Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio: dia 16 de setembro
fenômenos atmosféricos atípicos
Por Israel Minikovsky 17 min de leitura
Nos últimos dias, brasileiros de todas as regiões do país, consabidamente de proporções continentais, têm assistido a fenômenos atmosféricos atípicos. O sol mostra-se laranjado ou avermelhado, e mesmo que não haja nebulosidade, a luz é parcialmente bloqueada por material leve particulado, difuso pela massa gasosa que cobre nosso território. Entretanto, não é exatamente a respeito dessa ocorrência que pretendo discorrer algumas linhas. Seguindo a sugestão das datas comemorativas abarcadas pelas calendas setembrinas, mais precisamente o tema coincidente com o dia dezesseis, quero comentar a relevância da preservação da ozonosfera. A camada de ozônio é imprescindível, sem ela não se vislumbra a possibilidade de vida em nosso planeta. Ela filtra e ameniza a agressividade dos raios ultravioletas. Sem o ozônio as formas de vida estariam expostas a mutações genéticas, a defeitos em nível celular. A radiação solar sem filtro de O3 é altamente carcinogênica. Não há dúvida de que a matéria em apreço reveste-se de forte apelo político. Porém, quero desafiar o amável leitor a uma reflexão ética e a uma postura de despojamento de preconceitos. Muitos de nós estamos funcionando no automático. Se o cidadão concebe a si mesmo como “de direita”, ele nem se dá ao trabalho de inteirar-se da discussão nas suas minúcias. Mais do que agitar uma bandeira vermelha, convido-o a uma contemplação ativa. A natureza está em pleno processo de perecimento, e, com ela, nós próprios confluímos para uma espécie de gargalo sem ponto de retorno. Mentir a si mesmo é um dos piores tipos de mentira. Nossa estranha atmosfera não é mera ocasião para um registro fotográfico a encartar nosso álbum de imagens insólitas. Filosofia, aliás, é isto: questionar qual essência está por trás de uma dada aparência. O que sinaliza um determinado fenômeno? Ele é efeito de que causa? Estamos diante de, no máximo, uma beleza rara e excepcional, ou de um preocupante quadro sintomático? A ONU deve continuar capitaneando o debate acerca da emissão de poluentes de alta reatividade ao ozônio, porquanto essa reação seja marcada por replicação em cadeia. Isto significa que, mesmo que estejamos poluindo relativamente pouco, é o suficiente para colocar em marcha catástrofes de grandes proporções. Os países ricos e em desenvolvimento precisam reforçar o trabalho interno de fiscalização, mantendo em aberto o diálogo com seus homólogos, considerando-se a natureza do problema, resolúvel se e somente se costurado um conjunto de ações articuladas. A causa comum que nos une ou que nos deveria unir é esta: o meio ambiente e a nossa própria saúde e sobrevivência. Os Estados Nacionais mais poderosos do mundo, independente de quem esteja no governo em exercício, carregam consigo o dever de elaborar uma agenda séria, comprometida e irretratável que contemple armas nucleares e material nuclear para fins energéticos, emissão de dióxido de carbono e a preservação da camada de ozônio. Focar no desenvolvimentismo e no crescimento econômico, desconsiderando o custo ambiental, é passar o machado na árvore frutífera, para se apropriar de seus derradeiros pomos. Enquanto não se apurar uma revolução na astronáutica, parece mais aconselhável cuidar do planeta que temos, ao invés de pretender colonizar um que desconhecemos. A preocupação com a ozonosfera tem fortíssima base científica. Os cientistas que passaram a se ocupar dela vislumbraram a extensão do dano que estamos impingindo a essa película, com o emprego de fórmulas e, já em nível de revisão, todos os cálculos foram refeitos e dados como absolutamente corretos. Avançando do mundo das equações ou inequações, para o mundo empírico, logo foram observados buracos nessa manta gasosa. Note-se que, alguns iluminados se aperceberam do que estava a ocorrer com a ozonosfera, sem nenhum resquício visível ao olho humano. Foi mais juízo do que sorte. O momento presente é outro: até uma criança de colo, que não sabe contar, é capaz de atestar graves mudanças que afetam o meio ambiente. No entanto, isso parece ser a mesma coisa que nada. Estamos paralisados, hipnotizados, sem percepção e, consequentemente, sem reação. É lamentável que, enquanto nenhum loirinho nobelizado apresente um artigo científico, recheado de fórmulas, para a comunidade acadêmica internacional, todos fiquem inertes, dominado por um mágico torpor. Venha a nós a luz, mesmo que ela tenha que pelejar com as barreiras que as queimadas se lhe antepõe como obstáculo. Afinal, todos devem lutar pelo seu lugar ao sol. Não é assim que se diz?