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Carnaval: coisa hedionda!

O carnaval, para que todos saibam, não é uma invenção brasileira. É uma tradição europeia medieval. Do latim, “carnis” + “vale”, ou seja, “adeus, carne”! Cientes de que a quarta-feira de cinzas inicia o período quaresmal, os cristãos católicos instituíram o carnaval para compensar a temporada subsequente, considerada de privação. No entanto, compreendo que um […]

Por Israel Minikovsky 12 min de leitura

O carnaval, para que todos saibam, não é uma invenção brasileira. É uma tradição europeia medieval. Do latim, “carnis” + “vale”, ou seja, “adeus, carne”! Cientes de que a quarta-feira de cinzas inicia o período quaresmal, os cristãos católicos instituíram o carnaval para compensar a temporada subsequente, considerada de privação. No entanto, compreendo que um cristão autêntico não deve encarar jejum, oração e recolhimento, como algo mau. Mais importa a intimidade com Deus, do que os prazeres da mesa e as reuniões sociais alegres, refiro-me ao lazer mesmo. O carnaval mostra uma igreja militante dividida entre dois pensamentos. E quem tem ânimo doble está-se a encaminhar para a igreja padecente, não alcançando a igreja triunfante. Deus tem de valer mais do que um pedaço de carne. Porém, se o problema é a falta da carne, coma-a! Porque o que Deus mais quer é um coração arrependido e convertido. A questão não é de “rasgar as vestes, e sim, rasgar os corações”. A quarta-feira de cinzas existe para nos lembrar donde viemos: do pó. É preferível sermos um punhado de cinzas, numa urna funerária, com Deus, a estar num corpo saudável e forte, contudo, sem Deus. Aquele que nos tirou do pó da terra e nos colocou em pé, pode nos reerguer do pó tantas vezes quantas Ele quiser. A situação não é de desespero, mas de esperança. O recato, o recolhimento e a discrição é um presente que damos a nós mesmos. Uma fase de menor estimulação pode propiciar uma rica experiência de contemplação, oração e meditação. Uma boa reflexão pode valer mais do que uma plêiade de conselheiros. Ou pegando emprestado um pensamento de Blaise Pascal, se alguém apostar todas as suas fichas em Cristo, e estiver errado, em verdade, absolutamente nada perdeu. A propósito, um bem transitório, a rigor, não é um bem, apenas aparenta ser tal. Uma boa conversa, regada a cerveja, dificilmente transcende quarenta minutos. Ao mundo carece o recurso de nos manter distraídos por quarenta dias. Noutro viés, a eternidade é insuficiente para revelar a face de Deus na sua plenitude. Sendo o carnaval uma data sem valia espiritual, ele é reservado no calendário como feriado (na modalidade de tradição festiva, uso e costume, pois inexiste lei federal reconhecendo o dia como feriado oficial). Já a quarta-feira de cinzas, algo com sua importância, na perspectiva estritamente legal, é dia de trabalho (comumente folgamos no dia anterior e trabalhamos neste). Talvez, o amável leitor não fique chocado com nada disso, em função da habitualidade destas práticas. Com efeito, um estrangeiro de religião não cristã, por certo, se vê perplexo diante de nossas praxes. Se a pessoa nem começou a viver uma fase de santidade, e já sente falta dos pecados reiterados de rotina, o que na Bíblia é denominado “iniquidade”, precisa rever os próprios conceitos. A partir daquilo que se concebe sob o rótulo de “cristão”. O cristianismo não é uma culturinha, uma etiqueta a nortear o fazimento de ações externas, mecânicas e objetivas. Ele é o Reino de Deus dentro de nós. É abstruso que exista uma parte do calendário reservada a compreendermos o que realmente importa, neste mundo e no outro, e que ela seja precedida por uma data que é o espelho fiel da ignorância, da falta de tato, de tudo aquilo que um genuíno cristão deve desprezar e deplorar. Que o nosso muito orar e jejuar nos leve à luz pascal do Cristo ressurreto!