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Nunca é tarde

90 anos

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Notícia de 20 de agosto de 2017 informava que, a britânica de 90 anos, Joy Gibson, já acumulava cinco diplomas e se punha em marcha à busca do sexto. O mais interessante de tudo é que, até os 59 anos de idade, ela jamais pisara numa universidade. Outra manchete, esta de data recente, de 18 de dezembro de 2024, anunciava que a norte-americana  Annette Roberge, por coincidência também de 90 anos, colou grau em administração de empresas pela Southern New Hampshire University.

E para que fique bem claro que esses fenômenos, não tão insólitos, não são prerrogativa de estrangeiros, selecionei um caso do Brasil. Maria José, de 74 anos, segundo notícia de 16 de dezembro de 2024, da OCP News, apresentou TCC em Ciências Jurídicas, perante a Faculdade Gamaliel, no Município de Tucuruí, no Pará. Ilustram bem, estes exemplos, uma radical mudança de perspectiva do que é ser pessoa idosa.

A pessoa idosa não precisa e não deve ficar encalacrada em casa, nos seus “aposentos”, como sugere o termo “aposentadoria”, nem tampouco, como vejo muito em Florianópolis, passar o dia todo parado na praça. Sim, concordo que a pessoa tem o direito de firmar a predileção pelo ócio. Contudo, percebo muitos idosos em ócio forçado, simplesmente por não vislumbrarem melhores alternativas.

Por conseguinte, o estudo se mostra como excelente opção. Sobretudo hodiernamente, em que assistimos a uma oferta abundante, diversificada, num padrão de custeio mais viável do que em qualquer outra época. Com o aumento da possibilidade de se ver pego pelo declínio cognitivo, em razão da idade, o estudo é um apetecível antídoto a processos demenciais e similares. Se o curso for presencial, a vantagem intelectual é alçada pelo convívio social, tão necessário em todas as etapas da vida, principalmente na reta final da existência.

O que aqui descrevo não é um processo unilateral. O idoso tem a receber, não obstante, tem muito a contribuir. Esse conjunto heterogêneo, que mescla pessoas de idades e gerações diferentes, é um campo rico em trocas de informações, vivências e mentalidades.

O envelhecimento é um processo não só social e cultural, mas ainda biológico. No entanto, os casos retromencionados fazem prova de que o cérebro é plástico e adaptável, o que nos permite dessumir que ser velho é um estado de espírito ou um modo de enxergar a si próprio. Temos jovens de 80 anos de idade e velhos com 20. O de que uma pessoa precisa, às vezes, é de um apoio externo.

E, no passado, nenhuma instituição estava habilitada a ofertar este suporte. A universidade pode cumprir este papel. A universidade de agora exibe um perfil hiper-humanizado. E para quem não quer entrar de cheio numa graduação, instituições várias, como as integrantes do sistema s, trabalham com cursos técnicos, inclusive, independente de idade, inserindo os alunos egressos no mercado de trabalho.

A felicidade do indivíduo está fortemente atrelada ao conceito que a pessoa tem de si mesma. O êxito nos estudos fomenta uma autoestima positiva. Não existe uma ordem predeterminada de acordo com a qual devemos estudar, trabalhar e casar.

Diante de nós descortinam-se não apenas caminhos, mas a possibilidade de sermos pioneiros e construirmos a nossa própria rota. Para quem já havia dado como encerradas todas as empreitadas existenciais, quem sabe, 2025 venha a ser o ano da grande reviravolta.

Não é um desafio vaidoso e puramente humano, mas essencialmente espiritual. O próprio Cristo afirmou que veio buscar o que estava perdido. O sedentarismo físico é reflexo de um sedentarismo anterior, o mental. Chame-se do que quiser, mindfulness, pensamento positivo, metanoia, tudo isso insta conosco para que protagonizemos a mudança, essa coisa bela, que consideramos hedionda, entrementes, absolutamente imprescindível. Mudança é luz!