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Embrião Sintético

A ureia foi o primeiro composto orgânico a ser produzido sinteticamente. O feito inaugurou uma nova etapa na química, dado que antes, somente os compostos inorgânicos poderiam ser forjados artificialmente. Mas, se não avançamos em conhecimento, em ambição, com toda certeza. Dias atrás, li um artigo sobre experiências dando conta da produção de embriões humanos […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

A ureia foi o primeiro composto orgânico a ser produzido sinteticamente. O feito inaugurou uma nova etapa na química, dado que antes, somente os compostos inorgânicos poderiam ser forjados artificialmente. Mas, se não avançamos em conhecimento, em ambição, com toda certeza. Dias atrás, li um artigo sobre experiências dando conta da produção de embriões humanos sintéticos. Esses embriões foram originados de células-tronco, sem o uso de óvulo e espermatozoide. Uma vez introduzidos no útero, entretanto, não são viáveis, sendo descartados algum tempo depois pelo organismo receptor. Segundo consta, uma das ideias, seria usar este expediente para extração de órgãos e implante, em pacientes de que deles precisam. Como tudo o que se faz em saúde, mormente envolvendo saúde humana, os estudos esbarram em questões jurídicas e éticas. Ao que parece, aos poucos, estamos pavimentando o caminho para produzirmos em laboratório uma réplica de nós mesmos. Entrementes, o que nos deixa perplexos não é a possibilidade estruturar um ser à nossa imagem e semelhança a partir do viés físico, mas espiritual. O problema não está no ser humano sintético, está na alma humana sintética. É sabido que toda pesquisa principia com cobaias animais e, a partir de dado momento, quando já houve considerável avanço, abre-se a etapa com seres humanos. Então, entre animais e seres humanos não sintéticos, haveria o organismo sintético, mais parecido conosco. O uso da novidade, portanto, neste ponto de vista, seria um protocolo de segurança adicional. Informo que, esse embrião sintético, mesmo que desenvolvido, é anencéfalo, o que segundo alguns, afastaria sua dignidade de pessoa humana, compreendida ela como a mente que tem como pressuposto a base cerebral. Não fosse bom o bastante o argumento do aumento da segurança para as iniciativas experimentais, com o embrião sintético é disponibilizado um instrumental cuja excelente característica consiste em ser praticamente idêntico ao objeto sobre o qual se pretende imprimir uma intervenção. A ovelha Dolly gerou empolgação aquando de sua clonagem, mas o fator tempo demarcou bem os limites do iniciante e provisório êxito. Destino semelhante, pressinto, aguarda o embrião sintético. Se ética e ciência são dois trajetos que colidem de quando em quando, os atritos decorrentes das duas áreas nos dão combustível para produzir filosofia da mais alta qualidade. Emergem as questões de sempre: quem somos nós, donde viemos, para onde estamos a ir, qual o propósito de nossa vida. Qualquer que seja o estágio de desenvolvimento de nosso conhecimento, os fenômenos que nos circundam, e o fenômeno que somos nós, sempre podem ser interpretados de diversas maneiras. O embrião sintético pode corroborar a ideia de que somos um mapa genético sobre o qual se estrutura um conectoma, e que somos apenas isto, todavia, abre espaço para supor um Programador para lá de genial. Os caminhos que estamos abrindo alteram o modo como olhamos para o fazer científico e para o fazer filosófico. Estamos no universo e somos um universo. E o desafio da astronomia e da genética, respectivamente, consiste em tentar conhecer o muito grande e o muito pequeno. Certa vez, li numa revista espírita que a reencarnação não merecia crédito, porque a ciência comprovava que as ocorrências do mundo da física não se harmonizavam com este conceito soteriológico. Seguro de que o conhecimento divino paira infinitamente acima da sabedoria humana, aquilo não me deixou minimamente comovido, contudo, guardei comigo a tal objeção. Com efeito, agora que me deparo com notícias sobre o embrião sintético, fico a imaginar que o progresso humano na medicina insinua que nós mesmos podemos muito mais do que já foi podido em tempos pretéritos, e que qualquer que seja o ponto em que estejamos, Deus sempre está muito além. Conseguintemente, resto despreocupado quanto ao adimplemento da prometida ressurreição aos crentes, por se tratar de algo não só possível, mas mui fácil ao Autor da vida. Luz!