Geografia do pensamento
Quando Albert Einstein elaborou a teoria da relatividade, de acordo com a qual a conjugação entre espaço e tempo é relativa, desde que a própria estrutura da matéria é volátil, se dobrando ao universo em que tudo está em relação com tudo, revolucionou a física, mas transcendeu os limites da referida disciplina. Na epistemologia, por […]
Por Israel Minikovsky 13 min de leitura
Quando Albert Einstein elaborou a teoria da relatividade, de acordo com a qual a conjugação entre espaço e tempo é relativa, desde que a própria estrutura da matéria é volátil, se dobrando ao universo em que tudo está em relação com tudo, revolucionou a física, mas transcendeu os limites da referida disciplina. Na epistemologia, por exemplo, conforme leciona Immanuel Kant, espaço e tempo seriam absolutos, com prioridade em relação à própria experiência. Se Einstein está certo, então a Crítica da Razão Pura deve ser revista. Para além do âmbito científico ou filosófico, a arte de saber viver se traduz na arte de saber se relacionar, consigo mesmo, com o outro, com o mundo, com Deus. Uma das maiores conquistas da humanidade consistiu na construção conceitual do direito mundial, em que valores e princípios são concebidos como garantias indisponíveis e inegociáveis. Entre os tais se acha o direito à liberdade de pensamento e expressão. Essa liberdade assegura, inclusive, o exercício crítico do pensamento. Referenciais paradigmáticos, de alto valor simbólico, podem ser o alvo de crítica. As religiões, todas elas, podem ser objeto de crítica do ponto de vista histórico, sociológico, filosófico, teológico, hermenêutico, etc. Mas se, como pensador ou escritor, posso exercer a discricionariedade da crítica, ninguém, noutro norte, é obrigado a concordar com minha crítica. O adepto de qualquer religião é credor da liberdade de consciência religiosa, resguardado, ainda, o direito de reuniões cúlticas, livre da importunação de quem quer que seja. Há algum tempo o vereador curitibano Renato Freitas, que interrompeu uma missa, teve o seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, e, recentemente, por decisão judicial, teve assegurado o direito de poder listar-se entre outros candidatos para este e os próximos pleitos. Sinceramente, não sei se o mais acertado seria lhe denegar esta oportunidade, certo mesmo é que o edil errou, e de maneira grave. Se alguma pessoa tem algo a dizer para uma comunidade de fiéis, convém que o faça no momento oportuno, através do meio oportuno (o qual cumpre a função de “espaço” pelo qual flui a mensagem). Tumultuar cerimônia ou celebração litúrgica para “mandar recado”, além de se mostrar opção inadequada, se configura numa terrível violação do sentimento religioso daqueles que congregam no templo, ou comungam da mesma verdade doutrinária. O debate deve situar-se sempre no plano ideológico, respeitando regras e costumes sociais. A violência e o desrespeito não levam a nada de positivo. Incidentes como este, em que uma figura de autoridade externa irreverência a um espaço histórica e socialmente consolidado, contribuem para a desconstrução da política no seu sentido mais rico e original: a arte de resolver conflitos pacificamente. O mais elevado ideal, o mais belo projeto de sociedade, perdem seu fundamento teórico e moral quando as estratégias eleitas afrontam os próprios pressupostos apresentados como metas a serem alcançadas. Ou seja, paz não se faz com violência, democracia não se faz pelo autoritarismo, a serenidade do entendimento não é obtida pela animosidade irrefletida. O cristianismo não é o problema, ele é a solução. Teólogos, filósofos e outros intelectuais, precisamos compreender os ensinamentos das Sagradas Escrituras à luz da realidade social dos nossos dias. Os verdadeiros cristãos não se deixam arrebanhar por aquilo que devem odiar, mas por aquilo tudo que devem amar. A discussão não consiste em escolher ou preterir Samaria ou Jerusalém, consiste em enxergar no outro “o próximo”, aquele “tu”, que nada mais é senão um outro “eu”. Amor, isto sim é luz!