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Extremismos: político e religioso

Hoje (07/12/2022), de madrugada, o governo alemão prendeu 25 pessoas, pertencentes a um grupo de extrema-direita, que planejava invadir a Câmara Baixa da República, seguindo-se-lhe um golpe de Estado. Que bom que o grupo foi barrado antes mesmo da execução do mau plano. O alvo do ataque é a economia liberal e a democracia. O […]

Por Israel Minikovsky 13 min de leitura

Hoje (07/12/2022), de madrugada, o governo alemão prendeu 25 pessoas, pertencentes a um grupo de extrema-direita, que planejava invadir a Câmara Baixa da República, seguindo-se-lhe um golpe de Estado. Que bom que o grupo foi barrado antes mesmo da execução do mau plano. O alvo do ataque é a economia liberal e a democracia. O governo alemão reconhece que, hodiernamente, a extrema-direita oferece um risco maior à paz, à ordem pública e à liberdade do que o jihadismo. No passado, o socialismo era compreendido como o grande risco à ordem social nacional e à ordem global. Agora, quando os socialistas não passam muito de uma classe social que viu boa parte de suas reivindicações ser atendida, eles mostram-se recatados e, no máximo, aparecem na mídia como referência de valores sociais para a comunidade. O risco agora é outro, ou vem de outro lugar, refiro-me aos direitistas de extrema. Parece haver um profundo inconformismo da parte de uma fração do eleitorado, no sentido de não aceitar o fato de que, agora, todos podem ser felizes e realizados. Quando você tem, por exemplo, uma lei que assegura 50% das vagas em universidades públicas para quotistas, por que se haverá de fazer revolução socialista? A possibilidade de ascensão social para os de mau nascimento é plenamente contemplada pelo ordenamento jurídico. É contra esta situação que se insurgem os extremistas de direita. A perda do monopólio à riqueza socialmente produzida, à formação acadêmica e ao profissionalismo, ao acesso de direitos e serviços públicos, coloca em pânico os que tinham o ego massageado pelo fato de assistir ao trabalhador, excluído, sem direitos, amargar na produção insalubre e sem EPIs. Um número substancial de pessoas odeia o Estado por ele fazer o que lhe compete. A política é malvista por estar cumprindo o propósito para o qual ela existe. É como se fosse dito o seguinte: não basta o meu quintal ser belo, é necessário, ainda, que o quintal do vizinho seja feio. Outro problema, além do propriamente político, é o religioso. A religião tem sido violentamente instrumentalizada para objetivos espúrios. Primeiro, quero dizer que o Alcorão poderia e deveria ser entendido como uma Escritura Sagrada judaica para povos árabes. Assim como o cristianismo é uma versão ou ala do judaísmo, ainda que a parte derivada tenha se tornado maior que a parte original, o islamismo cumpre uma razão de ser similar. Só por aí, já fica muito estranho verificar-se conflito entre judeus, cristãos e islâmicos. Lideranças religiosas dos três monoteísmos, a pouco citados, orientam os fiéis a odiar quem pensa diferente. Mas judaísmo, cristianismo e islamismo, não são, no fundo, a mesma religião? E mesmo que se prove que são religiões diferentes, não são, cada uma das três, matrizes da religião do amor? Do ponto de vista social, a percepção que se tem é esta: as religiões não servem para absolutamente nada, e ainda geram instabilidade social. Eu penso que uma religião comprometida e engajada deveria colaborar para a superação de toda forma de preconceito, deveria ser um amálgama entre todos os seres humanos – e não só dentro da própria congregação – , deveria ser fator de dinamismo e não de obstrução, deveria transbordar caridade, ao invés de doutrinar pelo ódio e para o ódio. Se uma sistemática de pensamento político ou religioso, para funcionar, necessita destruir este mundo e construir um outro onde ela possa imperar, então estamos diante de uma inutilidade. Uma metodologia de intervenção na realidade e uma filosofia de vida deve transformar o mundo do jeito que ele é, para que ele seja do jeito que ele deve ser. Paz e harmonia são luz!