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A noosfera e seu terreno moral

Na história da filosofia, é possível identificar tendências contrárias, indicando este ou aquele saber como o mais importante, como aquele que abarca os demais. Então, ser o continente ou o conteúdo, é circunstancial. As concepções filosóficas mudam de acordo com a geografia e com as épocas. Entretanto, como sou não só um estudante de filosofia, […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Na história da filosofia, é possível identificar tendências contrárias, indicando este ou aquele saber como o mais importante, como aquele que abarca os demais. Então, ser o continente ou o conteúdo, é circunstancial. As concepções filosóficas mudam de acordo com a geografia e com as épocas. Entretanto, como sou não só um estudante de filosofia, mas filósofo chancelado por meus muitos anos de estudos filosóficos, tomei a liberdade de montar uma espécie de tábua dos saberes, dando-lhes função de acordo com sua situação dentro do quadro do todo. Penso que o esquema abaixo pode nos ajudar a compreender para que servem os saberes, e que relação eles têm com nossa vida prática. Senão vejamos:

Aumenta a praticidade técnica →

←Diminui a praticidade técnica

←Aumenta a praticidade moral

Diminui a praticidade moral →

TEOLOGIAFILOSOFIACIÊNCIATÉCNICA

Em traços largos, quando nos movemos para a esquerda, estamos em busca de saber o que e por que fazer. Quando nos movemos para a direita, é porque sabemos o que queremos, e nossa meta, neste momento, é adquirir know-how, é nos apropriarmos dos métodos que redundarão em nossos objetivos traçados. Ser perito em teologia, sem sequer imaginar as mediações pelas quais o Reino de Deus será concretizado é, na melhor das hipóteses, ser sal dentro do saleiro. Quem está no outro extremo, dominar a técnica sem critérios ou parâmetros, incorre no sério risco de se tornar perigoso e imoral. Logo, é altamente aconselhável que trabalhemos dentro de uma perspectiva de equilíbrio, em que cada um dos elementos acima receba o que lhe é devido. A ciência vislumbrou o conhecimento da natureza, permitindo ao ser humano otimizar sua performance enquanto protagonista da causa eficiente. Todavia, o velho sábio grego, formulador das quatro causas, o Estagirita, pontuou que a causa eficiente não está solta da causa final. Isto significa que devamos compreender a totalidade do processo, antes mesmo de principiar qualquer projeto, por mais simples que ele seja, sobretudo em se tratando de assunto de interesse coletivo. Somos, afinal, racionais e políticos, ainda segundo a lição do mesmo autor. Seja qual for nosso objetivo, seja qual for nossa especialidade, de todo modo, defendemos o que nos traz proveito a partir de um viés teórico. Pouco importa se a discussão versa sobre a salvação espiritual ou a dedetização de um imóvel. Sem embargo, por fás ou por nefas, é imperioso que empreguemos nossas faculdades mentais na obtenção dos meios conceituais que se prestam de instrumento de interposição entre o ser pensante e a realidade objetiva a que se dirige a intervenção. Quanto mais “perdermos tempo” com estudo, mais tempo estaremos ganhando e economizando. Os países onde mais rapidamente ocorrem as mudanças, culturais, tecnológicas, econômicas e políticas, são aqueles que se fazem notabilizar por estender a fase de estudo e testes, antes da implementação de novidades, por mais promissoras que elas pareçam. Não se fala tudo o que se pensa, não se faz tudo o que se pensa. Mas tudo que é dito e feito deve ser precedido pela análise do pensamento criterioso. Não creio que um país possa se desenvolver, do modo certo e dentro da velocidade almejada, enquanto as ideias ventiladas, cá neste artigo de periódico, não forem conhecidas e claramente compreendidas pelo cidadão médio de nossa pátria. A gratuidade e a universalização da instrução básica fundamentam-se na crença de que concepções, tal como esta, aqui noticiada, devem integrar o grid de largada para a juventude que encerra os estudos médios e adentra à universidade e ao mercado de trabalho. Como pode alguém, que desconhece algo, afirmar que aquilo que ele desconhece não se faz acompanhar de nenhuma serventia? Muito estranho mesmo. Luz!