Lula convoca embaixador brasileiro em Israel após repreensão de Israel
O presidente Lula ordenou o retorno ao Brasil do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer.
Por Cauan 12 min de leitura
A informação foi revelada nesta segunda-feira pela coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo. Essa ação ocorre em resposta à repreensão de Israel, que convocou Meyer na segunda-feira (19) para uma reunião realizada no Museu do Holocausto, após as declarações de Lula no domingo comparando as ações de Israel em Gaza à perseguição dos judeus por Adolf Hitler.
Após a divulgação do pedido pela imprensa, o Itamaraty emitiu uma nota informando que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, convocou Frederico Meyer para consultas e que ele retornará ao Brasil amanhã.
Na nota, o ministério também informa que o chanceler brasileiro convocou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para comparecer nesta segunda-feira ao Palácio do Itamaraty, no Rio, onde Mauro Vieira está participando da reunião do G20.
A convocação do embaixador por Lula marca mais um episódio do impasse entre os dois países desde que o presidente Lula intensificou suas críticas ao massacre de palestinos pelas forças militares israelenses, comparando a situação em Gaza às atrocidades cometidas por Hitler contra os judeus na Alemanha nazista.
Com o retorno de Meyer ao Brasil, a embaixada em Israel será comandada por um encarregado de negócios. Antes do anúncio da convocação do embaixador brasileiro, na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, chegou a anunciar que Lula se tornou persona non grata no país.
“A comparação feita pelo presidente do Brasil, @LulaOficial, entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que exterminaram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória dos que foram mortos no Holocausto. Não perdoaremos, nem esqueceremos – em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, declarei ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que ele se desculpe e reconsidere suas palavras”, afirmou o ministro em sua conta oficial no Twitter.
A decisão, que na prática poderia impedir Lula de viajar para o país por não ser considerado bem-vindo lá, foi considerada absurda pelo assessor de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, que comentou sobre o assunto ao chegar no Palácio ao jornal O Globo.
De acordo com O Globo, a reação de Israel tem causado desconforto na diplomacia brasileira, que avalia que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pode estar buscando capitalizar politicamente o episódio em meio à crise de popularidade que enfrenta em seu próprio país.
‘Persona non grata’
O termo persona non grata (“pessoa não bem-vinda”, em tradução livre do latim) é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo em um país. A nomenclatura foi descrita no artigo 9 da Convenção de Viena, um tratado assinado em 1961 que regula as regras de relações diplomáticas a serem seguidas pelos países, ao qual o Brasil aderiu. Em tese, essa definição se aplicaria apenas ao corpo diplomático de um país estrangeiro e não a um chefe de Estado. Na prática, no entanto, isso poderia impedir o presidente Lula de eventualmente viajar para Israel, mas não deveria trazer outras consequências mais graves para o Brasil além do dano à imagem de Lula perante o governo israelense.