Escola como espaço fenomênico
O que Estados Unidos da América, Rússia e França têm a ver com São Bento do Sul? Muitas coisas, é óbvio! Mas quero selecionar um fato social que reputo da maior importância: o transtorno de conduta relacionado ao espaço escolar. Há alguns dias a nossa cidade foi impactada com veiculação de mensagens ameaçadoras, direcionadas contra […]
Por Israel Minikovsky 14 min de leitura
O que Estados Unidos da América, Rússia e França têm a ver com São Bento do Sul? Muitas coisas, é óbvio! Mas quero selecionar um fato social que reputo da maior importância: o transtorno de conduta relacionado ao espaço escolar. Há alguns dias a nossa cidade foi impactada com veiculação de mensagens ameaçadoras, direcionadas contra três unidades de ensino. Como interpretar ocorrências desta natureza? Georg Hegel, em sua Ciência da Lógica, articula as categorias de individual, particular e universal. A escola, e isto já é uma interpretação, seria um portal de passagem, assentando-se sobre o particular, na qualidade de mediação, entre o privado (individual) e o público (universal). A família seria o espaço privado, e a sociedade em geral, o espaço público. É a escola que introduz o adolescente no mundo globalizado. Como a frequência escolar, no Brasil e na maior parte dos países, é compulsória, é natural que pessoas na faixa etária infantil ou adolescente apresentem suas dificuldades nesse âmbito, ou quando o âmbito é virtual, ele perdura jungido ao espaço físico escolar. Qual adulto não fez a experiência de deparar-se com problemas conjugais e familiares, cumulando os deveres profissionais, que não sofrem nenhuma dedução de responsabilidade, mesmo quando estamos estressados e exaustos? Imagine-se, então, um adolescente tendo que estudar para a prova de matemática e química, opresso pelos prazos dos trabalhos de inglês e biologia!? É certo que o professor não é psicólogo, e que o foco da escola é aprendizagem, e não educação. Não, em primeira mão. E se ambos os pais trabalham fora? E se o tempo de convivência sempre é curto? E se o aluno olha para todas as direções e não encontra uma única pessoa em quem possa confiar? Essa dificuldade não é a história de “um” adolescente. Trata-se da realidade de uma parcela significativa dos estudantes. Em muitos casos, mormente em se tratando de crianças e adolescentes, a agressividade, o vandalismo e a ameaça devem ser interpretados como um pedido de ajuda. Não será com violência que obteremos a atitude adequada daquele que está em processo de formação. Episódios como este, a pouco referido, mostram que o protagonista do imbróglio já vem sendo vítima de algum tipo de violência, mesmo que essa violência não seja exatamente física, quem sabe, acima de tudo, consistente em negligência ou omissão. A escola figura como o local em que se consuma o dano, ou é apontada como o potencial alvo, por ser, justamente, o entorno do adolescente, por definição etária, alguém problemático e em crise, alguém que se desenvolve e vive o luto da criança que vai morrendo dia a dia. No entanto, assim como se reconhece que a escola, sozinha, não é capaz de “educar”, todavia, integra um dos elementos do processo educativo, resta patente que, no caso concreto, ela falhou como sistema de referência. O adolescente não apenas não está referenciado, como ainda expressa a necessidade de sê-lo. E, pelo visto, os demais espaços, que concorrem com o espaço escolar, têm se mostrado tão ineficientes quanto ele. A referência precisa ser mental, afetiva e simbólica. Uma referência que não concentre em si estes três aspectos, será ineficaz. O sentimento geral dos dias de hoje é este: ninguém se sente acolhido, ninguém se sente pertencente aos espaços que frequenta. Em todo lugar somos, simplesmente, alguém que passa por ali. Perdeu-se o senso de comunidade. Os enlaces sociais estão cada vez mais tênues, e nesse amainamento dos vínculos, os próprios seres que entabulam a relação são apagados pelo modo superficial de dar e receber, de si e para si. Desaprendemos a intimidade. A maior competência e habilidade que alguém pode adquirir é a empatia com o estado de espírito do outro. Os resgatados de hoje serão os resgatadores de amanhã. Sintonia emocional é luz!