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A situação na Albânia

A Albânia está a sofrer a terceira maior diáspora do mundo, ficando atrás apenas de Bósnia-Herzegovina e Guiana. Com a recessão econômica, a mão de obra emigra para outros países do continente, em busca de trabalho e renda. Assim, perfectibiliza-se a espiral da bancarrota em queda livre, pois onde não há pessoas tentando satisfazer suas […]

Por Israel Minikovsky 12 min de leitura

A Albânia está a sofrer a terceira maior diáspora do mundo, ficando atrás apenas de Bósnia-Herzegovina e Guiana. Com a recessão econômica, a mão de obra emigra para outros países do continente, em busca de trabalho e renda. Assim, perfectibiliza-se a espiral da bancarrota em queda livre, pois onde não há pessoas tentando satisfazer suas necessidades, não há circulação de riqueza. A Albânia era um dos países sob a batuta do bloco soviético. Todavia, indagando-se os jovens sobre a causa da situação do país, aponta-se o dedo para o sistema político, a frágil democracia, a corrupção, a disseminação do uso de drogas, a ineficiência dos serviços públicos, a insegurança social como um todo. Interrogada sobre uma possível saída da crise, a mesma juventude não hesita indicar o investimento dirigido, planejado e massivo em educação. É bastante cômodo ligar a situação presente da Albânia ao seu passado socialista. Entretanto, note-se que na época socialista o bem-estar social era mui superior ao atual. Acertada é a opinião da juventude que deposita sua esperança na educação. E essa educação deve estar antenada com a realidade econômica do mercado mundial, com as tecnologias de ponta. Sem embargo, eu não poderia me esquivar de assinalar a salva de que, no geral, em todas as partes do globo, com exceção dos países ainda socialistas, não se estuda mais o marxismo, e suas variantes, na universidade. Uma experiência tão duradoura, a qual, de acordo com Eric Hobsbawm, ocupou todo o “breve século vinte” não pode ser tão absurdamente ignorada. Uma revolução bem-sucedida, em tantos quesitos, não merece o mesmo tratamento como a troca de uma muda de roupa. Em meu entendimento, o socialismo real comprovou o alcance da iniciativa estatal, o que mais uma vez foi roborado com a queda do regime, quando o aparato público, em parte, mudou de mãos, ficando sob o encargo de sedizentes liberais de desprezível experiência administrativa. Consigno isto tudo, para argumentar que é recomendável recuperar as fórmulas corretas da pretérita economia planificada, ao passo que o lado débil dessa mesma vivência deveria desafiar e fomentar o intelecto da geração presente, acusando os pontos falhos e construindo estudos que anulem estas inconsistências. É irônico, mas não intencional deste articulista, mas a Albânia acha-se trôpega por não ter aprendido a maior lição da doutrina socialista, a solidariedade e cooperação dos membros da coletividade. É porque cada um age pensando em si, e não no todo, que o processo de deterioração social se acelera. O país, há muito tempo, pretende integrar a União Europeia, mas o processo de membresia ao bloco tende a ser longo, pois há muitas exigências. Tudo isso demonstra que, hodiernamente, ninguém cresce sozinho, e ninguém quebra sozinho. O de que se trata não é da demonstração de ineficiência de um modelo de organização social, mas de um país que era parte de algo maior, perdeu o vínculo, e não encontrou, por ora, um novo parceiro para sub-rogar o antigo. No dizer do medalhão do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci, “o velho já morreu, o novo não nasceu, e vive-se um momento de morbidez”. Nada que muito planejamento e intervenção estatal qualificada não possa resolver.