A Consciência Negra e os Números
Em 20 de novembro é comemorada a consciência negra. Se estudarmos a filosofia idealista alemã, veremos que a consciência, por definição, é branca. Explico: o conceito de “consciência” foi forjado nos países predominantes do continente europeu. A filosofia clássica alemã se deleita com o tema. Por isso, falar em “consciência negra” e, reservar uma data […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Em 20 de novembro é comemorada a consciência negra. Se estudarmos a filosofia idealista alemã, veremos que a consciência, por definição, é branca. Explico: o conceito de “consciência” foi forjado nos países predominantes do continente europeu. A filosofia clássica alemã se deleita com o tema. Por isso, falar em “consciência negra” e, reservar uma data no calendário para ela, é uma atitude política e cultural de contestação. Em 15 de novembro de 2022 celebramos não só o 133º aniversário da república no Brasil, mas também o atingimento da marca de 8 bilhões de humanos habitando simultaneamente este planeta. Os nossos próprios números nos impressionam. Ao menos 38% da superfície da Terra é coberta com culturas agrícolas voltadas às necessidades antrópicas. Diariamente, em conjunto, tiramos 4,1 bilhões de fotografias e trocamos entre 80 e 127 trilhões de palavras. Se você acha 8 bilhões de almas um número expressivo, está correto. No entanto, Jeff Bezos idealiza um condomínio astronômico em que nos distribuiremos em um trilhão de humanos ao longo do sistema solar. É claro que o nosso êxito biologicorreprodutivo tem um custo. O planeta precisa nos suportar. Deixamos nossa marca no que se convencionou chamar, por exemplo, de “pegada hídrica” ou “pegada ecológica”. Todavia, a curva de crescimento tem sido afetada por vários tipos de tendência. Em muitos países a taxa de fertilidade está abaixo do nível de reposição, ou seja, menos de dois filhos por casal. Penso que, analisando gráficos, estatísticas e números, não precisamos e não devemos entrar em pânico. Mesmo um crescimento pífio é ruim se ausente o planejamento. E um país superpopuloso pode ir “muito bem, obrigado” se houver planejamento. E a China é a maior prova fática dessa tese. Talvez o amável leitor se pergunte acerca de qual eventual relação entre as preocupações demográficas planetárias e o dia da consciência negra. A relação é objetiva e até, de certo modo, óbvia. Ainda estamos sob os efeitos do Covid-19. A pandemia atingiu todos os países do globo. Porém, o impacto desdobrou-se em modulações diferentes, mais ou menos simétricas às relações prévias entre os países do ponto de vista econômico, político e militar. Quando a discussão do superpovoamento do globo vem à tona, a solução sempre passa por descartar aqueles que são considerados descartáveis. Se, deveras, o HIV foi uma arma biológica produzida em laboratório, sequer é preciso enunciar que o continente mais afetado foi o africano. Isso faz prova da prática científica e sem rosto do emprego de limpeza étnica e genocídio. Um olhar realista e ético lançado ao âmbito coletivo em nosso país nos desafia a isto: construir um plano que reforce e consagre os direitos humanos casados com uma visão técnica e administrativa que contemple o perfil adequado de uma ingerência resolutiva. Sendo o Brasil o país com o maior número de negros fora da África, e estando nossa população em franco processo de envelhecimento, o tópico do alto da pauta não pode ser outro, nós próprios. Absolutamente fora todo preconceito, a qualquer hora e principalmente neste momento, e muito tino político e administrativo. O Brasil e o mundo precisam de um projeto político que contemple crescimento econômico, respeito ao meio ambiente e cuidado e atenção ao cidadão, seja lá qual for sua etnia ou cultura. O negro, como humano que é, partilha das preocupações dos seus semelhantes. Entrementes, ele se acha abrangido por uma complexidade inerente à sua condição. E quem está fora desse grupo não pode fingir inexistir a referida complexidade. O que toca o outro, a mim toca de igual forma. Luz!