Etarismo
Etarismo é o preconceito contra pessoas em razão da sua idade. Quando a vítima do preconceito é idosa, esse etarismo se denomina ageísmo. No último dia 10 de março de 2023, viralizou um vídeo produzido por três acadêmicas do curso de Biomedicina, da Unisagrado, de Bauru (SP), sugerindo que, uma pessoa com mais de 40 […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Etarismo é o preconceito contra pessoas em razão da sua idade. Quando a vítima do preconceito é idosa, esse etarismo se denomina ageísmo. No último dia 10 de março de 2023, viralizou um vídeo produzido por três acadêmicas do curso de Biomedicina, da Unisagrado, de Bauru (SP), sugerindo que, uma pessoa com mais de 40 anos, não pode mais fazer faculdade. O alvo da zombaria seria uma colega, na casa dos seus 44 anos, inclusive tia de uma das protagonistas do tal vídeo. A mulher iniciou o curso em 27 de fevereiro do corrente ano. Outras(os) colegas, sensibilizadas(os) pelo ataque, homenagearam a quarentona com flores e chocolates. A atitude das três jovens recebeu forte reprovação social. Não é algo que se deva ignorar, mas com certeza, o caso merece juízo de ponderação, por tratar-se de pessoas de escassa experiência de vida, ainda que maiores de dezoito anos. É a própria realidade que mostra que o ageísmo não se sustenta, do ponto de vista teórico e prático. Um homem de 78 anos, em Varginha (MG), colou grau em Gestão Financeira, pelo Centro Universitário do Sul de Minas (Unis) em 25 de fevereiro. Recebeu o diploma das mãos do próprio filho, que é professor na instituição, e que chegou a lecionar para o seu genitor. Para a sua formatura, convidou ninguém menos que a própria mãe, uma anciã de 97 primaveras. A discussão sobre o espaço e a função da pessoa idosa na sociedade constitui importante tópico na pauta política e ideológica. Estamos caminhando, no Brasil e no mundo, para uma sociedade envelhecida. É estratégico explorar o potencial das pessoas com mais idade. Todos nós precisaremos permanecer um maior período no mercado de trabalho. Por uma questão de necessidade (que eu prefiro ver como oportunidade). Mas o etarismo nem sempre é ageísta. Tradicionalmente, no Brasil, um país de origem inegavelmente rural e de mentalidade ultrapassada, as crianças foram (e de certo modo ainda são) vistas como o não humano, a não pessoa. Por conseguinte, precisamos rever nossos hábitos pedofóbicos. É óbvio que a criança não tem a mesma desenvoltura comunicativa, como a de um adulto. Contudo, ela vai adquirir essa competência quando se lhe for dada a palavra. A criança precisa e tem o direito de falar e ser ouvida. Faz todo o sentido realizar esses dois debates simultaneamente, dado que uma civilização amadurecida não poderá prestigiar o idoso e ser displicente com o infante, ou vice-versa. A criança e o idoso são lados da mesma realidade, por definição, humana. Creio firmemente que, uma criança amada, respeitada e valorizada, compreenderá facilmente o dever para com os idosos, quando adulta, uma vez que, onde um dia se deposita, noutro momento, se poderá fazer o movimento inverso proporcional. Se os hoje adultos verbalizam que dispensarão tratamento urbano e honroso, às pessoas em desenvolvimento, quando elas estiverem na plenitude de suas faculdades mentais, no interior de suas residências, adquiridas à custa do próprio esforço, asseguro que a espera será em vão. Pois se o critério de valorização é a superação da necessidade de dependência, quando chegar a objetivada independência econômica, os artífices da autonomia, se verão desfalcados da alma do sentimento de gratidão: a ajuda imerecida, desprendida, imotivada. Onde tudo é mérito, falece a gratuidade. A gratuidade é o elemento que cimenta o afeto entre as pessoas de diferentes faixas etárias. E não ter essa percepção, não ter essa sabedoria, é o que fragiliza e até destrói os vínculos familiares e comunitários, que enchem de graça a nossa saga existencial.