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É gostoso chorar dentro de uma Ferrari?

Certa personalidade, que se submeteu a produzir conteúdo erótico, para uma plataforma de nome anglófono, cuja tradução livre giraria em torno de “somente para falantes”, leia-se, “somente para adultos”, rebateu o comentário crítico de um formador de opinião. O comentarista teria questionado: “o que seus filhos vão pensar sobre isso quando forem adultos?”. A inquirição […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

Certa personalidade, que se submeteu a produzir conteúdo erótico, para uma plataforma de nome anglófono, cuja tradução livre giraria em torno de “somente para falantes”, leia-se, “somente para adultos”, rebateu o comentário crítico de um formador de opinião. O comentarista teria questionado: “o que seus filhos vão pensar sobre isso quando forem adultos?”. A inquirição recebeu uma contestação no formato de ironia: “eles vão poder chorar dentro de uma Ferrari”, sugerindo que a vergonha e o desapontamento seriam compensados pela vantagem econômica. Como sempre, devemos volver à filosofia. Estava certo o pensador florentino que advogava que “os fins justificam os meios”? Porque se as pessoas se despem por dinheiro, poderiam protagonizar outras condutas de até maior reprovabilidade social e moral, para obter vantagem financeira. Ao que parece, não estamos diante de uma imoralidade, exatamente, mas diante de uma amoralidade. A amoralidade, em certo sentido, é pior do que a imoralidade, porque ela sinaliza a perda do critério de referência axiológica. O que essa geração corrupta está transmitindo aos seus descendentes é isto: saia-se bem, ainda que pereça o mundo e, com ele, o reino dos valores. Transigem-se os princípios de conduta a fim de forrar a carteira. Mas o que o dinheiro traz? Bem, com ele podemos satisfazer nossas necessidades e, com mais um tanto, podemos nos divertir. Todavia, a fruição destas vantagens passa ao largo do propósito para o qual viemos. Não estamos aqui apenas para sobreviver, fruir e morrer. Existe um propósito para nossas vidas, que inclui e ao mesmo tempo transcende a mera subsistência. A sexualidade é algo querido e sagrado para Deus. Por meio dela, Deus cumulou nosso pai, Abraão, com a bênção de ser pai de muitas nações. Não há plano de salvação sem vidas a serem salvas. Por conseguinte, erra quem imagina que a religião é inimiga da sexualidade. Ocorre que, aquilo que não tem preço, tão valioso que é, não pode ser objeto de comércio. A sexualidade humana é um dos vários tesouros com que fomos premiados por Deus. Quando o rei de Israel, Ezequias, contou ao profeta Isaías, que havia mostrado todos os seus tesouros ao rei da Babilônia, ele advertiu a autoridade realenga, dizendo que um dia tudo isto seria levado para a Babilônia. E, de fato, foi o que aconteceu. Sendo assim, certas coisas devem ficar guardadas, longe da exposição ao público. O próprio Cristo nos advertiu de que, os pássaros, que não trabalham, são alimentados por Deus, e que os lírios, erva que seca e é queimada, veste-se com um esplendor maior do que aquele que havia na indumentária do rei Salomão. Seriam os pagãos que se preocupam, exageradamente, com isto, com o que se vestir, o que comer. Quando apresentaram a mulher adúltera a Cristo, ele foi categórico: quem não tiver pecado, atire a primeira pedra. No entanto, quando Ele a despediu, foi claro: não peques mais! Ele aprova o pecador convertido, mas reprova o pecado. O salmista observa: nunca vi um justo passar fome, nem seu filho mendigar pão. E Paulo itera: que não aspiremos a coisas demasiadamente elevadas. A lei mosaica, ou sua interpretação rabínica jurisprudencial, impedia que o dinheiro oriundo da prostituição ou da venda de um cachorro fosse depositado no gazofilácio do Templo. O profeta Isaías ainda redarguiu: por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? Pior do que cair na ilegalidade dos homens, é cair na ilegalidade espiritual. Importa não só auferir renda e patrimônio, senão, mais do que isso, o modo como ocorre essa auferição. Amontoar nos armários a roupa que a traça corrói, ou os lingotes que enferrujam, e que estão suscetíveis à ação de meliantes, é amontoar um mau tesouro. Precisamos guardar tesouros no Reino dos Céus, onde não há traça, nem ferrugem, nem ladrões. O afeto materno é incomparavelmente melhor e mais perfeito do que o espólio a ser inventariado. Casas, carros e fortunas passam, mas o que importa é o que não passa. Fiquemos bem alertas ao engodo do lucro fácil, memorando nossa alma com a cadência desta interrogação: “de que aproveita ao ser humano ganhar o mundo inteiro, se vier a perder sua alma?”.