MrBeast

A maioria dos meus leitores deve conhecer o youtuber e jovem milionário MrBeast. Ele é o protagonista da plataforma YouTube mais bem-sucedido em audiência e arrecadação. Acho o moço bem simpático, e nada tenho contra ele. Todavia, quero comentar a respeito dos meios que ele emprega para galgar seu êxito. Em linhas gerais, dois são […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

A maioria dos meus leitores deve conhecer o youtuber e jovem milionário MrBeast. Ele é o protagonista da plataforma YouTube mais bem-sucedido em audiência e arrecadação. Acho o moço bem simpático, e nada tenho contra ele. Todavia, quero comentar a respeito dos meios que ele emprega para galgar seu êxito. Em linhas gerais, dois são os métodos pelos quais ele edifica sua fortuna: promessa em dinheiro se o participante do desafio cumprir uma meta, e destruição de bens no seu valor econômico ou de uso. As exibições oscilam desde a destruição de uma casa por toneladas de fogos de artifício, até jogar um trem dentro de uma cratera aberta para tal fim. Como se o dinheiro, como se diz, “desse em árvore”. Não raro, as duas metodologias são mescladas. A crítica que faço é esta: esse dinheiro que cobre o adimplemento das promessas aos vitoriosos sai do nosso bolso. São as nossas visualizações que incentivam os anunciantes a patrocinar esse esbanjamento de recursos. Do ponto de vista físico, o que há é destruição de recursos econômicos. Mas para a cultura econômica intrínseca à exibição, o que importa é que a sistemática “se paga”, ou seja, a entrada de dinheiro supera o custo que ela implica na execução dos aludidos exibicionismos. Isto significa, que a única coisa que importa, ou o que mais importa, é o saldo bancário, o número que aparece num extrato impresso por uma máquina. Viva o valor econômico, pereça o valor de uso! Outra observação que pontuo é esta: esse programa reforça a ideia, bastante presente na cultura norte-americana, de que o marketing possui poderes mágicos. O ser visto, em última análise, é a mercadoria que este MrBeast vende e, com ela, fatura alto. Contudo, veja-se que, a rigor, o marketing deveria ser apenas um meio e não um fim em si mesmo. Nós perdemos de vista que a publicidade e visibilidade de algo tem o condão de tornar um bem desejável. Entrementes, agora nos vemos num outro patamar: o comercial não divulga a mercadoria, a divulgação já é a mercadoria em si mesma. Com efeito, Pierre Bourdieu observa que o capital simbólico pode se converter em capital econômico e vice-versa. E é isto, exatamente, que se faz neste canal. Esses vídeos são assistidos por todo tipo de pessoas, acriticamente, inclusive e sobretudo por crianças. Minha preocupação é esta: nossos filhos precisam aprender que, ganhar dinheiro, não é tão fácil segundo a impressão que é passada ali. E, tão importante quanto saber ganhar dinheiro, é conservar aquilo que já se conquistou e edificou. Se alguma lição pode ser extraída desse programa, ela consiste nisto: destruir é muito mais fácil do que construir. O programa também peca no sentido de agredir o meio ambiente, quando a hora já é mais do que chegada, de colocarmos a mão na consciência e passarmos a respeitar a obra do Criador. Não desdizendo uma linha do que acima escrevi, fico feliz que o protagonista deste programa seja benfeitor, canalizando parte dos recursos que aufere para obras sociais, de caráter educativo e filantrópico. Os vídeos ainda podem se prestar à aquisição de conhecimento para quem é bom observador. Certos “experimentos” que são realizados aliunde, nos dão a noção de certos resultados, consectários à causa eficiente, nem sempre previsíveis no plano puramente mental ou teórico. Deveras, o mundo empírico é o meio que nos possibilita formular o conhecimento. E ele precisa ser agitado para se mostrar como se comporta. Entre pontos positivos e outros nem tanto, como qualquer outro conteúdo que se veicula na rede mundial, também esse acervo de dramatizações pode ser explorado para fins pedagógicos. Excepciono, apenas, que MrBeast se serve de multimídia, enquanto este modesto crítico fica limitado ao texto escrito. Aliás, o entretenimento, ao que parece, casa mais com hipertexto, ao passo que uma produção de alto nível conceitual parece se deparar com alguma dificuldade quando o assunto é a otimização dos meios de expressão. Então uma circunstância técnica desfavorável parece traçar a linha de separação entre a consumerista indústria de cultura e a cultura de alta qualidade, de inexpressiva saída, do ponto de vista meramente numérico. Considerei importante escrever sobre aquilo que o seu filho vê e você nem liga. Luz!