Globalização e religião
Indubitavelmente, a morte é o combustível da religião.
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
Com a globalização ocorrem fenômenos culturais como o da expansão de idiomas que já têm predominância, fazendo sucumbir os recessivos, aqueles cujo número de falantes é escasso. Clive Staples Lewis (1898-1963) dissera que, ao fim, ou no fim do mundo, sobrariam apenas duas religiões, o hinduísmo e o cristianismo. O primeiro a tudo assimila, o segundo rejeita o que não faz parte de sua essência. Aliás, esse aspecto rechaçador, o cristianismo tomou do judaísmo, na qualidade de uma de suas variantes. A crítica que se faz ao cristianismo é que a Igreja Cristã parou depois da Páscoa e antes do Pentecostes. A Igreja estaria morna ou apática. A onda pentecostal viria corrigir este problema. De tal sorte que, o avivamento viria a ser parte conceitual da sua denominação. Por conseguinte, na Igreja Católica, o centro estaria no altar, nas Igrejas Reformadas Históricas ele estaria no púlpito, e nas denominações pentecostais, nos bancos. A ponto de surgir uma novidade teológica. O segundo batismo, que seria o do Espírito Santo, tendo como externamento o falar em línguas estranhas. No batismo de água é Jesus quem batiza pelo Espírito Santo, no segundo batismo, é o Espírito Santo que batiza por meio de Jesus Cristo. Essa noção trouxe a compreensão da subsequência. Que logo foi derribada pelos zeladores da ortodoxia. Não há que se falar em dois batismos, e nem que uma situação seria condicionalidade da outra. Pois Cristo está no Espírito Santo, e, Este, Naquele. Como disse certo filósofo da religião, a existência é um hiato entre duas inexistências. Indubitavelmente, a morte é o combustível da religião. Ela nos torna irrequietos, pois não nos conformamos com a breve duração de nossos dias, queremos um tempo a mais, e algo a mais. Secundando a finitude dos nossos dias, está aquela percepção fina e sutil de que nem tudo se esgota no meio físico, há um sobrenatural adiante do meramente natural. Para a maior parte das pessoas, a grande questão não é ter ou não ter religião, mas qual delas professar. Como um produto em prateleira de supermercado, todo dia surgem novas opções. Em toda tradição religiosa há essa contradição latente, ver-se forçada a atualizar-se para ser resposta para o mundo presente, procurando não perder as marcas de sua identidade. Fala-se muito em ecumenismo. Ele é uma proposta que tem como escopo desacelerar a fragmentação das religiões em pequenas denominações. Como a aproximação pelos valores e doutrinas comuns não tem surtido o efeito esperado, alimenta-se uma esperança de que o avivamento cumpra este papel. O movimento carismático dentro da Igreja Católica surgiu nos Estados Unidos da América, em que pastores evangélicos e bispos católicos chegaram ao entendimento comum, de que o mesmo Espírito Santo profuso em carismas, é o Uno como fonte e ponto de retorno. Fica a pergunta: conferir às Igrejas Cristãs um viés carismático, dito de outra forma, pentecostal ou avivado, vai salvar o cristianismo? Muitos apostaram que sim. O homem contemporâneo não quer apenas ouvir falar de Deus, mas quer falar com Ele. O cristianismo pôde expandir-se porque sua mensagem fazia sentido aos ouvidos daqueles a quem a pregação se dirigia. Então, ainda hoje, o discurso dos ministros de confissão religiosa deve vir ao encontro da psiquê humana, dos seus anseios mais profundos. Jesus Cristo, as Sagradas Escrituras, a Igreja, os homens e mulheres de Deus, têm como missão ser resposta para os problemas das sociedades humanas e para os problemas do mundo, como um todo. Muitos são os movimentos contemporâneos religiosos. Parte considerável deles está aliançada com o esoterismo oriental, com o ocultismo, com uma espécie de espiritualidade difusa. E esses movimentos têm cartilhas políticas de alcance mundial, na real, batalhando por metas justas, positivas e realistas. A integração de todos os povos, nações e etnias é o alvo maior, e, em meu entender, o mais belo. O aspecto colateral disso, é uma eventual diluição da axiologia cristã, o que se confunde com a perda de nossa própria identidade. Jesus Cristo não pode ser reduzido a tão somente mais um guru do Oriente. Quem é o Cristo, nós sabemos. E todo cristão está sujeito ao princípio mandamental de anunciá-Lo. Luz!