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Cem anos da morte de Lênin

Em 21 de janeiro de 2024 completou-se um século da morte do intelectual e revolucionário Vladimir Ilitch Ulianov, popular “Lênin”. Na data, Vladimir Putin disse que Lênin fora o líder de uma revolução mundial que não aconteceu, líder do proletariado mundial que nunca existiu e fundador de um estado socialista que não existe mais e […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

Em 21 de janeiro de 2024 completou-se um século da morte do intelectual e revolucionário Vladimir Ilitch Ulianov, popular “Lênin”. Na data, Vladimir Putin disse que Lênin fora o líder de uma revolução mundial que não aconteceu, líder do proletariado mundial que nunca existiu e fundador de um estado socialista que não existe mais e que ninguém quer que volte. Lênin ainda é acusado por Putin de ter dado relativa autonomia às Repúblicas Soviéticas, o que propiciou a emergência e desenvolvimento de alguns nacionalismos, como o ucraíno. Segundo Putin, se estamos carentes de algum modelo, devemos nos reportar a Stálin, vencedor da Segunda Guerra Mundial. Putin comparou os ucranianos aos nazistas. Bem certo é que, esteja Putin correto ou errado, ele nada fala sem causa. Em toda sua locução há intencionalidade política. De todo modo, quero pontuar que, sem Lênin, o socialismo “científico” de Marx e Engels seria tão utópico quanto o socialismo utópico. Lênin foi um homem coerente, guiado por princípios e altos valores morais. Não quero omitir a contribuição de outros nomes como Stálin, Trotsky e tantos mais, contudo hoje a data tem vínculo com a pessoa de Lênin, o fato é que, sem o comentado personagem histórico, a Rússia, dificilmente, teria hoje o parque fabril e os recursos militares que tem. Nem tudo foram flores, mas nem tudo foi erro. Assim como o Czar nem em sonho seria capaz de prever a investida dos comunistas, em que pese ter ninguém menos do que Rasputin como assessor, é complicado julgar as decisões de Lênin com o olhar de quem se situa na linha do tempo mais de um século empós. Se Lênin foi um dos que mais errou, com toda certeza, foi um dos que mais tentou acertar. Lênin vem a ser um caso ímpar de estudo, a uma, por reinterpretar a literatura socialista do século dezenove de um modo original, a duas, por ter colocado à prova suas teses naquilo que foi a URSS, convertida num grande laboratório social. A crítica contra Lênin, calcada na ausência de factibilidade de suas metas, deve ser contemporizada à luz da verdade de acordo com a qual toda grande figura de liderança precisa agarrar-se a uma modalidade de idealismo. Putin é muito realista e pragmático. Sua ideologia chama-se “Rússia”. Simples assim. Entrementes, o que faz de Lênin o mais russo de todos os estadistas russos, é a sua universalidade. Lênin foi o grande exportador do marxismo-leninismo. Qualquer que tenha sido o resultado prático dessa medida, foi graças a ela que a Rússia, hoje, é um dos maiores eixos de força na geopolítica vigente. Maior do que Jesus Cristo não há. Até porque, ao contrário de outras grandes figuras históricas, Ele não foi somente homem por completo, senão Deus, ainda que despojado, aparentemente, de sua divindade. Justificada esta excepcionalidade categorial, posso dizer, sem margem de dúvida, que Lênin, no mínimo, empata com Alexandre Magno, Aníbal, Júlio César, Napoleão Bonaparte, Simon Bolívar, e deixa para trás, Adolf Hitler, Mussolini, e outras lendas. O país fundado por Lênin, colocou no mapa do mundo, os países da Ásia, do Leste Europeu, da África. Pessoas sem valor passaram a ter valor, classes sociais sem valor passaram a ter valor, países e continentes inteiros sem valor passaram a ter valor. Nunca antes um governo protagonizou, com tamanho afinco, a promoção da ciência, da técnica, do bem-estar social. Lênin merece ser condenado sim, por ter tirado milhões e milhões da condição da fome, por ter tirado milhões e milhões de condições de trabalho subumanas. Lênin lutou contra o preconceito religioso, defendeu a liberdade e o direito da mulher, combateu todas as formas de racismo. Teorizou, revolucionou, administrou, foi preso, matou e morreu por um ideal. Nós, passageiros do vagão “século vinte e um”, sequer compreendemos as motivações de um indivíduo tão “fora da curva”. Dominados que estamos pela mediocridade, soa como loucura a radicalidade de um ser humano como Lênin, por maiores que sejam as justificativas teóricas. Voltemos aos filósofos do passado. O passado nos permite compreender o presente, e nos habilita a planejar o futuro. Luz!