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IA: a dialética do progresso e da segregação

Bill Gates aposta que a inteligência artificial vai revolucionar a nossa vida em cinco anos. A IA será tão impactante em nossa vida, quanto foi e continua sendo, o microprocessador, o computador pessoal, a internet e o celular com suas múltiplas habilidades. Como ocorre com o advento de toda outra tecnologia, a chegada das mudanças […]

Por Israel Minikovsky 17 min de leitura

Bill Gates aposta que a inteligência artificial vai revolucionar a nossa vida em cinco anos. A IA será tão impactante em nossa vida, quanto foi e continua sendo, o microprocessador, o computador pessoal, a internet e o celular com suas múltiplas habilidades. Como ocorre com o advento de toda outra tecnologia, a chegada das mudanças profundas trazidas pela IA nos levará, coletivamente, a um patamar mais elevado, ao passo que, aqueles que não têm acesso a uma educação de qualidade, ficarão ainda mais alijados dos recursos imprescindíveis à integração social. É tudo uma questão de ponto de vista. Há historiadores que interpretem o uso do tear mecânico na indústria têxtil como um fator gerador de farta empregabilidade, ao passo que outros atacam a tecnologia em comento, afirmando ter ela suplantado o tecelão manual. Eu acredito mais na primeira tese. Sobretudo considerando o boom demográfico na Europa, que seguiu a Revolução Industrial. Como o uso do fogo, a invenção da roda, a invenção de grandes embarcações, a invenção da máquina a vapor, a invenção da produção em série, etc, a IA vai redefinir todas as atividades humanas e econômicas. A IA transformará, mais que outras áreas, os serviços de transporte, de finanças, e de saúde. A IA poderá prestar atendimento de saúde lá onde um agente humano não pode estar. Além disso, a IA poderá descobrir novos medicamentos pela apreciação de dados sintetizados, o que mais tarde terá de ser certificado clinicamente. Então surge um profissional novo, aquele que fica interposto entre a IA e o mundo empírico, onde está o paciente e donde se extrai a solução para a demanda. A grande ambição consiste em criar o que já se convencionou chamar de “inteligência artificial generativa geral”. Essa expressão procura abarcar uma tecnologia que faça o trabalho típico de um ser humano, vencendo toda complexidade que implica a realização dessas tarefas. Os alarmistas acham-se em desespero, temendo pelo próprio futuro e a dificuldade de lograr uma renda que assegure a subsistência. Economicamente, faz algum sentido. Com o debacle do trabalho, malogra, outrossim, o salário, afinal o acessório segue o principal. De que modo as mercadorias oriundas do processo fabril serão adquiridas, dado que o cidadão está colocado fora da cadeia produtiva, perdendo, com o ostracismo do mundo do trabalho, a respectiva compensação que faria dele, na outra ponta, um consumidor? Quiçá, a melhor resposta seja acreditar que, com as novas tecnologias, não apenas morram velhas profissões, mas sejam criadas novas. A saída, portanto, é o esforço da qualificação. Com a inversão da pirâmide demográfica, nesse mundo envelhecido e com baixa taxa de natalidade, a dita cuja inteligência artificial generativa geral poderá vir a ser a solução para escassez de recursos humanos. Não há a menor dúvida de que os trabalhos manuais e braçais exigem mais do corpo do trabalhador. Recentemente, o próprio ministro da previdência social admitiu que não faz sentido estabelecer parâmetros idênticos para a concessão de aposentadoria em se tratando de trabalhadores diversos, um braçal e outro intelectual. Por conseguinte, a ideia seria relegar às máquinas todo trabalho fatigante, o que nos permitiria nos ocupar com fazeres de controle e gestão, sobretudo gestão de informação, com apoio, mais uma vez, da IA. Poupados destes esforços, seria possível traçar critérios uniformes de idade mínima e tempo de contribuição, prolongando o período economicamente útil e contributivo do administrado-contribuinte, aliviando a pressão orçamentária e atuarial sobre os fundos previdenciários. Destarte, o uso de tecnologia não deve ser combatido, mas gerido e orientado. O trunfo da IA é, ou será, a amplitude de sua aplicação, desde a feitura de cálculos complexos, desde edição genética, até elaboração de prognósticos, até toda espécie de estudos de viabilidade. A internet nos permitiu criar um lugar onde toda informação pode ser armazenada. E, agora, a IA fará o esforço de integrar todas estas informações para fins úteis, de acordo com nosso interesse. A internet trouxe o fim da era de ouro da televisão, por exemplo, mas nos abriu horizontes muito mais amplos. Até o surgimento da IA pudemos dispor de softwares de produção de texto e de produção de imagens, mas a criatividade ficava por nossa conta; como a máquina de escrever era nossa escrava, o mesmo coube ao Word, LibreOffice, etc, mas agora, a máquina produz o conteúdo, seja ele texto, imagem ou som. A tecnologia potencializou sua instrumentalidade, saindo do restrito espaço de meio, para avançar ao conteúdo pronto, com a ousada participação em termos de criatividade, faculdade esta que, anteriormente, era coisa nossa, exclusivamente nossa. Sim, IA haverá de ser luz!