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Israel e Palestina: a permanência do conflito

Conflitos pela posse da terra ocorrem em todos os lugares do mundo, inclusive no Oriente Médio. Veja que o conceito de “Oriente Médio” situa o palco da lide. Sabemos que o continente Europeu e Asiático são fisicamente unidos, motivo pelo qual sua separação em distintos continentes é cultural. Como tudo o mais, é o homem […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

Conflitos pela posse da terra ocorrem em todos os lugares do mundo, inclusive no Oriente Médio. Veja que o conceito de “Oriente Médio” situa o palco da lide. Sabemos que o continente Europeu e Asiático são fisicamente unidos, motivo pelo qual sua separação em distintos continentes é cultural. Como tudo o mais, é o homem branco ocidental que diz onde as coisas começam e onde terminam. O homem caucasiano é o elaborador dos conceitos que a tudo definem. O que quero dizer é que, em que pese a expressão idiomática “Oriente Médio”, não estamos autorizados a presumir que a beligerância não tem nada a ver conosco. No ano 70 d. C. Jerusalém foi destruída e houve a grande diáspora. Judeus viveram séculos e séculos em vários lugares do mundo, inclusive na Europa. Depois do domínio otomano (1517-1917), foi a vez de os britânicos administrarem o território que hoje pertence precariamente a Israel. Ingleses e norte-americanos respaldam os judeus na imissão de posse do espaço contestado por múltiplos fatores de conveniência. Desde o fato de haver judeus riquíssimos que partilham interesses com outros super-ricos europeus e norte-americanos, até questões estratégicas políticas e militares. Faço estas considerações para dizer que Israel é um pedaço da Europa fora da Europa, é um país ocidental dentro do Oriente. Pouco se comenta que sempre houve presença hebreia no espaço que vem a ser Israel. E os judeus que permaneceram no Oriente Médio ao lado de islâmicos e cristãos ortodoxos eram idênticos aos seus vizinhos orientais. Foi o longo período de estágio na Europa que fez os judeus reformularem sua visão de mundo, é a partir dessa experiência que nasce o sionismo. O europeu é dominador, o judeu foi aluno, adquiriu a noção da importância da ciência e da técnica, para além da Torá e do Talmude. Mais que uma disputa pelo espaço físico, o de que se trata é de uma disputa pelo espaço simbólico, pelo espaço da noosfera. O judeu contemporâneo valoriza democracia, liberdade de expressão, direitos civis, e por aí vai. Mesmo havendo recessão democrática em todo o mundo, e mesmo ocorrendo a expansão da direita ditatorial, a marca do Ocidente continua sendo o pluralismo e a diversidade dos modos de pensar. Muitos judeus são esquerdistas, defendem os palestinos, e dizem que a ocupação do território israelense é ilegítima. Em Israel, como nos países ocidentais de centro, são professados todos os credos políticos, sociais e filosóficos, com suas nuances, de zero a cem. O judeu conseguiu assimilar isto, ocidentalizado que se tornou, mas os palestinos, não. A verdade do palestino é a verdade do Alcorão e ponto final. Então, por melhor noção que tenhamos de nossa própria cultura, aliás, etnocentrismo é algo que se verifica em todas as culturas, precisamos admitir que o conflito no Oriente Médio é o retrato fiel da incompatibilidade (aparente) da visão de mundo oriental e ocidental. Discutimos questões religiosas, teológicas, éticas e morais, com uma serenidade que faz o islâmico ficar chocado. Uma pessoa sem grande formação acadêmica, na América Latina, por mais que acredite na doutrina de sua própria denominação religiosa, consegue harmonizar sua psiquê com o fato de o seu vizinho ou pessoa da família crer em outro ensinamento e congregar num lugar diferente. Conquanto a verdade, para nós, seja uma teoria, um problema epistemológico, um viés, uma percepção, o lado mais triste mora em outro lugar. Potências ocidentais estão habituadas a tirar vantagens do conflito israelopalestino, e esse aspecto de rotunda gravidade moral, de tudo o mais, é o que relativiza os albores de toda nossa reflexão filosófica e os triunfos em todas as ciências, inclusive e sobretudo, as ciências humanas. Escrevi estas coisas porque aquilo que nos chega pelo noticiário parece ser algo distante e desconexo de nossa realidade. Sentimo-nos até superiores, como pessoas que aprenderam lições ainda ignoradas pelos médio-orientais. O que poucos sabem, é que nossas lideranças, nos bastidores, maquinam maus planos e semeiam a discórdia, visando a interesses escusos,  ao passo que a mídia nos apresenta o desenrolar dos acontecimentos como um problema local, que de global só tem a divulgação, e nada mais. Deveras, estamos precisando de muita luz!