Dia Nacional da Leitura: 12 de outubro
O nobelizado da física de 2022, John Bell, disse que “a filosofia converteu-se em física e a realidade em informação”. Perdoe-me o incolor orgulho, mas juro que é verídico, eu acreditava nisso antes mesmo de ter ouvido falar no mencionado estudioso irlandês. Esse negócio de “o que interessa é a prática, teoria não serve para […]
Por Israel Minikovsky 12 min de leitura
O nobelizado da física de 2022, John Bell, disse que “a filosofia converteu-se em física e a realidade em informação”. Perdoe-me o incolor orgulho, mas juro que é verídico, eu acreditava nisso antes mesmo de ter ouvido falar no mencionado estudioso irlandês. Esse negócio de “o que interessa é a prática, teoria não serve para nada” nunca me convenceu, nem mesmo quando eu era criança. A afirmação do cientista consiste em reconhecer que nós não podemos descrever ou explicar a realidade prescindindo do espaço teórico, necessariamente calcado no campo simbólico da referibilidade. Para ser bem resumido e compreensível, a quem não é exatamente apaixonado por filosofia ou física nuclear, isto equivale a dizer que inexiste uma linha divisória entre o que está comportado dentro de um livro e o que, em tese, não transcenderia a imanência da natureza na sua própria base ontológica. Por conseguinte, nada impede que um ermitão, que passa décadas numa cela, lendo e meditando sobre livros de espiritualidade, compreenda o mundo e como ele funciona, melhor do que um agente financeiro atento às oscilações da economia global. Não há o leitor de literatura e o leitor de mundo. Leitor é simplesmente leitor. Porque a literatura é espelho do mundo. Portanto, quando se estabelece no calendário uma data nacional para se rememorar a importância de leitura, não se está diante de um lobby de editores e autores. A questão é que precisamos ficar ligados ao nosso entorno, ao que vem a ser o mundo onde habitamos, trabalhamos e buscamos a felicidade. E o pensamento escrito vem a ser uma ferramenta poderosa nesse esforço compreensivo. Não pense o compatriota que os europeus leem mais do que nós porque já são ricos e podem “se dar o luxo” de buscar cultura. Do contrário, seremos prósperos, nossa vida vai se desenvolver mais rapidamente, quando tirarmos um tempo razoável para estudo, leitura e cultura. Os jovens e adolescentes não ficam horas diante do celular porque “são viciados em telas”. O celular pode ser um espaço de aprendizagem e é cultivado na medida em que as novas gerações o articulam como mediação de interação social. No entanto, o livro, por ter formato próprio, oferece a todos, inclusive aos mais jovens, um conteúdo diferenciado. E esse cabedal cultural poderá incrementar a qualidade das relações comunicativas entre as pessoas. Nesses passos, fica certo que a leitura, apesar de ser um hábito antigo, é uma das melhores opções ainda hoje. O que se perdeu não foi apenas a leitura, mas a predisposição de espírito que ela exige. As novas gerações têm se tornado incapazes de dar ou atribuir atenção às coisas. Na escola os alunos não toleram mais aulas expositivas. Uma das maiores exigências, do mercado de trabalho e de tudo o mais de importante que alguém vá fazer na vida, perdeu-se: a atenção sustentada ao logo do tempo. Não se consegue mais ler uma revista, assistir a uma cerimônia religiosa, ficar atento a uma palestra ou capacitação. O excesso de extroversão fez, dos jovens e adolescentes, mentes líquidas, propósitos Walita, vontades flashes. Ler é colocar o pé no freio, afinal, vale à pena “dar um passo atrás e dois adiante” (Lênin), ou como ensina Esopo, a tartaruga perseverante deixa a lebre para trás. Ler é enxergar, e não se enxerga sem luz! Quem não quer “o preto no branco”?