Começando do modo certo!
Há um ditado que leciona: “Pau que nasce torto, não endireita”. Essa declaração é teologicamente equivocada, uma vez que nada é impossível a Deus. Sem desdizer a proposição anterior, creio que é altamente recomendável fazer as coisas do modo certo, desde o princípio. O programa Fantástico, da Rede Globo, exibido no dia 18 de fevereiro […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Há um ditado que leciona: “Pau que nasce torto, não endireita”. Essa declaração é teologicamente equivocada, uma vez que nada é impossível a Deus. Sem desdizer a proposição anterior, creio que é altamente recomendável fazer as coisas do modo certo, desde o princípio. O programa Fantástico, da Rede Globo, exibido no dia 18 de fevereiro de 2024, deu a público a informação de que André Rodrigues Ataíde, estudante de medicina que hoje está com 23 anos de idade, sabotou o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. O teste que, em um primeiro momento, tinha como objetivo exclusivo aferir desempenho e aproveitamento da educação em instituições públicas, aos poucos foi sendo manejado para apoiar o ingresso de estudantes do Ensino Médio em universidades públicas e privadas. André teria produzido documentos de identificação falsos, para se passar por outras pessoas, protagonizando o exame de admissão em lugar de outros candidatos, sem talento próprio necessário. Através dessa artimanha, teria colocado no curso de medicina da Universidade Estadual do Pará (UEPA), ao menos dois estudantes. Pelo “serviço”, teria cobrado R$ 150 mil de cada um dos comparsas favorecidos. A Polícia Federal, que investiga o caso, acessou os celulares dos fraudadores e, em um caso de álibi invertido (que prejudica o acusado), constatou que um dos meliantes estava a enviar mensagens para a namorada, justamente na data e horário da aplicação da prova. Os envolvidos responderão, no mínimo, por falsidade ideológica e fraude de certame público. Esses fatos da vida real e, por que não dizer, corriqueira, sucedem-se simultaneamente à exibição do Filme Oppenheimer. Para quem não sabe, Oppenheimer foi o cientista norte-americano que capitaneou o Projeto Manhattan, consistente na produção das bombas atômicas usadas para encerrar a Segunda Guerra Mundial. Claro, Oppenheimer não é meramente uma produção cinematográfica, retrata uma parte importante da história humana. De uma forma ou de outra, ainda que estejamos lidando com contextos e épocas diferentes, o que vem à tona é isto: o uso antiético da inteligência. No caso da produção da bomba atômica, poder-se-ia filosofar e tergiversar à exaustão. Bem outro caso, é este recente episódio da vida nacional brasileira: o uso perverso e inconsequente da inteligência. Gostemos, ou não, do ENEM e do vestibular, eles são as ferramentas que asseguram o mínimo qualitativo dos recursos humanos, que estarão atuando no mercado de trabalho, após quatro, cinco ou seis anos de estudos. Este é o enfoque que a situação merece receber. A outra face da moeda escancara o divórcio de quem é plena e intelectualmente apto a integrar uma classe do mais concorrido curso da universidade, faltando-lhe, todavia, a aptidão moral. Simulando a pouco provável situação, de um estudante que ingressou por meios inidôneos no curso de medicina, mais por sorte do que por juízo, aufira a diplomação, e venha a atuar na rede hospitalar, em razão do que, por imperícia médica, leve paciente a óbito, coincidentemente, parente do fraudador do ENEM, dado que o mundo é pequeno, muito pequeno! E aí? Aí o vendilhão das coisas santas iria perceber o que fizera: prostituíra a democracia do seu país, corrompera os princípios da moral, chafurdara a sua biografia. Sim, pois a ignorância e a falta de caráter sempre têm um preço salgado. Não digo que devamos começar pelo pé direito. Deus, que fez o pé direito, fez também o esquerdo. Devemos, isto sim, começar do jeito certo. O médico precisa ser formado já lá na educação infantil. Mais do que concurseiros, do que o Brasil precisa, é de gente honesta e comprometida com a sociedade. Venha a nós a luz!