Página Inicial | Colunistas | Fragilidade da conjuntura internacional

Fragilidade da conjuntura internacional

Para onde vai o mundo?

Por Cleverson Israel 17 min de leitura

Uma das primeiras medidas tomadas por Donald Trump, ao assumir a cadeira presidencial de seu país, foi sobretarifar mercadorias oriundas de outros países. Inclusive e com maior ênfase, foram sobretarifadas mercadorias da China, do Canadá e do México, os três maiores parceiros comerciais dos estadunidenses. Ao que parece, o objetivo era contemplar o eleitor republicano autóctone branco pobre, sem emprego, ou em subemprego, com baixa remuneração. Numerosíssimas empresas têm a sua planta industrial em países onde tudo é mais barato, sobretudo a mão de obra. Mesmo pagando imposto de importação, compensa para quem produz, produzir fora e vender dentro dos Estados Unidos. Essa dinâmica, logicamente, reforça a desocupação dos trabalhadores. O aumento das tarifas visou a, entre outros objetivos, tirar a atratividade de produzir fora, encarecendo o produto, perdendo a vantagem do baixo custo no estrangeiro. Evidentemente, a estratégia não funcionou. Como os produtos vindos do exterior foram artificialmente encarecidos, os produtores internos puderam elevar o valor de suas mercadorias. Em última análise, ficou caro para o consumidor final, para o próprio cidadão que votou em Trump. Como os outros países que foram prejudicados partiram para a retaliação fiscal, os norte-americanos se depararam com os produtos de que necessitam, comercializados a preços exorbitantes. O mundo também retraiu na aquisição de bens de procedência ianque, eis que acham-se fora do valor de mercado. As bolsas tiveram quedas históricas. O capital financeiro é volátil, e não se radica em um território físico, com o mesmo nível de apego de um capital fabril, exemplificativamente. Em poucos dias os Estados Unidos da América perderam muitos trilhões de dólares. Foram vários brasis dilapidados, a título de comparação. O despotismo de Trump transcende o mundo aduaneiro. Ele está prestes a fechar acordo com Vladimir Putin, para acabar com a guerra na Ucrânia. Se a Rússia findar a guerra, ao menos com a maior parte do território ucraniano anexado, poderá se considerar vitoriosa no plano concreto e simbólico. Sua necessidade de segurança terá sido satisfeita. Quem ficarão inconformados serão os europeus. Não foi por nada que Macron falou em disponibilizar suas armas nucleares para os vizinhos europeus. Os britânicos saíram da União Europeia, e os alemães fizeram questão de não falar em nome do continente, para não ficar com cara de Terceira Guerra Mundial. Só poderia ter sobrado para as lideranças francesas. Esse aperto de mão entre Trump e Putin teria sabor de fim de Segunda Guerra mundial, em que os alemães assinaram rendição incondicional, e a Europa ficou dividida entre Estados Unidos da América, de um lado, e União Soviética, de outro. Para o Oriente Médio, Trump deseja transformar a Palestina em uma espécie de resort, quando absolutamente todos os palestinos forem removidos para países árabes. Elon Musk segue com sua tarefa de enxugar a máquina pública e, em tese, aumentar a eficiência do Estado. Calcado nesse entendimento, está a exonerar servidores de carreira que já contavam com extensa trajetória no serviço público. Passados esses poucos dias, o republicano que vem exercendo seu segundo mandato presidencial (intercalado) já tem menos de cinquenta por cento de aprovação. A única coisa, que Trump parece ter na cabeça, é a informação de que os Estados Unidos são a maior economia do mundo e possuem o maior aparato bélico planetário. Ocorre que os norte-americanos compram do mundo e vendem para o mundo. Uma eventual coalizão militar nuclear, do tipo Rússia-China-Índia-Irã, colocaria os ianques em uma saia justa, no mínimo. Quando o modelo de mundo, avençado na Conferência de Berlim, no fim do século XIX, espelhando o arranjo econômico produzido pela Revolução Industrial, deixou de atender o interesse dos poderosos, desatou a Primeira Guerra Mundial. Ela foi encerrada por razões econômicas, mas o problema não foi resolvido, os alemães não foram contemplados com o respectivo espaço a que o tamanho de sua economia faria jus. Isso, para nem se falar nas indenizações de guerra. Resultado? Segunda Guerra Mundial. Ao fim e ao cabo da Segunda Guerra Mundial, a conjuntura geopolítica foi redesenhada. A nova ordem estabelecida funcionou por décadas. Porém, agora já começa a exibir sinais de obsolescência e fadiga. Principalmente por conta do crescimento não uniforme dos países. E a mudança econômica não consegue os ajustes de que necessita pelas vias diplomáticas, do que a Guerra da Ucrânia pode ser posto como paradigma. Estaria Rosa Luxemburgo correta, para quem o sistema capitalista, necessariamente, entraria em guerra para resolver o que o mercado não consegue resolver por si só?