Morte de Ibrahim Raisi
Ibrahim Raisi, presidente do Irã, faleceu num acidente, no dia 19 de maio de 2024. O helicóptero que ele passageava caiu em local de difícil acesso. Historicamente, o Irã se viu envolvido em conflitos com Israel e Estados Unidos da América. Mas, para entender ou estimar o impacto da morte deste líder global, calha à […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
Ibrahim Raisi, presidente do Irã, faleceu num acidente, no dia 19 de maio de 2024. O helicóptero que ele passageava caiu em local de difícil acesso. Historicamente, o Irã se viu envolvido em conflitos com Israel e Estados Unidos da América. Mas, para entender ou estimar o impacto da morte deste líder global, calha à fiveleta tecer algumas considerações. O mundo, hodiernamente, parece estar diluído ou, para usar um termo melhor, multipolarizado. No entanto, não nos enganemos com as aparências. Duas são as grandes potências mundiais: Estados Unidos da América e China. No passado, a relação era outra: Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Os demais países, ou estavam alinhados com os ianques, ou estavam alinhados com os soviéticos. E havia um terceiro grupo, o dos não alinhados. A Rússia, que aqui no Ocidente é supermalvista, pode ser classificada como vítima, ou como eixo de poder que resiste à dominação. A França sob Napoleão Bonaparte tentou invadir a Rússia, e não conseguiu. Algo parecido houve com Hitler, que perdeu a batalha em Stalingrado, para onde soldados russos eram levados e morriam como insetos. Agora a OTAN quer empurrar para dentro a fronteira russa, o que justifica a guerra na Ucrânia. A queda de braço “Estados Unidos da América versus China” se replica em todo o planeta. No leste europeu vemos o prolongamento do embate destes dois gigantes pelo par de satélites Ucrânia e Rússia, enquanto no Oriente Médio os protagonistas são Israel e Irã. Os Estados Unidos ainda subordinam ou cativam a si a Europa e a América Latina. É neste contexto que vai a óbito a liderança iraniana acima nominada. Não por acaso, assim que foi confirmado o fato fortuito, o vice-presidente do Irã agendou uma reunião emergencial. Por enquanto, o vice-presidente responde pelo país, e dentro de cinquenta dias devem ocorrer novas eleições. Embora o falecido mandatário fosse, simultaneamente, teocrático e populista, nada exclui que seja eleito, doravante, um candidato de uma ideologia política diferente, alterando as cláusulas de acordo e cooperação, impactando a correlação de forças em nível geopolítico. Nestas eleições os iranianos não vão sopesar o seu voto olhando apenas para dentro de casa, mas o entendimento que o eleitor fomenta acerca do conflito israelopalestino certamente influirá nas urnas. O simples fato, por exemplo, de o Irã fornecer/vender turbinas para aumentar o volume da produção de gás russo, o simples fato de o Irã comprar armamento russo, influi no conflito russo-ucraniano, tendo em vista o custo operacional militar. O território iraniano também é um ponto estratégico pela sua posição geográfica, ideal para instalação de bases militares. O Irã se destaca também como o terceiro maior produtor de petróleo da OPEP. Isso situa o país no mais alto nível dentre os países detentores de recursos energéticos. O Irã ainda é peça-chave no panorama dos países árabes. Ele é um país de referência para aqueloutros de similar cultura. Sabemos que, no processo de globalismo, o mundo árabe, pari passu, vem galgando relevância cada vez maior. Logo que foi noticiada a morte de Ibrahim, Israel se manifestou afirmando que não tinha relação alguma com o episódio. Num campo de tensão política, social e psicológica tão extremada como este, nunca saberemos ao certo se a queda da aeronave foi uma fatalidade, ou se foi provocada. Não podemos subestimar a incompatibilidade de interesses e vieses. É preciso que cultivemos uma cultura de paz, transversal, do mais singelo trabalhador à mais alta liderança política. O modelo chinês conseguiu se reestruturar e prosperar pela adoção de economia de mercado. Esta é uma lição para nós, ocidentais: seria o caso de mesclar alguns princípios sociais com a livre-iniciativa. Devemos mudar o foco, centrado em buscar fazer prevalecer um padrão em desfavor do outro, e partir para a composição, consistente em cooperação e transigência calculada. Num contexto de crises de liderança, em que as nações não possuem vínculos fortes com os seus representantes, fica difícil costurar acordos de paz em nível internacional. A solução das nossas diferenças implica mantermos vivas as figuras de prospecção política. Paz e vida são luz!