Fé e liberdade pessoal
Devanshi Sanghvi, uma menina indiana de oito anos de idade, renunciou à potencial herança da família, estimada em US$ 61 milhões, acumulada pelo seu pai, um joalheiro bem-sucedido, para viver a vida monástica. Sua família é adepta da religião jainista, cujo fundador teria sido Mahavira, um contemporâneo de Buda, outra ilustre figura filosófica e religiosa. […]
Por Israel Minikovsky 12 min de leitura
Devanshi Sanghvi, uma menina indiana de oito anos de idade, renunciou à potencial herança da família, estimada em US$ 61 milhões, acumulada pelo seu pai, um joalheiro bem-sucedido, para viver a vida monástica. Sua família é adepta da religião jainista, cujo fundador teria sido Mahavira, um contemporâneo de Buda, outra ilustre figura filosófica e religiosa. Ela raspou o cabelo, que era mui bonito, por sinal, para simbolizar a renúncia de qualquer tipo de vaidade. A cerimônia teve grande repercussão pública, e o cortejo foi puxado por um elefante, também ele vestido como manda o figurino. Agora, a noviça monja levará consigo apenas uma toalha, além das roupas do corpo, para estender onde ela decidir dormir, ao ar livre. Quando tiver fome ou sede, terá de pedir comida de porta em porta. É claro que, nós, ocidentais, ficamos chocados com essa situação. Temos a noção de que, uma pessoa tão jovem, não está em condições de anuir num negócio tão sério como este. Quem conhece a legislação brasileira, sabe que o Estatuto da Criança e do Adolescente é incompatível com a exposição de menores de idade, o que abarcaria o evento aqui descrito. Muitos ocidentais fazem mau juízo dos indianos porque eles não são receptivos à nossa cultura. Preciso dizer que nós sofremos do mesmo mal. Na última exposição de arte, de repercussão nacional no Brasil, formularam-se críticas seríssimas a um artista que representou Jesus Cristo crucificado com vários braços. Por que o Deus do outro tem de ser, necessariamente, profano? O que Jesus é para nós, o é Brahma para os indianos. Os cristãos creem em Pai, Filho e Espírito Santo. Os indianos creem em Brahma, Vishnu e Shiva. Os cristãos acreditam em ressurreição, mas os livros sagrados indianos também registram casos de ressurreição. Os cristãos creem em alma, os indianos creem em atman (daí que vem a palavra “atmosfera”). Quem de nós aprendeu hebraico e grego antigo para ler a Bíblia no original? Contudo, muitos indianos aprendem o sânscrito para ler no original os Vedas, os Upanishades, o Baghavat Ghita, o Mahabarata e o Marayana. Tomás de Aquino, o líder intelectual dos intelectuais católicos, deu entrada ao convento, segundo minhas fontes, aos onze anos de idade. O que disse Jesus Cristo? Para buscarmos o Reino de Deus, e todas as demais coisas nos seriam acrescentadas. Ele ainda disse: deixai vir a mim as criancinhas. Quando o jovem rico, que para além do patrimônio era assaz piedoso, perguntou a Cristo o que lhe falta fazer, Jesus foi taxativo: se queres ser perfeito, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu! Não foi exatamente isto o que fez Devanshi Sanghvi? Fosse eu empilhar os livros que já li, poderia formar uma montanha com eles. (Coincidência ou não, Jesus também disse que a fé move montanhas). E depois de ter lido tudo isso, pude perceber que, até o presente momento, não há melhor escolha do que o Reino de Deus. Devanshi Sanghvi, pela idade, presumo seja conhecedora apenas dos domínios rudimentares da linguagem escrita, chegou à mesma conclusão que eu, com incomparável melhor performance. Parabéns, Devanshi Sanghvi, afinal, você “escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. Nossa cândida e doce joia rutilante!