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A escola pelo viés do aluno

Tenho lido, nestes últimos dias, vários artigos, glosas e comentários, referentes a conceitos comezinhos ao meio escolar. Karen dos Santos, e eu a nomino em função dos seus créditos autorais, nos deixa de sobreaviso para que não recaiamos no erro de querer a formulação rápida de uma solução, sem debate com a sociedade. Ela sugere […]

Por Israel Minikovsky 16 min de leitura

Tenho lido, nestes últimos dias, vários artigos, glosas e comentários, referentes a conceitos comezinhos ao meio escolar. Karen dos Santos, e eu a nomino em função dos seus créditos autorais, nos deixa de sobreaviso para que não recaiamos no erro de querer a formulação rápida de uma solução, sem debate com a sociedade. Ela sugere que o enfrentamento de uma situação se liga à compreensão das causas do fenômeno. Por conseguinte, ainda segundo ela, a percepção do adolescente, do momento atual, sofre com o desfoque, que se traduz na divergência entre a vida real e a vida virtual. Não bastasse o inquinamento da percepção pelos multimeios, o jovem de agora padece com a falta de expectativa. Está cada vez mais complexo e desafiador se relacionar com o mundo, com o nosso entorno. Essa desesperança decorre de uma variedade de fatores e, dentre eles, agora a fala já é minha, eu destacaria o declínio das religiões em geral, principalmente do cristianismo. Fernando Horta, por sua vez, outra fonte consultada, bem provavelmente, calcado em Freud, Deleuze, Guattari, Lacan e Foucault, procura explicar a violência intraescolar através do conceito de castração. A escola não é só uma instituição que promove aprendizagem, ela também impõe uma determinada ordem. No momento de despertamento endócrino, o aluno é reprimido, a própria violência que acompanha todo ser humano é reprimida. Sendo assim, o público discente é conduzido contra a vontade a experimentar a frustração e o recalcamento. Logo ali, no espaço educacional, o aluno sofre com o exercício do micropoder. A atribuição de nota, por exemplo, não serve apenas para mensurar ou aferir o nível de desempenho do aluno, mas é uma ferramenta mais ou menos sujeita à discricionariedade do professor, de que ele se serve para punir os indisciplinados, em tese. Se fascismo é uma modalidade de exercício de poder, e se o poder, na maioria dos casos encontra sua expressão no micropoder, é defensável o emprego do termo “microfascimo”. Com efeito, assim passamos a ter o fascismo, em nível macro, refiro-me ao Executivo Federal, à experiência pretérita que tivemos, e temos o microfascismo, bem perto de nós, no local de trabalho, na associação de moradores, no sindicato, etc, enfim, no ambiente estudantil. Tanto o fascismo, quanto o seu contraponto, uma sociedade socialista e livre, fazem pressupor uma ordem profunda e invisível. O desconforto e a falta de entrosamento, entre a subjetividade do aluno e o aparato que lhe é circunstante, geram o pico de estresse e, em alguns casos, a manifestação de violência. O aluno não consegue adequar a própria personalidade ao universal vigente. O pensamento filosófico europeu firmou a universalidade do pensamento. E ele serve de baliza para a conduta moral, para todas as atividades que queiramos desenvolver. No entanto, esse “universal” tem o rosto do seu autor, é um universal “branco”. E sem tirar o mérito da produção teórica do movimento negro, posso dizer que somos, em alguma medida, autocríticos, pois nos achamos cientes da própria suspeição, no sentido de que nos damos conta de nossos preconceitos ligados à nossa inerente branquitude. E, quem estudou a história da Europa, sabe da diversidade de cultura que é este continente. E agora, com a emergência da China como grande potência mundial, se avizinha um novo tipo de universal, o universal chinês. Desta feita, aquilo que já era complexo, ficará ainda mais. Se bem que, suponho haver menor heterogeneidade cultural entre os vários grupos étnicos que habitam o grande dragão vermelho, do que aquela que se verifica no Ocidente. Se o Judiciário chinês comina pena de morte a um delinquente, com a mesma naturalidade que um magistrado brasileiro condena um contraventor ao pagamento de uma cesta básica, isto não choca aos autóctones. Entrementes, não encaramos esta “solução” com a mesma tranquilidade que cinge os burocratas do partido sino-comunista. Diria que é “relativamente fácil” matar, justamente quando, a despeito das mencionadas práticas judiciais, a meta vem a ser vida e paz para absolutamente todos. Ora bem, havendo panorama para se falar em escola em tempo integral, penso que ela deveria contemplar carga horária mínima de recreação, uma vez que esse período resultaria no abrandamento do nível de ansiedade e pressão psicológica por que passam os alunos.