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Internet: 30 anos

Em 1989, o físico inglês Tim Berners-Lee, que trabalhava no centro de pesquisas da Organização Europeia de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra, o mais célebre dessa espaçonave chamada mundo, via-se acabrunhado pelo caos que imperava no campo das informações científicas. Então, teve a ideia de criar uma rede mundial para confrontar e uniformizar informações. Berners-Lee, […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Em 1989, o físico inglês Tim Berners-Lee, que trabalhava no centro de pesquisas da Organização Europeia de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra, o mais célebre dessa espaçonave chamada mundo, via-se acabrunhado pelo caos que imperava no campo das informações científicas. Então, teve a ideia de criar uma rede mundial para confrontar e uniformizar informações. Berners-Lee, a partir de então, empenhou-se em desenvolver os componentes que tornariam a World Wide Web funcional: o localizador uniforme de recursos (URL), para identificar os endereços na rede, a linguagem HTML para programar as páginas, o protocolo técnico HTTP para criação e uso de links e, por fim, o navegador. Em 30 de abril de 1993 a internet começa a deslanchar. Desnecessário tecer grandes comentários, no sentido de ressaltar a relevância da rede em nossas vidas. Mais da metade da mão de obra no mundo, ou ao menos nos países desenvolvidos e emergentes, laboram em frente das telas. Nós alimentamos a rede e dela nos alimentamos. Assim como os organismos estabelecem relações circulares com a biota, algo idêntico ocorre em relação à rede. Isto é tão verdadeiro que, ficar sem rede, é sinônimo de ócio, ou seja, em muitos ofícios, ficar sem net, é ficar sem condições nenhumas de trabalho. Houve todo um reordenamento da atividade estatal a partir do advento da internet. Hoje está mais difícil sonegar ou permanecer foragido da justiça. A atividade econômica sofreu reviravoltas, as mais radicais. O conhecimento difundiu-se numa quantidade e velocidade sem precedentes, curiosamente, o exato motivo que instigou os primeiros esforços do inventor desse magnífico recurso. A grande mudança de perfil na rede foi esta: a mercantilização. No início de 1997, quando eu me preparava para elaborar aquele que seria o primeiro trabalho de aula “acadêmico”, para a disciplina de antropologia cultural, que integrava a grade do meu curso de filosofia, na Unifebe, conheci a iniciante tecnologia. O tema eleito foi o uso do chimarrão na cultura sulbrasileira. Lembro-me de que quando lancei a palavra-chave no buscador, “chimarrão” predominavam maciçamente informações básicas de cunho científico e de saúde, além daquelas mais detalhadas, que preconizavam as propriedades químicas, físicas, botânicas e farmacológicas da erva-mate. Hoje, estas informações continuam existindo. Porém, talvez as informações mais técnicas, pertinentes à literatura de viés informativo, ficarão abarcadas por um link que figura na aba de número trinta. Porque as primeiras páginas estamparão links patrocinados. O potencial estendido da rede deslocou-se da informação para a comunicação, o que compartilha uma área de intersecção, pois há um condomínio, embora não identidade absoluta. Ter na palma da mão uma unidade móvel, conectada à rede, com aplicativo nos moldes de whatsapp, por exemplo, efetiva comunicação instantânea a baixo custo ou, a depender, sem custo. Tudo isso são desdobramentos da internet. Seres gregários que somos, como assinalara Aristóteles, não é de admirar que uma das maiores invenções do gênero humano tenha sido, depois da escrita, um mecanismo que nos permite firmar vínculos, trocar ideias e informações. A biologia leciona que a capacidade de sobrevivência de uma espécie está ligada à faculdade de transmitir informações às gerações seguintes. Exatamente o quesito no qual nos destacamos em relação às demais formas de vida que partilham conosco o entorno. Como qualquer ramo de atividade encontra seu fundamento no saber, ou num conjunto de informações estrategicamente selecionadas, pode-se dizer que a internet é a mais arrojada ferramenta de trabalho. Acertada foi a aludida invenção, e muito correta é a escolha consistente em procurar otimizar aspectos e recursos inerentes e latentes ao projeto inicial. Como tudo o que existe no mundo, a internet deve ser empregada com ética. A internet é o oceano do conhecimento, e sabedoria é o uso responsável deste maravilhoso cabedal.