia, ainda não está pronta a redação final do acordo, sendo necessário detalhar tecnicamente seus pormenores).