Considerações a respeito da guerra
Em uma de minhas obras escrevi: “A guerra é um bem necessário”. Fiz isso para observar o tipo de reação que eu encadearia. Para minha frustração, nenhuma! Como li em um texto de psicologia, é a “normose social”. Fiz um jogo de palavras com o que encontrei em outro lugar: “A guerra é um mal […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Em uma de minhas obras escrevi: “A guerra é um bem necessário”. Fiz isso para observar o tipo de reação que eu encadearia. Para minha frustração, nenhuma! Como li em um texto de psicologia, é a “normose social”. Fiz um jogo de palavras com o que encontrei em outro lugar: “A guerra é um mal necessário”. O autor, portanto, admite que ela seja “um mal”, mas considera que não podemos evitar essa grave turbulência. Se fosse criticado, eu bem que poderia me defender alegando não me referir à guerra militar, mas à guerra filosófica, existencial, moral, e por aí afora. Uma vez comuniquei a um familiar meu, hoje já falecido, que Sartre teria dito: “O outro é um inferno!” e ele me contestou: “Mas esse cara não tinha pai, mãe, irmãos ou mulher?”. Percebam, que mesmo sem amplos conhecimentos acadêmicos, o meu pretérito ouvinte, hoje ausente, ficou chocado com a assertiva. Sinceramente, eu creio que Jean Paul Sartre queria nos dar uma espetada. Como se ele nos dissesse: “Vamos nos tratar melhor? Por gentileza, não sejam tão rudes comigo!”. Ainda tomando de empréstimo falas de Sartre, o existencialista francês teria afirmado: “Quando os ricos fazem guerra, são os pobres que morrem”. Outro francês, o também escritor e também filósofo, Paul Valéry, definiu a guerra com este trocadilho: “Guerra é um lugar onde os jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam, baseados em decisões tomadas por velhos, que se conhecem e se odeiam, mas não se matam”. É assim que Joe Biden e Vladimir Putin atuam em seus gabinetes climatizados, despachando e tomando decisões, enquanto acontece a realpolitik nos campos de batalhas. É o inverso do que lemos no Antigo Testamento de nossa Bíblia: o gigante Golias, para evitar mortandade entre os dois exércitos, propõe que os hebreus elejam um preposto, para travar luta com a pessoa dele, o representante dos filisteus, e qualquer que fosse o resultado, ele poria fim à rivalidade de ambos os grupos. A guerra israelopalestina não é diferente: morre o povo, e não as lideranças. E, não raro, morrem mais civis do que militares. A Constituição da República Federativa do Brasil é sábia quando esclarece que prima pela resolução pacífica dos conflitos e controvérsias, seja em nível interno ou internacional. Paulo suplica que sejamos “profetas do amor e servidores da reconciliação” (2 Cor 5, 18), excerto bíblico este, que norteia o agir pastoral da Congregação Cristã dos Dehonianos. Não é por mero acaso que o Comitê Norueguês do Nobel laureia, para além dos destacados desenvolvedores de química, física, medicina, literatura e economia, os ícones que promovem a cultura de paz em nosso planeta. Muitos dos cristãos reformados estão alinhados com os israelenses, visto que há uma grande propensão a associá-los com o antigo povo hebreu, que protagoniza os episódios dos chamados livros históricos e, antes disso, da Torá. A verdade é que quase não conhecemos os árabes ou palestinos. Lado outro, constata-se um apoio da ala conservadora política aos israelenses, sendo os palestinos exibidos como vítimas pela esquerda. Eu creio que a própria polarização é negativa, desde que consolida aquilo que deveria acabar o quanto antes. Cristo disse que o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Guardada a simetria, poderíamos dizer que a Terra – por mais sagrada que ela seja – foi feita para o homem, e não o homem para a Terra. Que a Jerusalém Terrena seja abraçada por um acordo inquebrantável de paz, a fim de que nela reste prefigurada a imagem bela e indizível da Jerusalém Celestial. Guerra são trevas, paz é luz!