Dias atrás, um secretário de Donald Trump, cujo nome não consegui captar, e nem gastarei meu tempo tentando fazê-lo, afirmou que a América Latina seria o quintal dos Estados Unidos da América; por duas vezes utilizara o termo “backyard”. Para começo de conversa, faço alguns comentários sobre os norte-americanos em geral. Os ianques, via de regra, contam com um número de pessoas muito maior do que o que se pode encontrar no Brasil, por exemplo, capazes de trabalhar em setores que demandam conhecimento de tecnologias várias. Melhor que nós, eles dominam, salvo raras exceções, todas as tecnologias do planeta. É da América do Norte que emergem muitas das tecnologias de ponta. Esse é um dos principais fatores, embora não o único, que fazem da economia norte-americana ser o que ela é. O objetivo do discurso é fazer com que o destinatário da mensagem, o cidadão norte-americano mediano, sinta-se parte de algo grandioso e triunfal. O que a fala do tal secretário não mostra, é que, por décadas, a alta burguesia do seu país levou as unidades produtivas para o exterior, onde os custos de produção são menores, promovendo o enriquecimento desses empresários, à custa do achatamento da classe média. Os Estados Unidos da América caminham para uma sociedade fortemente polarizada: ricos, de um lado, e, do outro, pobres patriotas. Inserindo uma nova informação, não tão avulsa, dias atrás li num periódico londrino que um terço da juventude britânica se acha em vulnerabilidade social, por conta da falta do acesso a uma renda mínima. Expresso de outra forma, os países centrais do mundo capitalista, como Estados Unidos da América e Inglaterra, estão a deparar-se com o fenômeno do pauperismo no interior das suas próprias fronteiras. É a imagem fiel a retratar os problemas estruturais do modo de produção guiado pela busca do capital. Em Provérbios 16, 18 está escrito: “O orgulho precede a queda”. Não faço menção a este ditado por não querer bem aos vizinhos setentrionais. Em todas as nações encontramos pessoas de diferentes perfis. E eu não me alegro com o mal (1 Coríntios 13, 6). Apenas recapitulo esta pílula de sabedoria, à luz do que se encontra nos livros dos profetas Isaías e Jeremias. Deus levanta e derruba nações com mais facilidade do que um homem coloca para cima, ou de cabeça para baixo, um copo plástico descartável. Eu não tenho dúvida acerca da intencionalidade da fala em comento. O emissor do discurso sabe que, declarações toscas como essa, potencializam eleitoralmente, sobretudo aquele grupo que, a despeito da sua péssima qualidade, reunido alça expressão numérica. Essa tática não é exclusiva da extrema direita norte-americana, fizemos, e ainda em alguma medida, estamos a fazer, essa desagradável experiência, cá, no Brasil. As falas estrambólicas dos republicanos, eu não poderia deixar de me reportar a essa analogia, contrastam com as declarações oriundas de Pequim. A sobriedade de Xi Jinping denota um senso de realidade e responsabilidade sem par. No Ocidente, emoção e precipitação, no Oriente, racionalidade e cautela. A base de toda diplomacia é a isonomia, a paridade, a equidade, o respeito, a reciprocidade, a sinalagmaticidade. Enquanto a China fortalece aliados e promove justiça social em seu território, os Estados Unidos da América humilham parceiros e fazem do seu povo os “escravos unidos”. É incalculável, não só do ponto de vista econômico, o prejuízo que a trupe da extrema direita tem gerado na ordem internacional. O modus operandi radica-se no enfraquecimento das instituições mais sólidas e democráticas. Tal como vimos na Lava-Jato, aqui no Brasil: o combinado previamente, do resultado das ações judiciais, entre procuradores e magistrados. Conversas grampeadas, com autorização judicial, exibiram a sanha de membros do Estado conluiarem a quebra da empresa “A”, “B” ou “C”. O que é um coletivo como esse? Existem melhores termos, senão “facção” ou “quadrilha”? É cômodo terceirizar para a China a responsabilidade sobre tudo o que tem ocorrido no mundo ocidental. Se a acusação é de que os chineses são trabalhadores, e que o Partido Comunista Chinês é um caso único de eficiência, então ela é procedente. Para a China, o Brasil não é um quintal. Quintal é um espaço de menor relevância, vocábulo pejorativo mesmo. Para a China o Brasil é um armazém, um parceiro seguro, que perfectibiliza a satisfação do mercado interno chinês, com sua demanda astronômica, ao passo que os chineses fazem valer à pena tantas áreas da economia brasileira, do agro à pecuária, e muitos outros. Cinco mil anos foram o suficiente para que os chineses entendessem que uma fala ponderada é condição sine qua non para uma vida de harmonia. Palavras sábias são luz!