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Chuvas de veraneio

Alexandre Deulofeu Torres (1903-1978), autor de A Matemática da História, desenvolveu uma teoria de acordo com a qual a história se repete. Explico: ela é feita de vários ciclos. Tem ciclos de dez, vinte, cinquenta, cem ou mil anos. A pandemia do Covid-19 confirmaria a tese do autor. Lembrando que ele faleceu aproximadamente 40 anos […]

Por Israel Minikovsky 13 min de leitura

Alexandre Deulofeu Torres (1903-1978), autor de A Matemática da História, desenvolveu uma teoria de acordo com a qual a história se repete. Explico: ela é feita de vários ciclos. Tem ciclos de dez, vinte, cinquenta, cem ou mil anos. A pandemia do Covid-19 confirmaria a tese do autor. Lembrando que ele faleceu aproximadamente 40 anos antes da pandemia. Digo isso, porque a gripe espanhola ocorreu em fins da segunda década do século vinte, enquanto o Covid-19 sobreveio ao fim da segunda década do século vinte e um. Se o silogismo estiver certo, aqueles que ainda irão nascer se preparem para o final da segunda década do século vinte e dois. Ailton Krenak (1953-…) reparou que muitas pessoas verbalizaram “aprendemos muito com a Covid-19”. Afirmação consentânea com a visão de mundo do homem branco, que acredita que o sofrimento tem caráter pedagógico. Mas o filósofo indígena contesta: “A pandemia não veio para ensinar, ela veio para matar”. Isto é absolutamente verdadeiro, mormente se um dia forem apresentadas as provas de que o Covid-19 foi uma arma fabricada em algum laboratório de alguma potência econômica e/ou política. De todo modo, se alguma lição deveria soçobrar a este megaevento superinfeliz, ela consistiria nisto: precisamos estar preparados para a pandemia, precisamos planejar o isolamento e as medidas que minimizem os impactos econômicos. Porém, sem desmerecer as legítimas preocupações sanitárias com o retorno de uma eventual pandemia, e se a teoria de Alexandre Deulofeu Torres estiver correta, temos coisas mais urgentes com as quais devemos nos preocupar. Todos os anos assistimos a isto: com a chegada da estação quente há precipitações pluviométricas de pico, o que atinge em cheio a vida das populações e cria demandas de infraestrutura para o Poder Público. O que sugiro, eia pois, é isto: devemos agir, e não (apenas) reagir. As intervenções a posteriori da administração são bem-vindas, no entanto, as causas que lhe deram motivo sequer deveriam vir a existir, elas deveriam ser diagnosticadas precocemente e evitadas. Enquanto a engenharia japonesa edifica prédios à prova de terremoto e constrói muralhas capazes de conter tsunamis, enquanto a Alemanha em tempo recorde conseguiu restabelecer a segurança energética após o corte do gás russo, nós não damos conta de problemas bem menos complexos como micro e macrodrenagem ou contenção de encostas. Esse problema, não obstante, compete ao Poder Público, todavia, a nós de igual forma. Faz parte do exercício responsável de nossa cidadania, evitar jogar lixo em locais não apropriados, sobretudo no leito de córregos e rios, evitar destruir a mata ciliar que protege a bacia hidrográfica, evitar destruir vegetação arbustiva e arbórea que ajuda a fixar a superfície de aclives e, não menos importante, exigir do seu candidato as cautelas quanto a esta matéria. Se eu estivesse na qualidade de gestor público, veria estes episódios como uma oportunidade de mostrar serviço e competência. Quem alimenta a ambição de ser prefeito da cidade, comece a pensar, desde já, na equipe técnica que poderá assessorá-lo neste quesito. Afinal, de todas as imprevisibilidades, as enxurradas de primavera/verão são as mais certeiras. As chuvas torrenciais são um choque de realidade: elas desvelam problemas vários, como os infraestruturais, de habitação, socioassistencial, dentre outros. Que ótimo que, nestas épocas, vemos a movimentação da sociedade civil organizada vertida para doação de alimentos, vestuário e outras utilidades. Iniciativas dessa natureza são sumamente importantes. Planejamento é luz!