À procura do tempo
Logo mais, teremos a Copa do Mundo Feminina. A seleção feminina brasileira procurará consagrar-se no futebol, como há algum tempo vem fazendo sua homóloga do sexo oposto. O primeiro jogo ocorrerá em 24 de julho de 2023. A ministra dos esportes pediu ao presidente Lula, que nos dias de jogo, haja ponto facultativo. Pelo axioma […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
Logo mais, teremos a Copa do Mundo Feminina. A seleção feminina brasileira procurará consagrar-se no futebol, como há algum tempo vem fazendo sua homóloga do sexo oposto. O primeiro jogo ocorrerá em 24 de julho de 2023. A ministra dos esportes pediu ao presidente Lula, que nos dias de jogo, haja ponto facultativo. Pelo axioma jurídico da simetria, parece-me plausível o requerimento, até em homenagem ao princípio insculpido na Carta Magna, de isonomia entre homem e mulher. A República Federativa do Brasil é um dos países em que mais se verifica ocorrências de feriado e ponto facultativo. Agora, estão propondo mais lacunas nos dias úteis de nosso calendário. O esporte traz visibilidade ao nosso país? Sim, este é, aliás, o argumento. Contudo, a economia não pode parar. Em verdade, um dia não trabalhado gera mais despesa, do que geraria renda, se trabalhado normalmente fosse. Independente da copa do mundo, deparo-me bastante com isso, coincidem dois feriados num único mês. Estes dias, somados com sábado e domingo, comprometem todo um ciclo de trabalho. Não há rotina laboral que consiga ir bem quando nossa agenda está mais furada do que um queijo suíço. Fica a pergunta: quem pagará nossas contas? Quem deverá suportar o prejuízo? Nem toda espécie de trabalho pode ser parcelada, como quem divide seis laranjas, acomodando-as em três receptáculos, duas em cada um. A fragmentação dos expedientes de trabalho tem o efeito de protelar a consumação daquelas tarefas, que requerem o concurso de uma série de elementos e um período mínimo de tempo. Compromissos que têm prazo certo para serem perfectibilizados, e que são corridos, enlouquecem os responsáveis pelo seu adimplemento, pois a subtração de qualquer lapso de tempo corresponde a uma forte majoração de estresse. Quem já não passou por isso: toda vez que pretende trabalhar enfrenta óbices de origem técnica e vê-se obrigado ao ócio involuntário? Pois esses dias não trabalhados guardam semelhança com essa circunstância. Comungo da ideia de que o governo deve investir em assistência social. Entretanto, o maior mérito de um governo é deixar as pessoas trabalharem, em muitas das vezes, não atrapalhar é a maior ajuda. O problema do ponto facultativo é que, o comparecer ao local de trabalho ou dele ausentar-se, é fortemente influenciado pela ponderação “o que os outros vão pensar de mim?”. Quem resolver assistir aos jogos poderá ser interpretado como relapso, enquanto a decisão contrária poderá ser lida como puxa-saquismo. De duas, uma: ou a seleção fracassa e ficamos frustrados, ou ela vence e ficamos iludidos. Não será um troféu de copa do mundo, masculina ou feminina, que haverá de resolver nossos problemas. Cada trabalhador precisa “fazer o seu salário” e isso importa uma jornada mínima de atividade. Quem é ético, jamais trabalha para o patrão, ainda que seja empregado, antes disso, a saber, trabalha para si próprio. Não basta o contracheque ao fim do mês, é preciso que haja resolutividade. Quem puder assistir aos jogos em tempo real, ótimo! Quem não puder fazê-lo, deveria contar com a opção da retransmissão em horário de descanso. A emoção não é a mesma, no entanto, entre os sacrifícios, opte-se pelo menos dolorido. Desbravando os locais ermos da minha existência ou matando os leões do meu cotidiano, sinto-me tão ou mais brasileiro no meu local de trabalho, do que diante de uma tela em que se agitam alguns dos nossos exemplares. O que há de tão importante numa partida esportiva, para que um país de dimensões continentais como o Brasil fique parado e prostrado, até o seu desfecho? Sinceramente, não tenho nada contra esporte e o encaro como uma alternativa bastante viável para afastar a juventude da drogadição. Torço para que “as nossas meninas” tenham um excelente desempenho. Se for acatada a sugestão de fazer folga nos dias de jogo da seleção feminina, aliada à aprovação da redução do intervalo das copas para dois anos, assistir a todas estas partidas, perdoe-me o humor, será praticamente um trabalho pelo qual deveríamos receber salário. Luz!