“Antes mais rico, Brasil tem agora 12% do PIB chinês e 56% do indiano”
Explicação e não embromação
Por Cleverson Israel 20 min de leitura
O título do presente artigo é uma chamada de capa do sítio Poder 360, publicado em 15 de março de 2025. O autor do referido conteúdo se reporta ao período econômico dos últimos quarenta anos, de 1985 a 2025. Ele dá a entender que a economia brasileira engatou uma marcha reduzida por conta do “populismo político” da última década. A culpa pelo insinuado mau desempenho nacional seria, portanto, do governo do Partido dos Trabalhadores. Quem conhece o óbvio de história do Brasil bem sabe que, o chamado “milagre econômico”, da época da ditadura, concretizou-se mediante a contração de dívidas junto a organismos financeiros internacionais. Enquanto somos devedores e pagantes de juros, a China é credora de todas as grandes potências econômicas ocidentais e de muitos outros países. Nesses quarenta anos tivemos muito mais mandatos, na gestão federal, de equipes de governo de direita do que de esquerda. O Brasil não andou mal. A China foi muito bem, obrigado! A tese de que “o socialismo não deu certo em lugar nenhum” choca-se com nada menos do que a mais pura realidade. Imagine, amável leitor, se tivesse dado certo?! Os paladinos da direita dizem que o liberalismo foi a maior invenção do Ocidente. Deveras, o liberalismo teve os seus méritos. O liberalismo, inicialmente, foi uma teoria revolucionária. Ela apregoou inclusão social. Quando somente o clero e a nobreza tinham vez e voz, os burgueses mostraram seu valor e se impuseram pelo muito esforço. Entretanto, remanesceram os exclusos, o chamado “quarto estado”. O socialismo vem abarcar os não abarcados pelo liberalismo. Ocorre que as conjunturas sociais e as teorias que circulam pelo coletivo, e ensablam a mentalidade das pessoas, são circunstanciais e contingentes. A Europa deixou de ser o centro do mundo e vê perder sua relevância em todas as searas, inclusive na econômica. Elaborando projeções, e crendo que elas se manterão no curso do tempo, logo mais o continente europeu inteiro, em bloco e tendo somado seus PIBs, não figurará entre as dez maiores economias mundiais. Com a internacionalização da tecnologia, despontarão no cenário planetário aqueles países que têm a maior população, e que são geridos pelos governos mais eficientes. A China deu essa guinada, justamente, porque era um gigante adormecido, acordou, e foi conduzida de uma maneira extraordinariamente planejada e sábia. Precisamos nos apropriar desse modelo de Estado e gestão. Viabilidade econômica e produção de riqueza são importantes. Contudo, a lógica de enriquecer e, depois, se tornar um investidor financeiro, como um jogador, esbarra na falta de otimização de recursos. Na China, a pletora do processo produtivo é invertido em mais infraestrutura, em mais meios de produção. No lugar da especulação, mais investimento. A China cresce porque “está com o pé na tábua”. É preciso reparar que o Brasil não é o único país que não logra crescer ao mesmo ritmo da aludida potência asiática. Os líderes europeus, e as melhores cabeças pensantes, das nações europeias ocidentais, estão assistindo à retração de sua relevância como sociedades de referência e como agentes econômicos mundiais, sem ter muito o que fazer. São processos civilizacionais de macroenvergadura. Um Estado bem organizado, capitaneado por um governo visionário, pode resolver enésimos problemas. Mas mesmo a política, com todas as suas possibilidades, esbarra em limitações. Dimensão territorial, recursos naturais, população, nível de desenvolvimento da técnica, tudo impacta o tamanho e o dinamismo da economia de um país. Negacionismo não leva a nada. Fingir não ver a crescente influência chinesa é a pior escolha. Não se trabalha contra a realidade, mas a partir dela. Em primeiro lugar, aceitar a realidade como ela é. Depois, admitido este senso de realidade, pensar o que pode ser feito. Esse, aliás, foi o método usado pelos chineses. Eles, muito astutamente, souberam se apropriar do que os intelectuais de esquerda ocidentais produziram. O Brasil nunca esteve tão bem. Se a China desponta e o Brasil engatinha, não nos esqueçamos de que os chineses vivem o socialismo teórico e prático desde 1949, ao passo que a experiência política brasileira com governos de esquerda é muito recente. E o Partido dos Trabalhadores, no Brasil, não tem o mesmo nível de empoderamento, por motivos constitucionais e legais, que o Partido Comunista Chinês. Não, não é o Lula que vai mal! É Mao Tsé Tung e os maoistas que vão muito bem! Como não poderia ser diferente, o Partido dos Trabalhadores é o que mais estreita relações com a China. Enquanto os bolsonaristas idolatram o “tigre de papel” (era assim que Mao se referia aos Estados Unidos da América), os petistas firmam o pé direito sobre aquilo que é rocha, e não areia. Retornando ao título deste artigo, confesso que fico pasmo como a mídia direitista consegue mentir tanto, usando informações que, isoladamente, condizem com o que é fato. Sem embargo, dizer a verdade, é mais que empregar informações verdadeiras, é especificar ao público leitor o modo correto de interpretá-las, sob pena de se inculcar no intelecto das pessoas uma visão de mundo de cabeça para baixo. A essa abordagem, de inversão proposital, os marxistas se reportam como ideologia. A mídia em geral, ou a maior parte dela, cumpre a função de desinformar. O capitalismo não funciona sem alienar, política e mentalmente, os cidadãos das repúblicas liberais. Os que se vendem, obscurecem, e, eu, como filósofo, jornalista e iluminista, esclareço. Foi para isso que eu vim, para trazer luz!