Jovens NEM NEM, idosos SEM SEM
Uma questão de cautela e previdência
Por Cleverson Israel 17 min de leitura
O Brasil é destaque em se tratando de jovens nem, nem. São aqueles que nem estudam e nem trabalham. O camarada não descobriu por que e para que está vivo. São pessoas que buscam a acomodação e o conforto, justamente quando o companheiro dos vitoriosos é o desconforto. Tenho lido reiterados textos sobre esse assunto, no fundo, mais um fenômeno social carente de explicação. A novidade veio há poucos dias, os tais idosos denominados sem, sem. Precisamente, sem o quê? Sem trabalho e sem aposentadoria. Chegada a idade mínima, para estes incautos, existe o BPC – Benefício de Prestação Continuada, uma política da pátria amada, nem sempre ladeada por um correspondente em outro país, menos interessado nas demandas sociais. De todo modo, os benefícios de transferência de renda são alimentados por quem integra a cadeia produtiva, carreados para cidadãos, em alguns casos, historicamente improdutivos, inclusive, por escolha própria. Pessoas sábias sempre dizem que devemos nos preparar para os imprevistos. Este conselho está correto. Todavia, não nos esqueçamos do que é ainda mais simples: prepararmo-nos para os previstos. É absolutamente previsível que, se não tivermos maior azar, um dia seremos idosos e precisaremos de tudo o que um ser humano precisa, mais aquelas demandas que acompanham o aumento da idade. Então fica a pergunta: como estou me preparando economicamente para esta condição? Aproximando-nos dos cinquenta, já começa a ficar difícil arranjar trabalho. O empregador sabe que o nível de energia já não é mais o mesmo, o colaborador fica mais propenso a ter problemas de saúde. Portanto, é preciso investir em qualificação profissional, para que esse diferencial de competência pese mais na balança do que o diferencial negativo da idade aumentada. A referida conjuntura, a respeito da qual redijo estas linhas, é a mais pura realidade, infelizmente. No entanto, a ela se aplica o ensinamento de fábulas, como aquela da cigarra e da formiga, de autoria de Esopo (620-564 a. C.). Quem usa os dias da primavera e do verão para guarnecer o ninho, para o recato do inverno, é sábio. A formiga, pois, está de parabéns. Entrementes, bem diferente é o caso da cigarra, que entrega-se à boemia, e com nada pode contar ao longo dos meses frios, a não ser com a caridade da formiga. A comparação é óbvia: os jovens nem, nem, de hoje, serão os idosos sem, sem, de amanhã. O tempo passa muito mais rapidamente do que possamos ponderar. O problema de não estudar e não trabalhar, é que as oportunidades econômicas vão passando por um estreitamento: as empresas querem pessoas com formação e experiência na área, e, se possível, jovens. Por conseguinte, aquele que não se ajusta a esse perfil, vai ficando cada vez mais distante do padrão ideal de colaborador desejado. Pessoas sem iniciativa são um peso morto para si próprias e para a sociedade. A criança precisa ser instigada a desenvolver sua autonomia e protagonismo, a ser curiosa em relação ao saber e ao mundo que a rodeia. É a lei da inércia: um corpo parado tende a permanecer parado, um corpo em movimento tende a ficar em movimento. A primeira escolha é esta: serei estacionário, ou serei dinâmico? Quanto mais alguém trabalha, mais trabalho enxerga pela frente. É preciso sempre agir, para não ter de, de repente, reagir. Porque a reação pode estar fora de alcance, ou esmaecida, a ponto de não conseguir remediar a situação. Não estudar e não trabalhar não é apenas um problema de caráter, é ausência de raciocínio lógico e consequente. Como deve ser triste, atravessar toda uma existência, sempre sendo carregado pelos outros. Muito se critica atualmente a geração Z. Escritos com dois milênios, em Roma, continham preocupações dos mais velhos, tocantes à crença de que o mundo acabaria, pois “a geração de hoje é irresponsável, como nunca antes”, podendo, ademais, compararmos anotações parecidas com esta no Velho Egito, com datação de radiocarbono acusando um valor próximo a cinco mil anos. Digo isto, porque em todos os tempos, lugares e gerações, deparamo-nos com pessoas responsáveis e com pessoas irresponsáveis. O mesmo cristianismo que ensina o desapego a bens materiais, condena a imprudência. As virgens imprudentes, que não colocaram óleo suficiente na botija, não puderam participar das núpcias com o noivo. É preciso que sejamos tão cautelosos a ponto de cobrir o período de jubilação, assim como carece não consumir nossos dias com trabalho e fadiga, ganhando o mundo, pondo a perder o bem mais valioso, a nossa alma. Você que é jovem, e leu este artigo, reflita bem, ainda é possível uma guinada, uma mudança de rota. Estudo e trabalho são luz!