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Apresento-vos Valdomiro de Sousa

sofreu um AVC

Por Israel Minikovsky 16 min de leitura

Valdomiro nasceu em Caldas Novas e cresceu em Cristianópolis, ambas cidades do Estado de Goiás. Aos dezesseis anos foi à capital, Goiânia. Ali, trabalhou como ajudante de pedreiro, já que o seu pai era mestre de obras. Estudou ciências contábeis e, como contabilista, arranjou emprego em um frigorífico. Comprando cotas da empresa em que trabalhava, gradativamente foi saindo da posição de empregado, para ser dono do negócio. Na fazenda que fornecia carne para o frigorífico, ele e os seus sócios descobriram uma jazida de nióbio, o que mudou a situação de vida de todos os implicados no achado. O dinheiro levantado com a venda do minério lhes permitiu adquirir um campo que, posteriormente, foi arrendado para o cultivo de soja. Valdomiro formou-se em direito aos sessenta e cinco anos de idade. Trabalhou como contabilista por dez anos e como advogado por quatro. Aos oitenta e quatro anos foi aprovado para o curso de medicina, encontrando-se no oitavo período, com previsão de formatura aos noventa. Fosse pouco tudo isso, durante o curso sofreu um AVC, mas exibiu extraordinária recuperação. Valdomiro relata que, apesar de estar fazendo a graduação em medicina só agora, desde criança alimentava o sonho de ser médico. Com o patrimônio que amealhou ao longo da vida, a duras penas, custeia a faculdade, cuja mensalidade gira em torno de R$ 7,5 mil. Essa biografia exemplar nos deixa a indelével impressão de que coaching não se resume a ser uma técnica, para extrair dinheiro, de pessoas que acreditam em gurus. O palestrante motivacional Paul J. Meyer (1928-2009), conhecido pela “roda da vida”, organograma muito usado em desenvolvimento pessoal, escreve em Personal Motivation: “Não importa quem você é ou qual a sua idade: se quiser conquistar sucesso permanente e sustentável, sua motivação precisa vir de dentro. (…) Deve ser pessoal, ter raízes profundas e fazer parte de seus pensamentos mais íntimos”. De fato, sempre que nos achamos incapazes para algo, ou velhos demais, nós o fazemos baseados na percepção que os outros têm de nós, ou que achamos que eles têm. Logo, por esse mesmo motivo, a chave para o sucesso é focar em si mesmo, na própria essência. Eu devo situar a outra pessoa, como ela deve me tratar, e não o inverso disso. O preconceito é, quase sempre, uma borrifada de água benta sobre a preguiça. Ser maleável, flexível, decidido, movido pela razão e não pela emoção, mas sempre com arrojo e audácia. O provérbio popular leciona: “O homem, que dizia que não podia ser feito, foi vencido por aquele que estava fazendo”. As nossas grandes amarras são invisíveis, elas residem na nossa mente. Valdomiro confessa que, todos os dias, ao subir os degraus da escada da universidade, tem a impressão de estar entrando em um outro mundo. Ora, eu tenho essa mesma sensação. Chama-me a atenção, outro aspecto, desse nosso estudante veterano: a humildade. Sim, isso mesmo! Eu, e as pessoas ao meu redor, temos ideias bem diferentes do que seja humildade. Humildade, para mim, é isso: parar de falar que tem experiência de vida, pelos muitos anos vividos, porque o mundo da infância da sua época era infinitamente mais duro do que o de hoje, blá, blá, blá… Não que tudo isso seja inverídico. Porém, não é o que mais importa. Não há mérito em ser pobre, em não ter estudo, em ser mais um medíocre. O mérito é o oposto disso: prosperar a despeito das adversidades, estudar mesmo sem contar com as condições ideais, submeter-se à audiência de um professor que não apenas tem menos idade do que o próprio aluno, mas que é ignorante em áreas onde o aprendiz é perito. De um lado, temos um homem com praticamente noventa anos de idade, e que vê a si mesmo como um projeto em construção, e, do outro lado, na banalidade do cotidiano, temos alguém com menos de trinta, considerando que “já deu o que tinha que dar”, quem está com a razão? Não se diz, ainda, que “o tempo é senhor da razão”? Ora, quem tem mais tempo? A quem o decurso do tempo favorece? Este não é um caso isolado. No Brasil de agora, todo dia têm pessoas, com mais de sessenta, ingressando em faculdades. Não era falta de talento. Era falta de oportunidade. Oportunidade esta, que vem sendo ofertada no tempo presente. Cada um, com sua leitura de mundo, pense bem porque, agora, as chances são outras. Valdomiro é uma inspiração. Alguém que nos coloca para cima. Quero que a minha biografia seja na vida de outras pessoas, o que a biografia de Valdomiro veio a ser na minha. Luz!