A Cultura do Medo
Nos últimos anos, no Brasil e em grande parte do mundo, o medo tem sido a via eleita para dominar as massas. A cultura do medo está transpassando todos os espaços pelos quais transitamos. Na política, a extrema-direita faz alarde de que é necessário impedir a ação dos comunistas, que estariam pretendendo acabar com o […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Nos últimos anos, no Brasil e em grande parte do mundo, o medo tem sido a via eleita para dominar as massas. A cultura do medo está transpassando todos os espaços pelos quais transitamos. Na política, a extrema-direita faz alarde de que é necessário impedir a ação dos comunistas, que estariam pretendendo acabar com o cristianismo, com a família, com isto e mais aquilo. Pelo whatsapp, me enviam mensagens escatológicas, afirmando que o fim dos tempos chegou. Uma mistura de textos arrancados do livro de Apocalipse, fora de seu contexto, com as aparições de Nossa Senhora, mais a rebeldia da Igreja Católica Alemã, contestando as diretrizes do Vaticano. A cúpula eclesiástica alemã estaria arquitetando abolir a eucaristia como milagre, a transubstanciação, equiparando a missa a um culto protestante. Ela ainda defenderia a ordenação presbiteral de mulheres, o matrimônio dos padres e a condescendência com a homossexualidade, a qual não mais seria impeditivo para a desejável comunhão com a comunidade cristã e a instituição Igreja. Como se vê, o mundo estaria próximo do Juízo Final pelo fato de acolher a evolução dos tempos, por acatar uma pauta progressista. Os propaladores do fim de tudo sabem que o ser humano não raciocina sob a opressão do medo. A mente do ser humano, em estado de alerta ou alto risco, fica mais econômica, sacrifica toda inteligência e reflexão para assegurar o mínimo básico. E nessa tensão prolongada, os cidadãos respondem roboticamente aos estímulos intencionalmente dirigidos a eles. A “grande tribulação” pela qual estamos passando é a injustiça social, a desnutrição yanomami, a insensibilidade aos necessitados. Se há alguma coisa grandiosa e séria que pode nos sobrevir é o que já está acontecendo: a perda da autonomia, a perda da capacidade de discernimento, a alienação intelectual e, consequentemente, de todo o nosso ser. Depois de várias décadas de contestação cultural, reivindicando o merecido espaço à individualidade, aquele cadinho da alma que nos permite ser alguém, e não uma coisa apagada como uma andorinha numa revoada de milhares, estamos retrocedendo. É mais cômodo, e parece ser mais seguro, deixar-se contaminar por aquilo que é sugerido, difusamente, ao coletivo. A sugestão é mais que um comando, haja vista que estamos sob estado hipnótico. Cada ala ou partido parece ter o seu próprio anticristo. O lintel de cada janela, ou o batente de cada porta, apresenta-se como o derradeiro refúgio nessa véspera, em que as potestades angelicais aguardam o toque da trombeta, a fim de realizar o que lhes estava programado desde antes da fundação do mundo. Se eu acredito em fim do mundo? Sim, com certeza. Todo o universo é dinâmico, e a Terra, o Sistema Solar e a Via Láctea estão dentro disso. Basta estudar astronomia. Contudo, do ponto de vista espiritual, o fim do indivíduo é o fim do mundo para ele. Então, como diz o salmo, “setenta anos é a duração da nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta”, sendo assim, não é preciso pegar uma calculadora na mão para um momento de introspecção e retrospectiva. Seja ético, seja bom, seja justo, respeite a todos, lute por você mesmo, pela sua família, por uma sociedade e uma humanidade mais justas. Não podemos perder jamais a capacidade de amar. Só o amor constrói. E o amor é o justo oposto do medo. Todos somos desafiados à ação transformadora do mundo. O medo nos paralisa. Nada constrange tanto aos tiranos quanto uma mente e um coração desprendidos, ou como diria Paulo de Tarso, “não devemos temer aqueles que só podem destruir o corpo, devemos temer aqueles que podem pôr nossa alma a perder”. Em síntese, é isto. Medo é escuridão, e amor e coragem são luz!