A velha e perpétua moda
Não é de hoje que, no mundo da moda, o padrão corporal apresentado como ideal é o macérrimo. Pobres mulheres que se submetem a tais exigências. Você pode frequentar uma academia de ginástica, e eu até sugiro que faça isto. Pondero apenas que, não fomos feitos para sermos uma pilha de músculos. Em nome do […]
Por Israel Minikovsky 14 min de leitura
Não é de hoje que, no mundo da moda, o padrão corporal apresentado como ideal é o macérrimo. Pobres mulheres que se submetem a tais exigências. Você pode frequentar uma academia de ginástica, e eu até sugiro que faça isto. Pondero apenas que, não fomos feitos para sermos uma pilha de músculos. Em nome do mesmo princípio, o extremo oposto deve ser igualmente evitado. A natureza nos fez assim: algum tempo sem puxar ferro e nossa massa muscular nos dá adeus, e algum tempo se alimentando medianamente, e se recuperam os quilos da massa gorda. Como qualquer outro ramo de atividade produtiva, o setor fabril têxtil tem como meta vender e lucrar. No instante em que eles, os fabricantes do ramo de roupas, constataram que estavam perdendo clientes e dinheiro, por abandonar pessoas medianas e plus size, deram uma guinada à normalidade. Ao menos, por um tempo. Porém, ainda que reconhecendo a valia da contemplação de públicos como pessoas obesas, trans, idosas, etc., o que vimos nos últimos desfiles internacionais, que definem as tendências mundiais em vestuário, foi mais do mesmo, corpos excessivamente magros. A pergunta que emerge é esta: por quê? Eu não descartaria, imediatamente, um conluio entre empresas de moda e laboratórios farmacêuticos, por exemplo, haja vista que o uso de inibidores alimentares se apresenta como uma das primeiras opções. Dentro desta lógica, ou mera hipótese, vai saber, pode-se incluir empresas que vendem itens fitness. De qualquer modo, ainda que o dinheiro seja o “deus” desse mundo, recepciono o entendimento de que o sistema capitalista está antenado para o fato de que o dinheiro vem da venda de elementos de utilidade, e que para além da utilidade mesma, importam outros fatores, como a psicologia do consumidor. O consumidor está carente de que alguém lhe sirva como referência. Portanto, o mundo da moda lhe faz esta gentileza. São os grandes estilistas de notórias grifes que ditam o belo, aquilo que é esteticamente apetecível. E por mais que o ser humano externe que não gosta de “ser mandado”, remanesce claramente o aspecto normativo da moda. Para você ser alguém, você deve se vestir de determinada maneira, usar tais e quais acessórios. No local de trabalho o nosso patrão exige de nós porque, no fundo, é ele que paga nosso salário e, por isso, dentro de limites legais, ele dita o que e como devemos fazer. E nós nos submetemos a isso em nome de nossa subsistência. Entretanto, na seara consumerista não estamos livres. Também no ato da compra fazemos o que somos orientados a fazer. Somos influenciados no momento da aquisição do automóvel, do celular, da roupa, do calçado, do eletrodoméstico, do brinquedo para o filho, no momento da contratação da escola, do clube, do plano de saúde, da aposentadoria privada, do seguro, e por aí afora. Nessa conjuntura, o mundo da moda faz com que suas peças de indumentária transcendam o mero agasalhar-se, defendendo-nos das intempéries da natureza e cobrindo nossos pudores, para se tornarem uma importante meta. Saímos do campo da mera satisfação de uma necessidade e nos transportamos para o nicho dos valores. Adquirir uma roupa, um item, passa a lhe oferecer um bem simbólico, valorativo, no sentido axiológico, e não econômico, ainda que o viés econômico seja a força motriz oculta, que arquiteta todo este arcabouço. A magreza, dessarte, deve ser uma busca. Não tem problema e é até proposital que ninguém consiga atingir o biótipo dessas mulheres de vidro. Elas não estão ali para fazer o papel de seres humanos reais, elas são um conceito, uma baliza que se mostra a toda a sociedade e que diz “é a isto que vocês devem almejar, aproximem-se disso, o máximo possível”. Porque os estilistas sabem que, no fundo, o ser humano é assim mesmo: sempre quer mais, sempre quer melhor, cada conquista passa a ser, somente, mais uma conquista. Agora, que já sabemos os “porquês”, fica o conselho: uma dose cavalar de bom senso. Luz!